Fotografias que inspiram contos
Produzir textos sobre imagens articula as linguagens verbal e não verbal
01/07/2014
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo! Cadastre-se ou faça login
Compartilhe:
Jornalismo
01/07/2014
"Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração", costumava dizer o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004). A frase mostra como esse pequeno recorte de luz, que registra fatos e desperta memórias, está sujeito à interpretação de quem o observa. Que tal colocar seus alunos para escrever com base nesse material? Foi o que fez Erica Santos, da Escola da Vila, em São Paulo. Depois de apreciar várias fotos, a garotada do 8º ano foi convidada a analisar uma imagem de Bresson e criar uma história para ela - a professora também já propôs o trabalho inicial com um registro do norte-americano Steve McCurry.
A turma já tinha trabalhado com esse tipo de material e conhecia procedimentos de leitura de fotografias. Além disso, Erica lançou perguntas que fizeram os estudantes refletir sobre o que era visto. "O desafio é olhar para a foto e tirar dela uma narrativa, pensando em que portas ela abre para o mundo ficcional. Pode sugerir um personagem ou um acontecimento. Com essa sugestão, o aluno cria sua produção", comenta Aline Evangelista, coordenadora da área de Língua Portuguesa e Literatura da Escola da Vila.
A proposta é uma alternativa às práticas mais tradicionais de articulação entre a linguagem verbal e não verbal, como as sequências didáticas sobre mensagens publicitárias. "A escola precisa pensar em situações como essa, que conjugam a leitura de imagem e texto, pois isso está muito presente na vida do mundo contemporâneo", afirma Manuela Prado, docente do Colégio Santa Cruz, em São Paulo. Esse tipo de projeto ainda permite que a turma produza escritas de autoria e entre em contato com a linguagem literária, construindo significações para o que lê. Também possibilita refletir sobre os tipos de narrador existentes - afinal, a foto coloca em evidência um foco narrativo determinado.
Renovação de votos
(...) Quando chegamos, a fila já estava enorme. Esperamos pacientemente na fila e nossos lábios teimavam em se curvar e nossos olhos, a brilhar um para o outro. Chegou, então, a nossa vez e entramos de mãos dadas na imensa plateia. Encontramos nosso lugar e aguardamos. Finalmente, o espetáculo começou. E eu me surpreendi a cada momento, a cada segundo, como se eu não tivesse visto essa mesma apresentação há exatos 20 anos.
Jíulia Poltronieri
Toda foto guarda uma história
Inicialmente, Erica avisou que todos produziriam um livro de contos e imagens ao fim do trimestre. Também explicou que precisariam definir alguns pontos sobre os textos: "Onde está o narrador? Quem é ele? Qual personagem será o principal? Qual a trama da minha narrativa?". Depois da escrita inicial, a garotada compartilhou impressões: quem conseguiu criar? Quem ficou só na descrição? Em seguida, veio uma sequência de contos redigidos com base em imagens feitas pelos próprios estudantes. Elas tinham sido produzidas nas aulas de Arte. Se um trabalho interdisciplinar não for possível, vale propor que a garotada fotografe, com câmeras ou aparelhos celulares, o interior ou o entorno da escola. "Os estudantes devem ser motivados a ficar atentos aos detalhes na observação do ambiente para fazer um bom registro", sugere Liliane Gomes Falcão, professora da Escola de Aplicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Outra ideia é apresentar textos semelhantes. Manuela indica o livro Por Trás Daquela Foto (Lilia Moritz Schwarcz e Thyago Nogueira [org.], 184 págs., Ed. Companhia das Letras, tel. 11/3707-3500, 39 reais).
A classe de Erica podia escolher entre escrever novos textos ou reescrever a primeira versão. As produções deveriam usar narrador onisciente, em primeira e na terceira pessoa. As reflexões sobre a Língua Portuguesa permearam todo o trabalho. Cada escrita era intercalada com leituras literárias, em que todos os estudantes discutiam o foco narrativo e as particularidades de cada narrador. "Fizemos várias leituras. Nesses momentos, os alunos tinham de olhar para as nuances do texto, prestando atenção nas formas de contar a história", diz a docente.
