Como fazer a avaliação diagnóstica nos Anos Finais do Ensino Fundamental
Especialista e educadores compartilham experiências e sugestões para realizar a verificação inicial das aprendizagens e das necessidades dos alunos
PorPaula Salas
16/02/2022
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Jornalismo
PorPaula Salas
16/02/2022
A avaliação diagnóstica deve identificar as lacunas e os avanços nas aprendizagens dos alunos. Na volta às aulas, especialmente, traz informações essenciais para o professor planejar os passos seguintes, mas ela deve ser uma constante durante todo o ano.
“Ela deve acontecer várias vezes. A cada novo trabalho ou objeto de conhecimento precisamos de um diagnóstico”, diz Kátia Chiaradia, professora e integrante do Time de Formadores de NOVA ESCOLA. Ela salienta a diferença entre essa avaliação, que ocorre no início de cada sequência de atividades, e a avaliação processual que acontece durante.
Essa avaliação não tem um formato único. Ela pode ser pensada em estilo de jogo, com metodologias ativas, roda de conversa, ou até ter um modelo mais próximo das provas. Cada escola, rede de ensino e professor tem sua forma de fazer. O fundamental é garantir a coleta de informações que vão permitir traçar o perfil da turma, o que os estudantes já sabem e o que ainda precisam desenvolver. Esses dados serão utilizados posteriormente para orientar o planejamento.
Se já era importante no início de qualquer ano, neste 2022, que terá a recomposição de aprendizagens como um dos grandes focos, uma boa avaliação diagnóstica é essencial.
“Não tem como planejar a recomposição sem medir como os alunos estão. O professor precisa construir caminhos para fazer esse perfil inicial da turma e planejar o ano”, defende Eryck Dieb, formador na área de linguagens e coordenador dos anos finais do Ensino Fundamental na rede municipal de Pindoretama (CE).
Educadores compartilham três pontos fundamentais
Durante o ano, o professor Ailton utiliza as avaliações diagnósticas a cada início de projeto ou temática. Para fazer essa verificação no início do ano, ele usa a estratégia de rotação por estações. Os principais pontos que ele observa nesse momento são a concepção dos estudantes do que é História, os conhecimentos prévios e o repertório cultural que eles têm.
Este ano, ele está com uma turma de 6º ano. O educador dividiu a sala em quatro estações. Uma delas para debater política e as expectativas dos alunos para a eleição; outra sobre esporte, em vista da Copa do Mundo; a terceira para conversar a respeito de produções culturais e novidades; e uma última estação para discutir a pandemia e o que pensam em relação ao futuro.
Em cada uma, havia um aluno voluntário para conduzir a conversa, que foi orientado previamente pelo professor. “Eu senti que, quando eles falavam de política, faltava fundamentação histórica, tinha muita questão de fake news. Por isso, pensei em fazer um projeto sobre representatividade a partir do que vi nessa estação”, conta o educador.
Além desse momento de conversa, também há uma parte escrita em que ele oferece alguns textos e reportagens ou documentos históricos para trazer questões que mobilizem os conhecimentos prévios dos alunos. “Eu ofereço um contexto com informações [importantes] e faço perguntas para ver o que eles entendem ou coloco um vídeo e peço para que analisem”, exemplifica Ailton.
Em Pindoretama (CE), a partir de conversas com os docentes do município, foram levantadas as aprendizagens que precisavam ser verificadas com as turmas de cada ano. “Cada professor falou o que ficou faltando e quais as habilidades que precisam ser reforçadas", diz Eryck.
A volta às aulas na rede foi no formato remoto, por isso o diagnóstico também foi a distância. Na retomada presencial, que deve acontecer no fim de fevereiro, será dada a oportunidade de fazer a avaliação para quem não conseguiu realizá-la por problemas de conectividade.
A avaliação foi dividida em três partes: social, socioemocional e cognitiva. A social, aconteceu no momento da rematrícula, a partir de um formulário preenchido pelas famílias sobre a disponibilidade de equipamentos tecnológicos nas casas e outros aspectos socioeconômicos. Em sala de aula, haverá um diagnóstico socioemocional.
“Queremos entender como o aluno está, como foi estudar remotamente, quais foram as angústias. Era algo que já fazíamos durante as aulas, mas nunca nesse formato de ter uma conversa [com toda a turma]”, explica Maria Rosiane Santos, professora de Língua Portuguesa na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Pedro Ricardo Da Silva. Ela conta que será um momento de troca para estimular o apoio, reconhecimento e empatia entre os colegas.
Na cognitiva, em Língua Portuguesa, por exemplo, o diagnóstico considerou três aspectos: fluência leitora, produção textual e compreensão de gêneros textuais. Para avaliar a fluência leitora, os alunos receberam um texto e devem gravar um áudio lendo o material.
