O que é a cultura da infância e como garantir os direitos de aprendizagem na prática?
Neste Dia das Crianças reflita sobre como promover o desenvolvimento dos pequenos ao valorizar a cultura infantil
PorAline Naomi
05/10/2021
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Jornalismo
PorAline Naomi
05/10/2021
Os pequenos associam o Dia das Crianças, muitas vezes, a ganhar presentes e comemorar. Para os professores, pode ser o momento de refletir sobre o trabalho pedagógico que é realizado durante a primeira infância — período que vai até os 6 anos — e no seu papel na valorização da cultura da infância e na garantia dos direitos de aprendizagem previstos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de Educação Infantil.
Para começar, é preciso entender o que são as culturas das infâncias — termo utilizado no plural, por conta da diversidade racial, social, cultural e econômica das crianças em diferentes territórios e tempos históricos. Ana Claudia Leite, pedagoga e consultora de Educação e Cultura da Infância no Instituto Alana, aponta que existem três aspectos dentro dessa perspectiva: aquilo que é produzido pela criança; o patrimônio cultural da infância; e as produções de adultos que dialogam com o público infantil.
No primeiro, a especialista destaca que o pequeno também é um sujeito que produz sua própria cultura e expressa sua percepção do mundo e do outro por meio das narrativas que constrói. “A criança tem um modo próprio de perceber a vida e é através das múltiplas linguagens que ela produz cultura, assim como os adultos e os jovens. Essas linguagens seriam o desenho, as modelagens, as esculturas, a fala, as brincadeiras”, explica.
O segundo aspecto se refere às brincadeiras, histórias, cantigas e músicas criadas ao longo da história em diferentes lugares. Elas são apresentadas às novas gerações de forma material, como é o caso dos brinquedos, ou imaterial através da tradição oral. Por fim, o terceiro “são as produções de teatro, de artes plásticas, de shows, de músicas que têm um caráter cultural, de uma experiência artística, e não de um consumo”, exemplifica Ana Claudia.
A cultura da infância e a BNCC
A BNCC estabelece seis direitos de aprendizagem na Educação Infantil, sintetizados em seis verbos de ação: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Eles servem como uma bússola para o professor planejar propostas que valorizem a cultura da infância.
Ana Claudia explica que o educador tem o papel fundamental de trazer o repertório dessa cultura — seja da localidade, do Brasil ou até mesmo de outros países — e propiciar o brincar livre. “Essa é, talvez, a maior atribuição dos educadores e adultos, que é possibilitar as crianças a viverem a infância da melhor forma. Isso significa que elas devem ter condições de espaço, de tempo e de materiais para se expressarem em liberdade”, afirma.
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Adriana Friedmann, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento (NEPSID), explica que as brincadeiras são fundamentais para que a criança se expresse. “O brincar vai ser o primeiro canal que precisamos oferecer neste momento para que a criança possa se expressar, colocar para fora suas emoções e tudo que ela está sentindo”, afirma a especialista.
Conforme a criança vai se desenvolvendo, seu brincar passa a ser mais organizado e isso ajuda em um desenvolvimento integral e saudável. “[Nesse momento,] o educador tem um papel importante de criar condições para esse brincar ser cada vez mais criativo e potente. Ele faz isso organizando o espaço, trazendo materiais [diversificados] e garantindo um tempo para esse brincar”, explica Ana Claudia.
Como garantir os direitos na prática?
Entenda como garantir essas aprendizagens na retomada presencial
O retorno das atividades presenciais trouxe consigo um grande desafio para a Educação Infantil: propor atividades que garantam o desenvolvimento integral da criança levando em conta todos os protocolos de biossegurança, como o distanciamento. Por conta disso, tornou-se ainda mais necessário usar a BNCC como um norte para a proposição de dinâmicas entre as crianças.
Em sua coluna, Evandro Tortora, professor de Educação Infantil, reforça a importância de pensar em atividades de qualidade, ainda que existam as restrições colocadas pelos protocolos sanitários.
Educação Infantil na pandemia
No Centro de Educação Infantil Espaço da Criança, em Joinville (SC), a professora Marilei Chableski relata dificuldades com as interações entre as crianças e com a exploração dos materiais durante a retomada presencial das atividades. “Você tem que organizá-los separadamente, de forma mais individual, tem que higienizar todos esses esses materiais”, explica.
Jusiara Fumache, educadora no Centro Municipal de Educação Infantil Curió, em Itatiba (SP), também enfrenta o problema compartilhado por Marilei. “Colocavamos um brinquedo em cada mesinha e a criança poderia brincar com aquele brinquedo. Só que fomos percebendo que os pequenos não estavam felizes assim. Elas ficavam olhando para o colega do lado e observando o outro brincar”, relembra.
A saída foi colocar duas crianças por mesinha para que houvesse alguma interação, mas garantindo sempre o uso de máscaras e o distanciamento. Adriana destaca que é fundamental criar esses combinados com a criança, de forma lúdica e sem imposições. “Não é só chegar com essas normas de cima pra baixo, mas como [na linha de] ‘vamos entender juntos’, e trazê-las para construir junto”, explica.
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Isso é o que as professoras da escola de Marilei buscam fazer. “Escutam a demanda ou a curiosidade da criança e vão fazendo provocações, propondo algumas experiências para ela, por si só, fazer suas descobertas”, exemplifica a educadora. Adriana ressalta que é importante estimular esse impulso explorador. “Crianças são pequenos pesquisadores, então temos que propor atividades, de preferência lúdicas, que elas tenham prazer [de realizar], e acolher o que elas trazem”, afirma a especialista.
Outro ponto importante para o momento de retomada das atividades presenciais é dar preferência a espaços abertos que promovam o contato com a natureza. Jusiara conta que leva sua turma ao pátio (ou ao parque) e propõe brincadeiras adaptadas para as restrições da pandemia. “Fazemos atividades em que não precisa encostar no outro. Vamos supor, uma roda, só que sem dar as mãos”, exemplifica a professora.
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Caso a escola não disponha de espaços abertos com presença da natureza, Adriana sugere pensar a possibilidade de criá-los, plantando em pequenos vasos e explorando os ambientes da escola de outra forma. “E tudo isso através da brincadeira. As crianças entendem perfeitamente, é só conversar. Construindo junto, a brincadeira se torna absolutamente possível e necessária”, finaliza.
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