A turma leu Capitães da Areia (Jorge Amado, 296 págs., Ed. Companhia das Letras, 41 reais) e o conto A Caolha, de Júlia Lopes de Almeida (Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, Italo Moriconi [org.], 622 págs., Ed. Objetiva, tel. 21/2199-7824, 73,90 reais), entre outros, em situações de leitura autônoma, como lição de casa, e compartilhada, em sala.
A professora também aproveitou as leituras para problematizar conteúdos como a sintaxe e a pontuação. A garotada ainda analisou várias formas de apresentar os personagens e estratégias de manipulação do enunciado. Todos escreveram, testaram diferentes escritas e reescreveram, sempre com um objetivo definido. Num momento, a ideia era escrever de forma a sugerir muito e explicitar pouco. Em outro, o objetivo era descrever detalhadamente características da narrativa em função das reações que os alunos queriam produzir no leitor.
Esse processo foi acompanhado de situações de revisão. Erica ofereceu pautas nas quais cada estudante deveria observar tópicos como a concisão da narrativa e o tempo verbal (um erro comum da turma era mudar o tempo verbal durante o conto). O grupo também analisou um texto produzido no ano anterior para o mesmo projeto. Os alunos ainda trocaram as produções entre si e leram o texto uns dos outros, em alguns momentos a convite da professora e em outros por iniciativa própria. "Ao longo de todo o Ensino Fundamental, incentivamos a autonomia de ler e opinar, o que leva a esse tipo de situação", comenta a docente. Ela avaliou duas escritas: a primeira e outra, à escolha de cada um, no fim do projeto. Nessas ocasiões, ela apontava problemas de sintaxe, ortografia e coerência, e a garotada escrevia uma nova versão do trabalho.
A última produção foi temática: "Minha primeira vez", em que os estudantes deveriam escrever sobre qualquer experiência pessoal. Ao fim da discussão e do processo de revisão, esses contos foram incorporados ao livro produzido pela classe com as imagens que os inspiraram.
Depois de uma longa tarde em uma tentativa de agradar minha ex-esposa, caminho pelo túnel maremoto no centro de São Pedro, sem rumo e data para voltar. Enquanto vagueio pela grande cidade vejo pessoas, carros e aviões seguirem seus próprios rumos em uma visão lenta e triste como se o mundo tivesse ficado cinzento e sem graça, sem animação. (...)
Pedro Abrãao
1 Imagem que inspira Sugira a produção de um conto com base em uma foto. Lance questões como: "O que vocês veem?" e "O que é retratado?", para que a turma extraia daí um personagem ou acontecimento.
2 Escrita e reescrita Proponha a produção de novos contos, com base em fotos produzidas pela própria classe.
3 Reflexão sobre a linguagem Indique leituras literárias para levar a turma a refletir sobre os aspectos formais da língua, como a questão do foco narrativo e os tipos de narrador.
4 Momentos de revisão Ofereça pautas de revisão para a garotada analisar seus textos. Vale chamar a atenção para tópicos como concisão, tempo verbal e foco narrativo.
A primeira vez
Beatriz S. de Mattos
Deve ter sido a melhor sensação da minha vida. Pelo que me lembro, realmente foi. Tinha acabado de voltar da escola, e de acordo com os jornais daquela época, era um dos dias mais quentes do século. Durante a manhã, digamos que aprendi matemática dentro de forno à lenha. Eu sempre fui um garoto "fresco", podemos dizer. Não comia isso, não comia aquilo, não bebia nada além de suco de caixinha, e por sinal, eu já havia bebido a minha durante o recreio. Aquele dia foi uma pré-visita ao inferno. Porém esse calor que me salvou. Como dizem? Há males que vem para bens.
Cheguei em casa com a garganta áspera. Como se tivesse areia descendo por ela, se é que da para imaginar. Disparei para cozinha, onde minha mãe estava cozinhando, passei por ela e voei na porta da dispensa. Corri os olhos pelas prateleiras. Não havia suquinhos. E não há nada que eu agradeça, mais do que isso. Minha língua estava começando a secar, produzindo aquela baba inútil, em uma tentativa desesperada de saciar minha sede. Uma gota de suor escorreu pela minha testa, enquanto o calor pesava sobre minhas costas. Qualquer outra bebida sem ser meu suquinho era uma idéia repugnante. Já estava tonto e delirando.