O professor, a partir de determinados critérios, faz a avaliação de como está a leitura daquele aluno. A produção textual foi baseada em um tipo de texto – o das turmas de 6º ano foi o detonado, gênero digital proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na compreensão dos gêneros textuais, o aluno tinha que identificar o tipo de texto e a função dele.
Já a parte de Matemática verifica o domínio das quatro operações e a resolução de quatro situações-problema. Os demais componentes curriculares também foram contemplados na avaliação. Foram selecionadas questões de múltipla escolha a partir da seleção das habilidades prioritárias do ano anterior ao que os estudantes cursam.
Miriam Kelen Ribeiro Alves, professora de Matemática de anos finais na rede estadual do Mato Grosso do Sul, ainda aguarda a convocação da nova escola para saber quais turmas terá este ano. Por isso, a avaliação inicial é ainda mais importante, já que não conhece os estudantes. “O diagnóstico ajuda a saber o que o aluno tem de conhecimento e as habilidades que possui”, afirma.
Para fazer essa verificação, ela costuma utilizar diversos formatos. Este ano, planeja propor para as turmas atividades mesclando exercícios e situações-problema para mapear se os alunos dominam as quatro operações e entender a forma que eles pensam. “Eu sempre coloco também um desafio matemático para entender o raciocínio lógico deles”, conta a educadora.
Por não ter o histórico do ano anterior, ela prepara as atividades levando em consideração as habilidades prioritárias do ano anterior e conteúdos que são pré-requisitos para o ano em que os alunos estão.
Apesar de já ter em mente o formato, ela vai elaborar a avaliação após uma primeira conversa com os alunos. “Eu me apresento, falo da minha forma de trabalhar e busco conhecê-los enquanto vou colocando os conteúdos [que deveriam ter sido aprendidos no ano anterior]. É uma revisão e conversa”, relata Miriam.
O que verificar?
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Os educadores concordam que, para planejar essa avaliação diagnóstica, o professor deve levar em consideração as habilidades do ano anterior que são essenciais para o andamento do ano atual. Dessa forma, ele irá verificar o nível de entendimento dos alunos e direcionar o trabalho. Por exemplo, elencar quais aprendizagens do 5º ano são pré-requisitos para o 6º ano. Eles indicam os Mapas de Foco, elaborados pelo Instituto Reúna, como um documento orientador deste trabalho aliado ao próprio currículo da escola.
Kátia Chiaradia, do Time de Formadores de NOVA ESCOLA, compartilhou uma sistematização que fez, a partir dos Mapas de Foco, que une os diagnósticos com habilidades prioritárias de cada componente em cada ano do Ensino Fundamental. O material pode ajudar a organizar o que os alunos já sabem e o que ainda precisam se aprofundar para incluir no planejamento. Conheça a ferramenta gratuita aqui
Independentemente do seu formato, a avaliação diagnóstica deve ser utilizada como norte para guiar o trabalho pedagógico. “Elas não podem ser feitas e esquecidas. Os professores e gestores devem trabalhar em cima, tirar algo delas. É como um processo de pesquisa para entender toda a comunidade escolar [os aspectos sociais das famílias e o cognitivo e emocional dos alunos]”, destaca a professora Maria Rosiane.
No caso da rede municipal de Pindoretama, a Secretaria de Educação realizará a consolidação dos resultados. “Faremos um estudo do perfil social, cognitivo e afetivo de cada turma, escola e de toda a rede”, explica Eryck. Além disso, os professores são responsáveis por dar uma devolutiva para os alunos e utilizar os insumos para planejar as próximas atividades. “O feedback é importante para que o aluno saiba como está, quais seus pontos fortes e onde pode melhorar”, completa a professora da EMEIEF Pedro Ricardo Da Silva.
Os resultados também ajudam o educador a otimizar o tempo. Por exemplo, não se debruçar em um assunto que toda a turma já domina. “Eu sempre faço revisão, mas o diagnóstico me norteia nos conteúdos que tenho que retomar [e dedicar mais tempo]”, conta Miriam. A partir dessas atividades e da conversa inicial com a turma, a professora constrói uma tabela consolidando as habilidades que precisa trabalhar e aquelas que eles já dominam. Com esse perfil em mãos, pensa nas melhores estratégias para aproximar os estudantes da Matemática.
O professor Ailton utiliza essas informações para aproveitar os interesses dos alunos e traçar relações com o seu componente. Se ele identifica que a turma gosta de determinado desenho animado, por exemplo, ele pode pensar em um projeto inspirado nessa referência que permita desenvolver habilidades previstas para aquele ano. “Penso meus projetos em cima disso para motivar os estudantes. Meu desafio é pegar essas referências e fazer o link com o meu currículo de História.”
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