Como fazer a transição do ano letivo de 2020 para 2021
O que professores podem fazer para encerrar as atividades de um ano e dar início ao próximo fora do calendário convencional?
12/01/2021
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Jornalismo
12/01/2021
Enquanto 2021 começa com um novo ano letivo para escolas de alguns estados e municípios, para outros, no calendário escolar ainda corre 2020. Na Escola Estadual Padre Paulo, em Santo Antônio do Monte (MG), onde Ana Cláudia Santos dá aulas de Língua Portuguesa, as atividades de 2020 serão encerradas apenas no final do mês de janeiro. A previsão para início do novo ano letivo é março.
Ela se prepara para virar a chave entre um ano e outro olhando para os acontecimentos com a sua turma dos últimos 9 meses e considerando os desafios de ensino e aprendizagem que seus alunos, ela, e tantos outros colegas professores enfrentarão nos próximos anos escolares com o impacto da pandemia do coronavírus. O principal instrumento que ela investe como aliado são os registros da sua sala de aula remota. “O professor precisará conhecer seus alunos e ajudá-los a avançar em suas metas de aprendizagem para saber o que fazer com a turma no próximo semestre”, ela diz. Como uma espécie de relatório, é interessante que o professor reúna indicações de competências e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que foram consolidadas e tragam também os indicativos de defasagens para cada aluno.
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Como consequência de um ano letivo como foi 2020, com surpresas, replanejamento e muitas adaptações, o ano letivo de 2021 acontecerá de forma diferente para cada rede. Há aquelas, como a da professora Ana Cláudia, que seguirão os primeiros meses dando continuidade aos trabalhos do ano passado; há aquelas que optaram por um calendário bianual que reconheça que será necessário integrar os dois anos; e as que já encerraram as atividades referentes à 2020, seguindo o calendário escolar convencional. Será preciso, em qualquer modelo, que conteúdos e habilidades de 2020 e 2021 dialoguem para dar conta do atraso gerado pela pandemia.
Alaide Rodrigues da Silva foi professora das turmas de 4º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ), durante a crise sanitária causada pela covid-19. Neste ano, ela ficará com as crianças do 1º ano. Na rede carioca houve aprovação automática dos alunos e o ano letivo de 2021 começará, efetivamente, em fevereiro. Mas, para ela, ainda que o ano tenha mudado, muitos dos desafios do ensino remoto permanecerão, como a falta de acessibilidade dos alunos.
O WhatsApp foi a ferramenta mais utilizada pelos professores da escola para manter o vínculo com as crianças. No entanto, muitas não tiveram acesso e não participaram das atividades propostas à distância. Essa situação dificultou a realização de um diagnóstico para saber quais aprendizagens os seus futuros alunos e também passados conseguiram acessar, o que tornará o planejamento de 2021 ainda mais desafiador. Um fator que a tranquiliza, entretanto, é saber que poderá contar com os colegas docentes e a gestão escolar. “Nós participamos efetivamente das decisões da escola e, durante todo o período de pandemia, mantivemos nossas reuniões semanais para falar das angústias e dificuldades, sempre com o apoio da direção. Nessa fase de transição não será diferente: apostaremos no diálogo e na troca de experiências”, afirma a professora.
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Na passagem de bastão, Ana Cláudia ressalta que um relatório que contenha apenas o que foi o conteúdo dado para a turma durante o ano proporcionará ao futuro professor do aluno uma visão geral. No entanto, não é um modelo que traz indicações do que foi e pode ser feito para garantir o desenvolvimento dos estudantes. “É preciso encurtar caminhos para que o trabalho avance com maior facilidade. Quando o docente registra métodos e estratégias já utilizadas, o professor do ano seguinte já consegue se planejar melhor”, sugere. Outro ponto relevante entre as anotações do docente para os relatórios é apontar no registro os avanços e retrocessos individuais dos alunos. Com essas informações em mão, o novo professor da turma não terá que partir do “zero” para começar o ano – que, para muitos, ainda acontece de forma remota. Oferecer condições de trabalho ao colega docente é uma forma também de exercer a empatia profissional e poder contar com o apoio de outros professores para dar sequência às aprendizagens.
