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Jornalismo

Coronavírus: como as redes estaduais estão oferecendo aulas a distância

Conheça as iniciativas de três estados para garantir o ensino não presencial durante o período de distanciamento social

PorMiguel Martins

14/04/2020

Foto: Seduc-AM

Em circunstâncias normais, os desafios da Educação pública são imensos: garantir a universalização do ensino e o alinhamento dos currículos à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), proporcionar estrutura e condições de trabalho aos professores, combater a evasão escolar e a defasagem – para listar alguns dos principais. Em meio à pandemia da Covid-19, esses esforços tornam-se ainda mais complexos.

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A suspensão das aulas tem motivado redes estaduais e municipais a buscar soluções de ensino a distância. Enquanto alguns estados como o Amazonas já contam com experiência acumulada na modalidade, outros, como São Paulo e Pernambuco, estão desenvolvendo novas iniciativas para garantir a continuidade das aulas de forma não presencial.

Independentemente de estarem ou não habituadas a ofertarem ensino pela televisão ou pela internet, as redes terão de se debruçar sobre a difícil tarefa de garantir o acesso dos alunos ao ensino remoto. Ao mesmo tempo, precisarão avaliar se a frequência continua em dia e se os aprendizados estão sendo desenvolvidos.

Os desafios não param por aí. Como formar professores acostumados às aulas presenciais na modalidade a distância? Como ofertar conexão de internet e abrir canais de tevê aberta para que as aulas cheguem a todos? Como será contabilizada a carga horária no período? Haverá provas durante a suspensão das aulas presenciais? Perguntas que cada estado busca responder de acordo com sua realidade e suas condições sociais e geográficas.

Conheça abaixo as principais iniciativas de três redes estaduais de ensino para as aulas a distância: Amazonas, Pernambuco e São Paulo.

Amazonas

Muito antes da pandemia de Covid-19, o Amazonas trabalha com Educação a distância. As necessidades geográficas do estado explicam esse conhecimento acumulado: para chegar a comunidades ribeirinhas e indígenas, muitas delas sem unidades escolares ou professores especialistas, foi criado o programa Aula em Casa.

Em 2007, o estado implantou o Centro de Mídias de Educação do Amazonas, composto por sete estúdios e uma imensa sala dos professores. Os professores chegam nas regiões remotas pela tecnologia de IPTV (Internet Protocol Television) transmitidas pelos estúdios do Centro de Mídias.

Hoje, o órgão conta com 60 professores especializados na elaboração de aulas a distância de todos os componentes curriculares dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

Em circunstâncias normais, os profissionais que ensinam a distância contam com o apoio de professores ou mediadores alocados presencialmente nas 3.200 turmas atendidas pelo Centro. Esses têm como tarefa lançar as atividades, contabilizar a frequência dos alunos e aplicar provas e testes.

“Para se chegar em algumas comunidades a partir das sedes dos municípios, leva-se dois ou três dias”, explica Wilmara Messa, diretora do Centro de Mídias de Educação do Amazonas. Cada uma dessas comunidades é equipada com uma antena de satélite, um receptor, além de um “kit sala de aula” com uma tevê de 42 polegadas, uma webcam, uma impressora e um notebook. “É essa estrutura que permite aos professores interagirem com os alunos de forma remota”.

Em razão dessa prática acumulada, a adaptação do programa para a realidade atual com a crise do coronavírus tem uma vantagem: o fato de a rede já contar com um acervo de aulas gravadas. Rosalina Moraes Lobo, Secretária Executiva Adjunto de Gestão da Seduc-AM, explica que o programa somou esforços com a Secretaria Municipal de Educação de Manaus para oferecer uma grade curricular que contemple todas as etapas.

“Alguns estados anteciparam o recesso, mas preferimos apenas suspender as aulas presenciais porque conseguimos organizar rapidamente esse programa”.

O principal meio de acesso às aulas nesse período será a tevê aberta. “Se usássemos a internet ou outras ferramentas que dependessem de conectividade, teríamos problemas por não termos como patrocinar conexão a todos os alunos”, explica a secretária.

A TV Encontro das Águas, ligada ao sistema da EBC, disponibilizou subcanais, o que garante a transmissão das aulas em um formato semelhante ao da grade horária de um dia letivo normal. No canal 2.2, são transmitidos os conteúdos para o 6º ano (8h-11h20), 8º ano (13h-16h20) e 1º ano do Ensino Médio (18h-21h20). No canal 2.3, as aulas são voltadas ao 7º ano (8h-11h20), 9º ano (13h-16h20) e 2º ano do Ensino Médio (18h-21h20). Por fim, o canal 2.4 disponibiliza conteúdos para todos os anos do Ensino Médio.

Apesar dos recursos e do acervo disponíveis, Rosalina diz que a transmissão das aulas pela televisão não chega a todos os municípios por questões técnicas. “Não podemos dizer que demos amplo acesso, pois nem sempre se poderá acompanhar as aulas pela televisão. No retorno dos alunos após a suspensão, será necessário fazer uma avaliação das aprendizagens”.

Outro ponto ressaltado pela secretária é que o Centro de Mídias “não mede frequência, mas apenas a audiência”. Embora haja amparo legal para que o ensino a distância seja contabilizado como horas de ensino, será necessário avaliar se os alunos de fato conseguiram acompanhar as aulas após o fim do período de suspensão. 

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Pernambuco

A rede estadual de Pernambuco trabalha em algumas frentes para garantir a continuidade das atividades escolares durante o período de suspensão das aulas presenciais – a exemplo do Amazonas, o estado não adiantou o recesso escolar. A primeira ação, disponível desde 23 de março, é uma página oficial com materiais complementares para estudantes e professores de todas as etapas de ensino da Educação Básica.