Caminhei cambaleando pela cozinha, e quando levantei os olhos sobre a bancada, me deparei com ele.
Quase que escondido atrás de um vaso de flor. Ele era comprido, transparente, mas havia alguns patinhos desenhados nele, acenando para mim. Ele era um copo, sem sombra de dúvida. Mas, o que havia dentro dele? Estiquei a mão e peguei o copo. revirei um pouco o liquido incolor. Cherei-o. Inodoro. O aperto na garganta voltou. Me desesperei novamente. Um momento de fraqueza.
Virei o líquido pela minha garganta.
A secura sessou. Um frescor desconhecido me inundou. O líquido era doce, mas um doce que não era doce, e sim salgado, mas também não era salgado. Tinha um sabor, sem sabor. Mas era maravilhoso. No instante me apaixonei, e nunca mais pensei em suquinhos.
- Mãe, o que era isso nesse copo?
Ela se virou com uma cara espantada, e disse com prazer,
- Água, meu amor.
Foi a primeira vez que tomei a coisa mais maravilhosa do mundo, o que da vida a todos. Água.
O que diz a professora
Beatriz trabalhou a descrição de forma pormenorizada e criativa para causar surpresa ao leitor.
Avião
Lia Morena Furquim
Era meu nono aniversário, e dessa vez foi meu pai que me buscou na escola. Ele trabalhava grande parte do dia, nunca almoçávamos juntos. Nada de diferente tinha acontecido ainda, pois ninguém lembrara do meu aniversário. Fomos para casa e almoçamos sem tocar no assunto. Estava achando tudo muito estranho até que meu pai disse: "Filho, vamos sair."
Peguei meu casaco e o segui até o carro. Não posso dizer que não tinha suspeitado de nada (que estavam fazendo aquilo porque era meu aniversário), mas estava achando estranho e fiquei curioso, não perguntei nada.
Quando estávamos chegando, reconheci o lugar, pois já havia ido lá. Meus pais ficaram sorrindo um para o outro enquanto eu estava maravilhada, era enorme! Havia vários aviões, era onde meu pai trabalhava, ele era piloto de avião. Eu nunca tinha entrado em um antes, era um dos meus grandes sonhos voar de avião.
Entrar naquele avião foi uma das melhores sensações da minha vida! De lá, víamos uma paisagem incrível. Meu pai voou comigo por uns minutos, minutos que eu nunca irei esquecer.
O que diz a professora
Lia narrou a experiência de entrar em um avião pela primeira vez empregando muitos advérbios e adjetivos.
Nada, simplesmente nada
Giulia de Almeida Valadares
Sempre fazia o mesmo caminho ao voltar da escola. Era perto de minha casa, ia e voltava a pé todos os dias.
As férias chegaram e passaram depressa, logo minha rotina voltou ao normal. Caminhar, ouvir música, não pensar em nada, era o que eu me acostumei a fazer durante o curto trajeto que ligava minha casa à escola. E, um dia, percebi: o prédio que desde sempre estivera em construção, fora finalizado. Era alto, largo, escuro, chuvoso. Um pouco sombrio, talvez. Tinha apenas quatro andares, todos com persianas e luzes friamente amareladas.
Pensei que os apartamentos estivessem à venda, havia uma pequena placa no gramado morto que se encontrava na entrada do edifício. Pensei também que aquela construção nunca se ergueria, pois, antes das férias, era apenas um terreno devastado. Como aquilo surgiu em dois meses?
Peguei-me parada no meio da rua olhando para o lugar. Olhei em volta e todos tinham sua atenção voltada a mim. Estava chamando olhares havia muito tempo?