Caso o professor se mantenha com as mesmas turmas, a recomendação é fazer uma autoavaliação do trabalho já realizado, validar o que deu certo e planejar a partir das falhas. Além disso, considerando o trabalho realizado em 2020 e as necessidades para o novo ciclo, vale traçar metas e objetivos claros e elaborar projetos que dinamizem tempos e espaços de aprendizagem. “Professores que mantêm vínculos com as turmas têm essa transição facilitada porque eles mesmos produzem esses registros de avaliações, conhecem a turma e podem planejar”, diz Sherol dos Santos, formadora de professores na rede estadual do Rio Grande do Sul (RS) e especialista dos planos de aula de História da NOVA ESCOLA. Apesar disso, é possível desenvolver projetos com turmas novas e até mesmo, caso se trate da mesma escola, de projetos em parceria com os antigos professores.
Na rede de Sherol, o ano letivo encerrou em dezembro de 2020 e novo começa em fevereiro. Ela indica que, nessa transição, independente de quando ela aconteça, é fundamental avaliar o que foi planejado e quais aprendizagens foram possíveis de alcançar por toda a turma, o porquê de algumas habilidades não terem sido atingidas e informações de referências que possam apoiar a continuidade do ensino e aprendizagem na transição entre séries escolares durante a pandemia. “Esses materias serão usados para repensar as estratégias e tentar planejar 2021 atendendo ao cenário de ensino híbrido ou de ensino remoto, que a gente sabe que se manterá por um tempo”.
Para as educadoras, a comunicação com os alunos também precisa estar em dia durante essa fase de mudanças. “Mais do que olhando as respostas dele numa prova, por exemplo, muitas vezes o professor percebe o que um aluno aprendeu ou não aprendeu conversando com ele na aula”, observa Sherol. Ela lembra que a avaliar é também compreender como aquele aluno está fazendo o seu percurso de aprendizagem durante todo o ano – o que não é possível sem a comunicação com o professor, especialmente para as redes em que a aula é remota.
Para apoiar a transição, as redes de ensino também podem oferecer materiais e suportes didáticos que complementem as ações pedagógicas nas unidades escolares. Em Minas Gerais, por exemplo, há o Plano de Estudo Tutorado (PET), um material que orienta o regime de estudos não presenciais. Materiais que possam auxiliar e sugerir boas práticas durante a transição dos anos letivos também pode ser criado pela equipe pedagógica das escolas. Além disso, a própria construção do projeto político pedagógico (PPP) das escolas no planejamento 2021 contemplando a transição e os desafios do novo ciclo letivo é uma ação de apoio importante para guiar a escola.
Sherol recomenda, que o planejamento das ações de organização da transição inclua boas avaliações diagnósticas com as turmas e incentive projetos interdisciplinares – fator que pode colaborar inclusive para a integração de professores e alunos após o distanciamento social. A professora e formadora acredita que essa será uma fase bastante complicada para os docentes. “Para perceberem as aprendizagens possíveis no ensino remoto ou até mesmo no modelo híbrido, os professores precisam estar com um olhar muito atento para produzir boas avaliações diagnósticas e poder planejar o que vem pela frente”. Assim, fortalecer os laços entre a equipe também é uma boa maneira de construir em conjunto ações que auxiliem a apoiar o processo de professores e alunos no novo ano letivo.
Ainda dentro de um cenário de tantas incertezas, planejar aulas e saber identificar o que é prioridade ou não pelos próximos meses vai depender muito da avaliação diagnóstica de 2020 e outras que virão daqui pra frente. Na rede gaúcha foi estabelecida uma matriz de referência, ainda no início da pandemia, com aprendizagens prioritárias da BNCC e, por isso, a avaliação será em cima desse planejamento. “A gente sabe que a BNCC já traz o que é essencial e fizemos uma hierarquização dentro desse essencial”, pondera Sherol.
