O que é (e não é) o AEE?
Entenda o papel do professor que atua no Atendimento Educacional Especializado e desfaça mitos relacionados ao seu trabalho nas escolas
29/08/2020
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Jornalismo
29/08/2020
Não dá para negar os avanços que a Educação inclusiva teve até hoje. A aprovação, em 2006, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência pela ONU assegurou um sistema de Educação inclusiva em todos os níveis de ensino e representa um dos marcos na área.
Esse mesmo movimento repetiu-se em 2008, com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, e em 2011 com o decreto 7.611, que regulamenta o Atendimento Educacional Especializado (AEE), como uma política atrelada à matrícula do aluno no ensino regular.
No entanto, há algumas confusões sobre o que é o AEE fora dos documentos que o norteiam. Segundo Daniela Alonso, especialista em Educação inclusiva, o AEE vem com a ideia de como fazer a inclusão na prática, no dia a dia da sala de aula e da escola.
E a prática tem seus desafios. Professora de AEE no Recife e em Olinda, Adriana Cunha conta que, para a inclusão funcionar, “ela deve ser um estilo de vida da escola”. “Como tenho deficiência, sei os dois lados, da família e profissional, de ser a pessoa e ter uma pessoa com deficiência como aluno”, explica.
Para te ajudar a entender o que é o papel do atendimento especializado, selecionamos algumas explicações sobre o tema. Vamos lá?
Em suas diretrizes operacionais para o atendimento especializado na Educação Básica, o Ministério da Educação reforça o papel ressaltado pela especialista. “O AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas”.
Há quase dez anos atuando como professora do AEE, Kelen Cristina Silveira, da Escola Municipal Carlos Drumond de Andrade, em Santo André (SP), reafirma que seu papel é de desenvolver recursos para ajudar o estudante. “A gente fala de barreiras atitudinais também, que para mim são as mais difíceis, porque não se referem ao aluno, mas sim, ao meio em que ele está inserido.”
Para não haver nenhuma confusão sobre seu papel como docente, Adriana contou que, quando chegou em sua escola, colocou no projeto político-pedagógico (PPP) quais são suas atribuições. “A gente dá o norte, o apoio, não somos professores de reforço.”
Aline de Morais, professora de AEE na Escola Municipal Professor Dermeval Arouca, em Mogi das Cruzes (SP), segue a mesma linha. Ela dialoga com toda a equipe e os professores da sala regular sobre os desafios e avanços em relação aos alunos com deficiência. “Precisamos que a política pública funcione no dia a dia.”
Segundo a especialista, essa crença surge como uma resposta para “acalmar” o movimento de professores que estavam desesperados. “Muitos diziam ‘tenho 35 alunos e agora mais um com deficiência?’, mas a justificativa dada era ‘calma, ele tem a sala do AEE’.”
Kelen ressalta que essa interpretação deve ser desmitificada junto às famílias dos alunos também. “A gente explica que o estudante vem para a sala de recurso quando necessário, mas muitas vezes ele não precisa mais e a família diz para continuar.”
“O professor de AEE vem com o objetivo de ser o apoio dentro da escola para inclusão, para ajudar os professores”, completa Daniela.
Somado a isso vem outro desafio: o de construir junto. Kelen comentou que muitos professores ficam com receio, por exemplo, de abrirem seus planejamentos para chegar em um modelo mais inclusivo. “A gente fica muito preso a um conceito de segregação e precisamos promover um trabalho colaborativo no dia a dia.”
Para Kelen, é necessário que as escolas e os profissionais passem a olhar de forma global para o aluno. “A gente fala muito, por exemplo, sobre as estratégias para inclusão. Mas essa estratégia deve ser para todos. Cada estudante é único, mas não podemos deixar os alunos com deficiência para trás.”
Como tudo tem sido atípico na Educação durante a pandemia, entender as funções para auxiliar o aluno com deficiência no ambiente on-line é complexo. “O que podemos orientar é para garantir que essas crianças e jovens tenham acesso às atividades e recebam um atendimento individualizado”, sugere Daniela.
Além disso, para um possível retorno das aulas presenciais, a especialista alerta que é necessário pensar em uma volta também inclusiva. “Não é porque as crianças têm alguma deficiência que são do grupo de risco. É equivocado pensar dessa maneira”, afirma.
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