No dia seguinte, lá estava eu novamente, na mesma posição, encarando aquele prédio. Qual o meu problema? Era aquela sombra no terceiro andar que me prendia? Sombra? Os apartamentos não estavam à venda? Tinha gente morando ali? Nunca tinha visto nenhuma alma viva entrando ou saindo! Aquela sombra era, no mínimo... estranha. Parecia um homem, parado na janela fechada, que não se mexia. Todos os dias estava na mesma posição, nenhum centímetro para direita, nenhum centímetro para esquerda. Como eu sei, eu não sei.
Passei a acompanhá-la diariamente. Não, não tinha nada melhor para uma garota do colegial fazer à tarde. Sentava-me, desenhava, imaginava... O que seria aquilo?
Após quase um semestre, a angústia que crescia em meu peito era inacreditável. Meus pensamentos se concentravam naquela sombra, somente, totalmente e completamente nela. Não conseguiria ignorá-la. Precisava saber o que era, quem seria, se é que era alguém. Mostrei-a para minhas amigas, que não falavam mais comigo, e para meus pais. Queria informações, dicas, pistas. Sentia-me uma Sherlock Holmes. Mas, para minha tristeza, ninguém me ajudou. Disseram que nada havia ali. Minhas ‘amigas’ me abandonaram, alegando que eu andava ‘estranha’, bando de patricinhas, vão fazer o cabelo! Como um dia acreditei naqueles protótipos de Barbie? Bom, para colorir minha vida, meus pais as superaram. Apelando, como sempre, levaram-me ao psicólogo.
- O que vê nesta sombra, Clara? - ele me mostrava fotos da mesma.
- Não sei.
- O que te atrai nela?
- Não sei.
- Não é apenas uma sombra?
- Não sei.
- Bom...Você a observa há quanto tempo?
- Não sei.
- Tem certeza?
- Não sei - joguei meu livro no rosto do psiquiatra. Não aguentava mais aquela voz aguda e irônica, curiosa e metida.
Minhas respostas eram sempre curtas, simples e rápidas, mas eles não desistiram. Apelei pelo uso da agressividade, odiava aquele pequeno espaço branco e sem vida onde me colocavam para conversar com uma pessoa que nem o nome eu sabia. Como castigo, fui proibida de ver ‘minha sombra’. De certa forma, era minha sombra. Não se desgrudava de mim, não vivia sem ela. Apesar de termos formas diferentes, éramos iguais, solitárias.
Como não podia ir vê-la de dia, fugia durante as noites, saía de casa e ia ver a sombra. Tinha uma obsessão por ela. Uma coisa de outro mundo.
Cansada, resolvi extrapolar. Não era mais possível deixá-la como ‘forma não-identificada’. Iria invadir o edifício para descobrir o verdadeiro dono da sombra. E foi o que fiz. Numa noite escura e fria, saí de casa como de costume, mas com algumas pedras grandes e pesadas que peguei no jardim. A calçada era vazia, claro, ninguém além de mim frequentava o local às 3h27 da manhã. Observei a sombra. Continuava lá, intacta, imóvel. Peguei uma das pedras e joguei. A janela não quebrou. Joguei outra, e outra e outra... Nem barulho fazia! Pulei o pequeno portão e entrei, tinha pouco tempo. Era mesmo vazio, deserto. Subi as escadas frias e entrei no apartamento do terceiro andar. Respirei fundo, olhei para a janela. Nada. Nada. Nada. Como assim nada? Não tinha nada ali. Mas eu a via, eu a via! Tinha de ter alguma coisa, qualquer coisa. Deitei-me no chão frio do lugar.
Acordei na minha casa, não sei como. No dia seguinte, fui à aula e, na volta, passei na frente do prédio. Prédio este que não se encontrava ali. Tudo que ali estava era o terreno vazio, como antes das férias, sem sombra. Sem sombra. Lembro- me de que perguntei a todos na rua ‘onde estava o meu prédio?’ e me respondiam com olhares piedosos ‘nunca houve nenhum prédio neste local, me desculpe.’
Era impossível. E a sombra? Para onde fora? Até hoje não sei, e sinto que há um pedaço de mim que se foi com ela. Ou que nunca existiu, assim como ela.
O que diz a professora
Giulia utilizou o recurso da pontuação, elaborando frases curtas e diálogos. Também explorou a descrição.
