Alfabetização: como trabalhar linguagem e reflexão sobre o sistema juntos
Saiba como articular as práticas de leitura e de produção de texto à reflexão sobre a escrita durante projetos e sequências didáticas
01/04/2012
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Jornalismo
01/04/2012
"O que Chapeuzinho Vermelho pergunta primeiro ao Lobo: que olhos grandes você tem ou que orelhas grandes você tem?", indaga a professora após apresentar o conto à turma do 1º ano. Resolver esse problema é um grande desafio para quem está no início da alfabetização. Afinal, responder com segurança exige voltar ao texto e buscar as palavras olhos e orelhas, que começam e terminam com as mesmas letras. Propostas como essa, que tem por objetivo levar à reflexão sobre o sistema de escrita durante a leitura e a produção de texto, ainda são raras nas nossas salas de aula.
A tarefa de pensar sobre o funcionamento da escrita tem ficado restrita às atividades permanentes, com listas e textos memorizados, como cantigas e parlendas. Nada contra elas - que podem e devem continuar na rotina. Mas por que não aproveitar os momentos em que as crianças estão lendo ou produzindo um texto sobre um animal na aula de Ciências, por exemplo, para também levá-las a pensar sobre os aspectos do sistema alfabético e as relações grafofônicas? "Combinar a reflexão sobre a escrita com as práticas sociais de leitura e produção de texto é muito mais efetivo", diz Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.
Uma boa proposta de alfabetização requer planejamento e pressupõe saber como os alunos escrevem (leia a reportagem), organizar a rotina em projetos, sequências e atividades permanentes e escolher bons materiais de leitura e estudá-los. Além disso, não podem faltar em sala as letras do alfabeto, a lista de nomes dos estudantes, livros e os textos da garotada. Assim, na hora de escrever, todos poderão se apoiar em palavras conhecidas ou verificar em fontes oficiais se as antecipações feitas estão corretas.
Veja um exemplo: os alunos leem a capa de um livro ilustrado com um elefante e cujo título é Animais. Ao ler, eles antecipam - com base apenas na imagem - que a obra se chama Elefantes. Para que se apoiem no texto, você pergunta qual a primeira letra da palavra elefantes. Alguém responde "E", volta ao texto para ver se está correto e se depara com o A. "É como um jogo: se a antecipação não é adequada para resolver o problema, é preciso procurar outras pistas", explica Diana Grunfeld, presidente da Rede Latino-Americana de Alfabetização, na Argentina.
À medida que avançam em suas hipóteses de leitura e escrita, os estudantes desenvolvem, com base no trabalho do professor, alternativas de verificação cada vez mais sofisticadas. Inicialmente, diferenciam as figuras dos textos. Depois, imaginam que só é possível ler algo com mais de três letras. Por fim, fazem análises qualitativas, verificando principalmente as letras iniciais e finais de cada palavra. A todo momento, devem estar tranquilos para escrever como sabem e cientes de que terão todo o ano para aprender.
Para que você possa ajudar ainda mais a turma nesse trajeto, nas páginas seguintes, mostramos na forma de história em quadrinhos seis atividades de reflexão sobre o sistema inseridas em situações de leitura e de produção de texto. Elas fazem parte da sequência didática A Diversidade dos Animais, elaborada pela equipe de Práticas de Linguagem da Divisão de Educação Primária de Buenos Aires, na Argentina. A intervenção do professor, como você verá, é essencial para que o aluno compreenda como se escreve.
Utilizar um índice ou uma lista
Sozinhos ou em grupos, os alunos devem folhear livros e enciclopédias para interpretar ilustrações e encontrar informações sobre animais. Mostre o índice de algum dos volumes consultados e explique de que forma ele ajuda a localizar o que procuramos. Distribua cópias de parte do índice ou de uma lista com nomes de bichos que começam com a mesma letra. Leia os nomes em uma ordem aleatória e não aponte para cada um deles enquanto lê. Escolha um termo e proponha uma discussão.
Consultoria Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá.
Escrever e analisar a informação registrada
Como preparação para um estudo de campo, defina com os alunos os materiais necessários, os animais a serem pesquisados, que características observar e como tomar notas. Forme grupos de três e explique que cada criança deve escrever o nome do animal que irá observar e informações como número de membros e tipo de revestimento. De volta à sala, é hora de ler as anotações, compartilhá-las e revisá-las. Passe pelos grupos, observe como escreveram e inicie a discussão.
Completar uma tabela e analisá-la
À medida que segue o estudo sobre os animais, organize com as crianças as informações pesquisadas nos livros e durante o trabalho de campo. Uma tabela é preenchida conforme elas ampliam os conhecimentos sobre o tema. Faça uma cópia dela, deixando algumas colunas vazias para que a turma complete com os dados correspondentes.
Ler para preencher um álbum
Os alunos devem completar um álbum de figurinhas. Escolha uma das páginas em que aparece um tipo de animal - por exemplo, os peçonhentos. Peça que as crianças leiam o nome registrado abaixo do espaço reservado para cada imagem antes de selecionar a que será colada. Além de ampliar os saberes sobre os bichos, a turma deve refletir sobre a língua escrita.
Escrever legendas
Proponha que, em duplas, os alunos façam legendas para imagens de animais. Eles devem escrever o nome das partes do corpo indicadas com setas e algumas características relacionadas ao conteúdo. Para ajudá-los a resolver as dúvidas, deixe ao alcance de todos as letras do alfabeto, uma lista com o nome dos alunos, fichas com as anotações sobre os animais estudados e livros diversos.
Localizar informações
Peça que os alunos verifiquem se o que eles escreveram sobre as partes do corpo de um dos animais estudados em sala corresponde ao que informa a enciclopédia. Para isso, mostre a eles a página que contém as informações pertinentes.
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