O forró na Educação Física
As crianças nunca tinham ido a um baile, mas com a proposta do professor elas dançaram, assistiram a vídeos de vários artistas, conheceram a história do forró e ampliaram o repertório de movimentos
01/11/2012
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Jornalismo
01/11/2012
Nem repetir passos nem montar coreografias. A intenção de Fernando Vaghetti, professor do 3º ano da EMEF Doutor José Dias da Silveira, na capital paulista, era ampliar o repertório de dança de seus alunos. Para começar o trabalho, ele investigou quais ritmos eles conheciam e fez do forró um conteúdo para ser explorado (leia o quadro abaixo). No início, ouviu comentários sobre esse tipo de música: "Meu irmão sempre vai dançar no ?Batucão?", "Minha mãe ouve quando está limpando a casa" e "É brega, só fala de safadeza", por exemplo. Depois, o professor pediu que as crianças levassem para a sala os CDs e DVDs que tinham em casa e falassem sobre eles.
Ele selecionou as músicas mais adequadas para tocar na escola e foi com todos ao auditório, onde arriscaram os primeiros passos de dança. Algumas meninas, entusiasmadas, queriam ensinar os colegas, mas poucos se sentiram à vontade. Nesse momento, uma das preocupações de Vaghetti não era a exatidão dos movimentos, mas a participação coletiva. Adriana Guimarães, do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), compartilha dessa ideia: "Na escola, a prioridade não é a performance, mas a experimentação e o desenvolvimento da consciência corporal. O fundamental é as crianças conhecerem os limites entre o próprio corpo e o do colega."
Não se prezar pela precisão e fazer experimentações não é o mesmo que deixar os alunos fazerem quaisquer movimentos ou pedir que apenas repitam uma dança conhecida. É essencial que novos desafios sejam apresentados. "Percebi, por exemplo, que as crianças confundiam o forró com o sertanejo. Então eu precisava fazer intervenções e ampliar o repertório delas", conta Vaghetti.
Para que os alunos vissem e analisassem outras maneiras de dançar, o professor apresentou vídeos em que o forró aparecia em diversos contextos, como em shows de artistas profissionais, bailes e aulas. Todos discutiram sobre o que estava sendo visto: "Essas pessoas dançam sempre em casais?", "Como ficam as mãos sobre o parceiro?", "Como são os passos?", "O homem e a mulher ficam sempre próximos?", "Quais as semelhanças e diferenças entre o forró e outros ritmos que conhecemos?".
Na aula seguinte, as crianças voltaram ao auditório para dançar e repetir, dentro do possível, os movimentos vistos nos vídeos. "Foi visível a mudança: elas começaram a fazer passos difíceis com base nas discussões e nas imagens que tinham visto", conta Vaghetti.
Além de incrementar as informações sobre as danças atuais, o educador quis mostrar que o forró faz parte da cultura e da história do país e que havia outros importantes representantes do ritmo. Falou de Luiz Gonzaga (1912-1989), de Dominguinhos e do Trio Virgulino, artistas mais antigos e desconhecidos dos estudantes, que têm em média 9 anos, e discorreu sobre as diferentes manifestações e os instrumentos utilizados tradicionalmente. Mais uma vez, eles ouviram as músicas e dançaram um forró diferente do que conheciam.
Uma das dificuldades do professor em todas as aulas foi a formação dos casais, já que os pequenos tinham vergonha de dançar com o colega de outro sexo. Mesmo depois das conversas e de assistirem aos vídeos, eles preferiam ficar sozinhos. Um desafio para Vaghetti, que procurou manter o equilíbrio entre a insistência para que participassem e o respeito pelos limites de cada um.
Intercalando momentos de discussão, apreciação, estudo da história e muita prática, os alunos tiveram um contato mais aprofundado com os movimentos típicos do forró. "A dança faz parte das manifestações da sociedade. É necessário que se considerem todas as relações que a cercam", diz Beatriz Andrade, licenciada em Dança e professora de rede municipal em São Paulo.
Os passos dessa dança
As aulas na EMEF Doutor José Dias da Silveira, na capital paulista, exploraram diversos aspectos do forró
Você sabia?
- Originalmente, o forró é acompanhado de sanfona, zabumba e triângulo. Hoje, guitarra e bateria também são usadas.
- Uma das possíveis origens do forró são as festas que estrangeiros davam no Nordeste. Dizia-se que elas eram "para todos", for all, em inglês. Teria vindo daí o nome do ritmo.
- Músicas que falam de amor e saudade são recorrentes. No passado, a vida no sertão também era retratada.
- No fim da década de 1990, nasce o chamado forró universitário. O ritmo chega às rádios da região Sudeste com bandas como Falamansa e Rastapé.
- Alguns dos artistas mais consagrados do ritmo são Luiz Gonzaga e Dominguinhos, além do Trio Virgulino.
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