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Ana Cláudia também aposta que as 10 competências gerais da Base devem ajudar na elaboração dos trabalhos do novo ano letivo. “Elas podem oferecer aos alunos aptidões para que possam seguir em seus estudos com desenvoltura, resultando em múltiplas interações, sejam elas sociais, emocionais, individuais e/ou coletivas”, diz. As competências gerais também nortearão o planejamento da escola em que Alaide atua no Rio de Janeiro e prevê um investimento especial em autoconhecimento e autocuidado (competência 8), empatia e cooperação (competência 9), e responsabilidade e cidadania (competência 10). “Sabemos que o conhecimento, em termos de habilidades da BNCC, é muito importante, mas se esse aluno não tiver a parte socioemocional resolvida e se não vê a escola como um espaço que é dele, o conhecimento perde o sentido”, considera Alaide.
Aprender com os pares sempre foi uma experiência positiva para a professora Ana Cláudia, mas o contexto da pandemia a fez ver que a aprendizagem compartilhada fortalece toda a equipe e que fará muita diferença na hora de elaborar um planejamento para 2021 que dialogue com a realidade da escola. “Romper com a racionalidade técnica e promover ações colaborativas são estratégias mais dinâmicas e efetivas [do que trabalhar sozinho]”, defende. Uma ação possível neste contexto é a realização de um planejamento conjunto com o professor da série seguinte para obter resultados mais significativos. “Quando há maior interação entre os profissionais, consequentemente, serão avaliados pontos de vista e perspectivas diferentes, mas que podem comungar dos mesmos ideais e promover ações mais palpáveis, realistas e que realmente atendam à demanda”.
O ideal, indica Sherol, é pensar um planejamento em que a escola possa encampar um projeto de forma transversal e que os professores saiam um pouco das suas “caixinhas disciplinares”, principalmente no Fundamental 2 e no Ensino Médio. Isto, é claro, pensando no trabalho conjunto entre os educadores de modo que envolvam, transversalmente, as competências e habilidades necessárias a cada etapa de ensino. “Um planejamento ideal, e muitas vezes possível, é transversal, que agrega e acolhe as crianças neste momento tão difícil. Não dá para ser como antes”. Independente da etapa ou do ano letivo que corre no calendário das escolas, o fato é que 2021 já começou, agora é a hora de integrar os planejamentos dos anos de forma bianual e compartilhando o desafio com a comunidade escolar para garantir uma boa transição.
Dicas para começar bem 2021
Confira cinco dicas práticas para te ajudar a planejar as ações para este novo ano letivo
1. Mapeie a turma para identificar níveis de aprendizagem e quais habilidades ainda estão precisando de atenção; analise o que foi consolidado e identifique possíveis hiatos entre o planejado e o absorvido.
2. Conte com o apoio da equipe pedagógica e de outros professores para elaborar e executar o planejamento, plano de intervenção e/ou projetos. Além disso, podem ser formados grupos de monitoria seguindo o princípio da homologia dos processos, evidenciando uma formação inteiramente colaborativa.
3. Registre o planejado, o acompanhamento das ações, metodologias utilizadas e os resultados obtidos com a turma. Os registros poderão te ajudar a identificar pontos que deram certo e os que precisam de ajustes ou de ações complementares.
4. Fortaleça os vínculos afetivos com os alunos para tê-los por perto, mesmo com todas as dificuldades de acessibilidade. “Eu tive uma aluna que não tinha Wi-Fi em casa e, todo dia, ela ia na casa de uma tia para poder acessar à internet e baixar os conteúdos e atividades. Isso só se deu por conta do vínculo afetivo que tínhamos com ela”, lembra a professora Alaide.
5. Priorize aprendizagens que serão desenvolvidas neste ano levando em consideração as diferenças de acesso entre os alunos. “Teremos que continuar planejando e pensando ferramentas e estratégias de ensino remoto e híbrido para que as crianças tenham mais acesso em 2021”, aponta Sherol.
Este conteúdo integra a Trilha de conteúdos sobre a Retomada das Aulas 2021. Para saber o que não pode ficar de fora do radar do professor neste momento do ano, clique aqui e acompanhe nossa trilha.
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