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Jornalismo

Ensino remoto: como ficam as devolutivas e feedbacks aos alunos?

A rotina profissional dos educadores foi tomada por ferramentas e plataformas digitais durante a pandemia da covid-19. Saiba como utilizá-las para dar devolutivas para a sua turma

PorVictor Santos

21/09/2020

Foto: Getty Image

A pandemia do novo coronavírus exigiu que professores e gestores escolares repensassem como viabilizar aulas e atividades. Com o ensino presencial, possibilidades não faltavam para o feedback em tempo real a partir das interações, observações e atividades desenvolvidas em sala de aula. Agora, mediadas por uma tela, as devolutivas continuam como forma de acompanhamento e desenvolvimento dos estudantes em seu percurso de aprendizagem, mas precisaram ser adaptadas. Saiba abaixo o que considerar para dar este retorno para sua turma a distância.

Feedback: conceito e importância
“O feedback é uma ferramenta de comunicação entre professores e estudantes que contribui para a reflexão de ambos a respeito do que o estudante é ou não capaz de realizar e de compreender”, sintetiza a professora de Práticas de Avaliação nos cursos de Letras e Matemática do Instituto Singularidades, Jordana Thadei. Ela explica que independente do formato escolhido, é importante que apontem tanto os aspectos positivos quanto as fragilidades identificadas. “E, principalmente, que indiquem caminhos para a superação dos possíveis problemas detectados”, explica Jordana.

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Os feedbacks podem ser individuais, por grupos ou coletivos, dependendo do objeto de análise em questão.  “Se a atividade foi em grupo, a minha devolutiva será para o grupo. Então, a gente faz uma roda de conversa [que também pode ser um bate-papo online], com cada um expondo a sua opinião”, relata a professora Elaine Sousa do Nascimento, que atua no 3º ano do Ensino Fundamental EE Brasílio Machado, em São Paulo (SP). “Com isso, a gente acaba refletindo em relação às ações. É um tipo de devolutiva muito importante porque, junto com o grupo, eles acabam se entendendo, ouvindo o que o outro tem a dizer, e aprendendo com isso”. 

As devolutivas no contexto do ensino remoto
Com a pandemia da covid-19 – que colocou todo mundo para fora da sala de aula –essas práticas educacionais foram ressignificadas. “Precisei refletir muito para que a situação de feedback em sala de aula também fizesse sentido no ensino remoto”, comenta Elaine. “Não foi fácil, e ainda estamos aprendendo muito em relação a esse assunto”. O primeiro desafio foi consolidar o próprio ensino remoto e, depois, quando  a rede optou pela transmissão de aulas ao vivo pelo Centro de Mídias, o próximo movimento foi o de refletir a respeito das devolutivas aos alunos. “Para que eu possa dar uma devolutiva, eu preciso ter contato com o material que os alunos realizaram, e isso é um desafio muito grande: Como ter contato? E de que forma?”, questionou-se na época.

A solução foi se apoiar em ferramentas digitais. O Google Sala de Aula foi utilizado para compartilhar o  material do roteiro de estudos da semana (permitindo a interação por comentários) e receber as atividades feitas. Já os aplicativos de comunicação Google Meet e o WhatsApp são utilizados como forma de retorno em tempo real e interativas. “No caso do WhatsApp, tanto no grupo quanto no privado, é possível dar devolutivas de forma descritiva, áudios ou até chamada de vídeos”, conta Elaine.

Estratégias para o feedback (agora remoto)
Segundo Jordana, o ensino remoto ampliou as possibilidades de formatos. “As melhores ferramentas para devolutivas vão depender das especificidades de cada turma, das condições de acesso dos estudantes em questão, da idade, da navegabilidade, entre outros fatores”. O importante é não deixar o feedback de lado. E, como o ensino remoto ampliou as demandas de leituras de textos em telas, é interessante pensar em outras linguagens para os feedbacks (e mesmo para os quadros de avisos e para as produções dos alunos). Para isso, vídeos e apps do momento – como o TikTok (veja aqui) – podem ser alterativas criativas para este feedback, mas Jornada traz duas sugestões: infográficos (que podem ser feitos com auxílio de aplicativos como o Canva) e formatos de áudio, como os podcasts.

“O infográfico permite apresentar dados quantitativos e qualitativos. Além de visualmente atraente, é uma oportunidade para estimular leitura de textos multimodais”, indica Jordana. Já o formato de áudio é mais favorável à comunicação e à argumentação sobre aspectos positivos e fragilidades que os alunos precisam dar atenção. “Neste formato, posso também apontar aspectos relativos aos grupos ou destacar participações individuais relevantes, e [para os professores que desenvolvem o formato podcast] as vinhetas e sons utilizados, como aplausos e trilhas de suspense, ajudam na construção de sentidos”.

A professora Elaine é uma das adeptas do trabalho pedagógico com o uso de áudios. Ela detalha um exercício de fluência leitora que realizou com apoio de ferramentas digitais. Tudo começou com um projeto de sua escola, que trabalhou com literatura de cordel utilizando-se do Google Sala de Aula. Então, a sua proposta para os alunos foi fazer um áudio de um cordel escolhido, e encaminhar para o seu WhatsApp.

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“A partir daí, ouvindo a leitura da criança, consegui dar um retorno a questões como a entonação daquilo que eu ouvi, e sobre a própria leitura, analisando como ela está acontecendo”, relembra a educadora. Depois, também em áudio, ela deixou seus comentários para os alunos. “Não é a mesma coisa do presencial, mas é uma forma de devolver aquilo que eles precisam ouvir, pontuando o que foi bom, o que não foi, e como pode ser possível melhorar a fluência leitora”.

A professora Kalina Elis, do 4º ano do Ensino Fundamental e colega de Elaine na EE Brasílio Machado, também destaca a importância de ouvir os alunos lendo textos e produzindo argumentos sobre algum trabalho solicitado, e reforça sobre o quanto é preciso realmente replanejar as devolutivas a partir das ferramentas tecnológicas. “Utilizo muito os formulários do Google, tanto para questões abertas, em que posso ler as respostas e textos que os alunos produzem, quanto para questões fechadas. Os formulários geram gráficos e indicadores que nos mostram muito sobre as aprendizagens. Além disso, a rubrica segue funcionando muito bem, já que regula as produções autônomas dos alunos”, enumera.

Embora busquem variar nos formatos, as videoaulas síncronas são o principal momento em que as ponderações são feitas . “Pelo Google Meet e eu consigo dar uma devolutiva coletiva, em relação às ações, às aprendizagens que eles tiveram; e auxiliar melhor nas dúvidas”, comenta a professora Elaine. Mas como a distração pode ser alta neste modelo, a estratégia de Elaine é utilizar-se ao máximo das metodologias ativas. “Esse é o momento que nós mais temos que ouvir os alunos – e eles têm muitas coisas a dizer”. A partir dessas trocas, o professor também pode obter mais considerações e objetos de análise para acompanhar no desenvolvimento dos alunos.

Para Kalina, o feedback contínuo das tarefas consiste em uma avaliação formativa do percurso do aluno e por isso é importante ser continuado no ensino remoto.  “Nesse momento, não é possível apenas verificarmos os cadernos, e darmos um visto de certo ou errado. Precisamos, mais do que nunca, dialogar com as crianças”, afirma a professora.

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