O objetivo é que esses conteúdos possam servir também às redes municipais, explica Ana Selva, secretária executiva de desenvolvimento da Educação em Pernambuco. “Temos uma relação muito próxima com a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Tudo que estamos fazendo também será disponível para os municípios”.

Outra iniciativa da rede é o desenvolvimento do Educa-PE, uma plataforma pedagógica para a transmissão de aulas durante o período de isolamento. O conteúdo para o Ensino Médio será transmitido ao vivo de segunda a sexta das 13h às 17h na TV Pernambuco.

Para os estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, as aulas estarão disponíveis na parte da manhã no canal de Youtube do Educa-PE. “Gravamos aulas de professores da própria rede com temáticas prioritárias do currículo de Pernambuco”, diz Ana.

A secretária reconhece a dificuldade de fazer o acompanhamento e avaliação dos alunos a distância. “Não se pode garantir que houve aprendizagem e acesso. Estamos fazendo todos os esforços para ter o maior número de alunos acompanhando o canal, mas ao final teremos que avaliar como as aulas serão repostas”.

Segundo Ana, cada escola vai avaliar as aprendizagens nesse período. É possível que algumas escolas só precisem de tempos diferentes de reposição no calendário escolar, já que é necessário considerar nem todos os alunos terão acesso às aulas a distância.

Ela ressalta a importância de se considerar a realidade de cada aluno e a instabilidade do acesso à internet. “A equidade não é deixar de oferecer aulas a distância porque alguns alunos não terão como acessar os conteúdos”, diz Ana Selva. “Mas não vamos considerar que conteúdo dado é conteúdo contabilizado. Haverá uma verificação de aprendizagens. É preciso uma régua que valha para todos”, completa.

Nesse período, provas e testes não serão aplicados. “Como não temos a garantia de acesso, qualquer coisa relacionada a nota só será posterior ao retorno dos alunos”.

A rede também está oferendo formação em Educação a distância para o currículo pernambucano. Na primeira rodada, com foco nos professores dos Anos Finais de Ensino Fundamental, foram oferecidas 300 vagas, sendo 150 para Língua Portuguesa e 150 para Matemática.

São Paulo

São Paulo adotou uma estratégia diferente de Amazonas e Pernambuco em relação à suspensão das aulas. O governo estadual preferiu adiantar o recesso de julho. Logo, as aulas só serão retomadas formalmente a partir de 22 de abril.

A medida dá mais tempo para o estado desenvolver sua plataforma de aulas a distância: o Centro de Mídias da Educação de São Paulo. Baseado em um modelo semelhante ao do Amazonas, a iniciativa visa disponibilizar videoaulas, material de apoio e um aplicativo para garantir a interatividade dos alunos da rede estadual.

Rossieli Soares, secretário da Educação de São Paulo, trouxe sua experiência como gestor da mesma pasta no Amazonas, onde a modalidade a distância é desenvolvida desde 2007. Inclusive, um dos parceiros de São Paulo é o programa amazonense Aula em Casa, que disponibilizará seu acervo de videoaulas para atender aos estudantes paulistas.

Assim como ocorre em Amazonas e Pernambuco, São Paulo terá como parceira a tevê aberta para a transmissão das aulas aos alunos: a TV Educação, ligada à TV Cultura. Além disso, a secretaria de Educação aposta em um aplicativo para ampliar a oferta de conteúdos aos estudantes.

De acordo com a pasta, o acesso à internet será patrocinado por meio de um contrato com as quatro maiores operadoras de telefonia. Os estudantes não precisarão ter um pacote 4G do celular ou mesmo sinal de internet particular para acessar a plataforma.

Segundo Rossieli, a antecipação do recesso dá tempo para colocar a iniciativa em funcionamento. No momento, a plataforma está disponível para professores e estudantes se familiarizarem com ela. "Como antecipamos as férias, não precisamos ter aula alguma até 21 de abril". O secretário explica que em 20 de abril será publicado um calendário com formas de trabalho e avaliação para as aulas a distância caso a quarentena persista até o fim do recesso.

O estado prevê uma margem de avaliação para os conselhos de classe analisarem se a modalidade a distância foi suficiente para garantir os aprendizados nesse período. "Aqueles alunos que não puderem acessar a plataforma terão oportunidades de recuperação quando houver o retorno da modalidade presencial, como, por exemplo, em aulas em contraturno e aos sábados", explica o secretário.

O estado de São Paulo aprovou em 19 de março uma resolução que determina a obrigatoriedade do cumprimento de 800 horas de aulas anuais, sem a necessidade de cumpri-las em 200 dias letivos. A mesma medida foi estabelecida pelo governo federal para toda a Educação Básica no país por meio de uma Medida Provisória.

Para avaliar como as aulas a distância poderão ser contabilizadas como parte dessa carga horária, será necessário definir qual será o prazo de suspensão, explica Rossieli. "Em relação a essas 800 horas, uma parte poderá ser contabilizada como educação a distância, mas claro que nossa prioridade é garantir o máximo possível de aulas presenciais".

Além de contar com conteúdo de parceiros públicos como a Secretaria de Educação do Amazonas e da iniciativa privada, a rede estadual de São Paulo selecionou um grupo de professores para produzir aulas de acordo com a realidade do currículo paulista. No momento, a secretaria está ofertando uma formação opcional em EaD para os professores que desejam participar do projeto do Centro de Mídias.

O estado ainda estuda como fará a avaliação das aprendizagens a distância. Provas dificilmente serão aplicadas em meio à suspensão das aulas presenciais, mas deve haver a cobrança de trabalhos com resolução de problemas.

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