O cheiro
Gabriel Conishi Cardozo
O menino se chamava Marco. Morava no interior, em uma rua quase despovoada, feia e triste. Nesta rua não se via nada colorido, apenas cinza e cinza e cinza para todos os lados, o que fazia a rua triste ser mais triste ainda. Nela havia apenas três casas, sendo que uma delas estava à venda e, com isso, desabitada. Marco não sabia o que eram as cores, a natureza etc. Em sua realidade só havia cinza e mais cinza e mais cinza.
Mas lá naquela rua também morava um velho. Se ele tinha um nome, Marco não o sabia, pois o velho se reservava muito em sua casa, a qual emanava um cheiro forte e estranho. Só saía raramente para uma caminhada. Era um idoso completamente normal, não havia motivos para temê-lo, porém disso Marco não sabia, o achava estranho, principalmente por causa do cheiro.
Já havia alguns dias que Marco, no maior tédio já imaginado, planejava descobrir o que o velho guardava em sua casa, na qual se enfurnava por dias e dias, entrando sem que o visse. Marco era muito curioso e queria a todo custo encontrar a origem do cheiro. Até que, na manhã de um dia comum de primavera, que também era cinza, Marco viu o velho saindo de casa a pé. Não havia como o menino saber que o ele só estava saindo para uma caminhada e logo voltaria para casa. É claro que Marco, em sua curiosidade, aproveitou a chance de desvendar o mistério que o velho guardava em sua casa e saiu correndo assim que o perdeu de vista. Ele apenas não sabia que o velho, observador e inteligente, estava ciente de seus planos.
Marco chegou à misteriosa casa do velho. Entrou pela porta, estranhando o fato de que estava destrancada. Viu que a casa, com o forte e estranho cheiro, era simples e não possuía quase nada, apenas alguns moveis básicos. Mas o andar de cima ainda escondia um mistério. Subiu as escadas de madeira vagarosamente, enquanto um forte e estranho cheiro lhe enchia as narinas, aumentando a cada degrau, a cada passo. Agora a curiosidade de Marco o obrigava a encontrar a origem deste odor.
Marco parou na frente da única porta que o corredor do andar de cima apresentava. O cheiro era incrivelmente forte, ou incrivelmente estranho, o menino não conseguia distinguir essa diferença. Não sabia se gostava ou não deste cheiro, não, era muito confuso e estranho. E como você pode gostar de uma coisa estranha, que não conhece e não tem ideia do que seja? O que lhe é agradável não é o que te ensinaram?
Marco pensava, indeciso, se abria ou não a porta. Era um conflito de medo e curiosidade.
Enquanto refletia, o velho abriu a porta.
Marco começou a suar frio ao ouvir o som da porta se abrindo. Não sabia o que fazer e ouvia, paralisado, os passos do velho, já no começo da escada. Um por um, o velho subia os degraus. Um por um... Os passos se arrastavam pelo tempo. Um por um... O tempo passava lentamente, e Marco estava paralisado. Um por um o velho passava pelos degraus, ciente do menino e com um grande sorriso. Subia as escadas, degrau por degrau, lentamente.
O velho parou, ainda sorrindo, em frente ao pobre menino, que ainda não havia ousado olhar para nenhum lugar se não a maçaneta da porta, na qual se agarrava, encolhido, em uma desesperada e inútil tentativa de abri-la, mas esta jazia trancada. O velho se aproximou e o segurou pelo braço, o afastando da porta. Pegou a chave enferrujada e a colocou na rústica fechadura, abrindo-a.
Marco viu, finalmente, a origem do cheiro. Viu, finalmente, o segredo do velho. O que viu foi uma multidão de cores, que nunca havia visto. O que viu foi um turbilhão de emoções diferentes. O que viu foi o sorriso do velho. O que viu foram flores.
O que o velho viu foi um menino sorridente, um menino ao qual ensinaria, salvaria do mundo cinzento e melancólico, um menino que herdaria seu segredo.
O que diz a professora
Gabriel explorou adjetivos e advérbios para descrever o cenário e as reações do protagonista diante de um fato.
Últimas notícias