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Jornalismo

Uma sessão de magia

Que tal um cineminha? Escolha um bom filme nacional e brinde a turma com uma aula

PorMárcia Costa

31/05/2000

Apenas três anos depois de os irmãos Lumière apresentarem o cinema ao mundo, o Brasil já produzia sua primeira fita. Era junho de 1898 e Afonso Segreto filmava, com uma câmara comprada em Paris, imagens da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. O pioneirismo do cineasta, no entanto, é contestado por alguns historiadores que apontam a existência de filmetes realizados ainda antes no país. Controvérsias à parte, nesses mais de 100 anos o cinema brasileiro cresceu muito. E o dia 19 de junho é a data escolhida para celebrá-lo. Aproveite para assistir a um bom filme nacional com seus alunos. Produções recentes, que por sua qualidade já valeriam o programa, podem também enriquecer as aulas.

Mauá O Imperador e o Rei e Castelo Rá-Tim-Bum O Filme, ambos produzidos no ano passado, são boas pedidas. Até o final deste mês, por meio do Projeto Escola, o Castelo, de Cao Hamburguer, estará presente em mais de 100 cidades de 21 Estados. As escolas interessadas podem levar os estudantes a sessões especiais. Os professores, por sua vez, recebem assessoria pedagógica, na qual são orientados a desenvolver uma série de atividades baseadas no enredo. Caso sua cidade não esteja na lista, você pode solicitar uma exibição entrando em contato com a produção (veja os telefones abaixo).

Universo cultural
 

A importância do conhecimento na formação do ser humano é o tema central da fita protagonizada por Nino, um aprendiz de feiticeiro de 300 anos que vive em um castelo encantado com seus tios, Morgana e Doutor Victor. "O Castelo pode ser aproveitado tanto pela trama central como pelas secundárias", afirma Marialva Monteiro, responsável pelo Cineduc Cinema e Educação, do Rio de Janeiro. Segundo ela, não se deve esquecer, no entanto, que o filme é um produto que tem linguagem própria. "O grande mérito do trabalho com cinema é ampliar o universo cultural dos alunos, como prevêem os Parâmetros Curriculares Nacionais", completa a professora Flávia Aidar, gerente de Projetos do Itaú Cultural, de São Paulo.

Partindo desse pressuposto, a escola Pueri Domus, de Santo André, na Grande São Paulo, levou os alunos de 1ª a 4ª série para assistir ao Castelo e desenvolveu um grande projeto multidisciplinar. "Discuti com as crianças as diferenças entre a história vista no cinema e nos programas de televisão", explica a professora da 1ª série, Débora Lima de Moraes. Para estimular o imaginário da turma, ela narrou vários contos de bruxas e fadas. Depois de ver o Castelo, os alunos estavam mais inspirados ainda e criaram várias poções mágicas, imitando Morgana. Em uma das receitas, flocos de milho, coco ralado e uva-passa faziam as vezes de unha de barata, caspa de rato e cérebro de lagartixa. Poção pronta, as crianças provaram e tentaram calcular quantas porções a mistura rendia, num exercício de estimativa.

A turma da 2ª série produziu bonecos de papel representando os principais personagens. "Além de redigir textos descrevendo as características de cada um deles, aprenderam os nomes de suas roupas nas aulas de Inglês", conta a professora Cíntia Benedetti. Ciências e Artes Plásticas se uniram na atividade proposta pela professora Cristiane Aparecida Bom Cirello. Seus alunos da 3ª série construíram, com sucatas de papel e papelão, os guardiões do castelo. "Durante o trabalho, procuramos enfatizar a importância da reciclagem do lixo."

Móbile e maquete

O alinhamento de todos os planetas, algo que não acontece na realidade, é um fato importantíssimo e aguardado pela família de Nino no filme. A professora Vânia Barbato Missurini aproveitou o gancho para falar sobre os planetas para a classe de 4a série. Com bolas de isopor, sua turma construiu um móbile do Sistema Solar. Para produzir o material respeitando a proporção do tamanho dos planetas e a distância entre eles, os alunos realizaram pesquisas e visitaram o Planetário. Uma grande maquete da parte interna do castelo também foi preparada pela turma de Vânia. Nas aulas de Matemática, ela aproveitou o material para trabalhar os conceitos de área, perímetro, retas, paralelas e ângulos.

Ao contrário do que possa parecer, o filme pode agradar também aos alunos da 5ª série em diante. "Promova um debate em classe justamente sobre a adequação do filme ao público adolescente", sugere Zélia Cavalcanti, coordenadora do Projeto Escola do Castelo Rá-Tim-Bum. "A atividade aprimora a capacidade de argumentação dos alunos e sua linguagem oral."

O Brasil, nos tempos da Monarquia

Mauá, vivido por Paulo Betti (centro): visionário. Foto: Vera Bungartem
Mauá, vivido por Paulo Betti (centro): 
visionário. Foto: Vera Bungartem

A vida de Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, e sua importância no cenário político-econômico do Brasil na segunda metade do século XIX são as temáticas de Mauá O Imperador e o Rei, filme de Sergio Rezende. Assim como Castelo Rá-Tim-Bum, a produção de Mauá também mantém um Projeto Escola, o que permite o agendamento de sessões fechadas para estudantes. A professora de História Lúcia Rosa Antunes da Silva, da Escola Municipal Professor Ary Quintella, do Rio de Janeiro, levou seus alunos de 6ª e 7ª séries para assistir ao longa-metragem. Antes de ir ao cinema, os estudantes pesquisaram a biografia de Mauá, um progressista que defendia investimentos na indústria de base numa época em que o Brasil era essencialmente agrícola. O enredo serviu como introdução para suas aulas sobre a industrialização brasileira e o Segundo Reinado.

Depois da exibição, todos os alunos participaram de um debate. "Essas atividades permitiram a eles comparar a mesma história numa narrativa literária e no cinema", explica Lúcia. Para finalizar, a trama de Mauá foi reproduzida pelos alunos por meio de 24 desenhos, que contavam o enredo do início ao fim. A professora de Educação Musical Fátima Travessa Pires também participou do projeto e mostrou às turmas um pouquinho da cultura daquele tempo. "Eles ouviram e analisaram a música erudita, a modinha e o lundu, levando em consideração o momento histórico", finaliza Fátima.

Quer saber mais?
 
Pueri Domus, R. Silveiras, 70, CEP 09071-100, Santo André, SP, tel.: (11) 4993-5200, 
e-mail: tijucussu@tijucussu.com.br

Escola Municipal Professor Ary Quintella, R. Engenheiro Moreira Lima, 54, CEP 21210-720, 
Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 391-4561

Castelo Rá-Tim-Bum, O Filme (Projeto Escola), R. Isabel de Castela, 237, CEP 05445-010, 
São Paulo, SP, tel.: (11) 870-5550, e-mail: afcinema@uol.com.br

Mauá O Imperador e o Rei (Projeto Escola), R. Conde de Irajá, 941, sl. 101,CEP 22271-020, 
Rio de Janeiro, RJ, tel.: (21) 511-0754, e-mail: lagoa@webcorner.com.br

Bibliografia
Mauá Empresário do Império, Jorge Caldeira, Ed. Companhia das Letras, 560 págs., 
tel.: (11) 3846-0801, 36,50 reais

Castelo Rá-Tim-Bum O Livro, Ana Maria Caira, Ed. Companhia das Letras, 112 págs., 
tel. (11) 3846-0801, 25,50 reais

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