Como usar a Arte para dar visibilidade aos povos indígenas
Alunos descobriram diversidade das populações locais e superaram preconceitos
22/10/2019
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Jornalismo
22/10/2019
Pernambuco é um estado nordestino reconhecido pela sua diversidade cultural, seja na música, na dança, na literatura ou nas artes. O que muita gente não sabe é que toda essa riqueza também foi influenciada pelos povos indígenas pernambucanos. Essa reflexão foi o que, literalmente, inspirou a professora de Arte Flávia Roberta Alves Costa a criar o projeto Inspirações Indígenas e, com ele, vencer o Prêmio Educador Nota 10 em 2017.
Tanto ela quanto seus alunos do Fundamental 2 da Escola Municipal Divino Espírito Santo, de Recife, desconheciam as comunidades indígenas de Pernambuco, bem como sua produção artística. Atualmente, o estado conta com população indígena de cerca de 38 mil pessoas distribuídas em 13 povos.
LEIA MAIS Este aluno também é índio
No entanto, o fato é que alguns estudantes nem sequer sabiam da existência de índios no território, segundo Flávia. “Além de serem os indígenas mais próximos a nós, sofrem preconceito e estigmatização, são discriminados por serem considerados ‘inautênticos’ por apresentarem formas socioculturais e um tipo físico diferente do senso comum geralmente associado ao índio amazônico”, explica.
Além disso, a professora foi motivada pelo desafio de colocar em prática a Lei 11.645 que desde 2008 tornou obrigatório o ensino da temática indígena e africana e, também, pela mudança no currículo escolar da rede de Recife. “Nesses caminhos possíveis para trabalhar os conteúdos, busquei abordar a pluralidade cultural desses índios, estimulando uma nova maneira de ver e pensar sobre o modo de vida dos povos indígenas, como forma de superação dos preconceitos e discriminações”, conta.
Para isso, Flávia fez uma pesquisa etnográfica para conhecer as comunidades indígenas de Pernambuco e envolveu os alunos do 6º ano e seus familiares em uma investigação sobre descendência indígena. Ela lembra que, antes de começar o projeto, havia um aluno indígena que não se sentia à vontade para falar da cultura dele. Depois da iniciativa de Flávia, de mergulhar no tema e despertar o interesse de toda a escola, o comportamento do aluno mudou. “No final do projeto ele chegou em mim e perguntou: ‘tia, quer que eu traga a minha roupa para me apresentar para a turma?’ e esse foi o momento mais feliz do meu trabalho”, lembra.
Flávia ressalta que seu projeto pode ser replicado em várias regiões. Basta que o professor que quiser replicar a iniciativa pesquise e conheça os indígenas mais próximos contribuindo, assim, para o reconhecimento das sociodiversidades indígenas no Brasil contemporâneo. “Cada povo indígena tem uma maneira própria de expressar suas obras, por isto dizemos que não existe arte indígena e sim artes indígenas”, reforça.
Para a educadora, há um universo inesgotável de conhecimentos a serem explorados pela curiosidade dos estudantes, entretanto, é preciso estar embasado no modo de vida desses povos. “Suas histórias, territorialidades, tempos, lutas, crenças, artes, vínculos a serem reconhecidos, compreendidos e assim, respeitados”, completa Flávia.
Os alunos entraram em contato com o tema por meio de contação de histórias e apreciação de imagens. Mas não ficou só nisso. A professora fez questão de convidar os índios Fulni-ô e a turma pode entrevistá-los, assistir e participar de danças e conhecer as pinturas corporais deles. A partir das vivências, os estudantes criaram desenhos e tramas com papel, por exemplo.
Indicação: Fundamental 1 e 2
Disciplinas: Arte, História
Duração: 3 meses
O que é o projeto?
O projeto Inspirações Indígenas pretendeu refletir como os índios de Pernambuco vivem hoje, conhecer sua produção cultural, produzir trabalhos artísticos inspirados nas artes desses povos, fazer uma pesquisa etnográfica com os estudantes da escola sobre suas descendências indígenas e buscar interação com esses povos constituindo uma possibilidade de apreensão de outras perspectivas culturais, onde o “ser indígena” poderá ser visto e sentido como elemento integrante e participante de uma mesma sociedade.
Do que vou precisar?
- Imagens das produções artísticas dos povos indígenas;
- Materiais diversos artísticos como: lápis de cor, tinta, papel;
- Pesquisas sobre os povos indígenas da região.
Quais os objetivos de aprendizagem trabalhados?
- Conhecer a população indígena de Pernambuco;
- Investigar a descendência indígena dos alunos da escola através de uma pesquisa etnográfica;
- Produzir trabalhos artísticos com materiais diversos inspirados nas artes desses povos utilizando imagens das artes indígenas;
- Relacionar-se com comunidades indígenas;
- Interagir com espaços expositivos que abordem a temática indígena;
- Conhecer e respeitar a pluralidade dos povos indígenas.
E os desafios? Como encará-los?
A mera obrigatoriedade legal pelo reconhecimento da diversidade cultural no Brasil pode ter um caráter antipedagógico caso não provoque nos estudantes uma reflexão abordando esse assunto sem ressaltar estereótipos e práticas artísticas apenas de reprodução. O grande desafio é mostrar esses povos na atualidade e trazê-lo para escola promovendo esse diálogo. É preciso trabalhar esses indígenas como sujeitos da História, como sujeito que continua sendo indígena e compartilha com os demais brasileiros o direito de estar na sua terra.
E no final? O que meus alunos vão aprender?
- A lidar melhor com as diferenças;
- O pertencimento da descendência indígena;
- Os alunos participantes do projeto em Recife também desenvolveram autonomia criativa ampliado seus fazeres artísticos;
- Os estudantes descobriram que cada povo tem sua arte com características próprias;
- Aumentou o respeito e admiração pelos indígenas;
- Tomaram conhecimento de sua origem familiar;
- Reconheceram o indígena como elemento integrante e participante de uma mesma sociedade;
- Conheceram a pluralidade dos povos indígenas.
Flávia Roberta Alves Costa é professora de Arte, especializada em Arte/Educação (Arte na Escola? Como a Arte se insere nos projetos didáticos na Escola) na Unicap/PE (2009), licenciada em Educação Artística/Artes Plásticas pela UFPE (2006). Ganhadora do prêmio de Educação Asa Branca em 2008, do prêmio Arte na Escola Cidadã 2009, Educador Nota 10 2017 e Professores do Brasil 2017 (etapa estadual). Atualmente é professora de Arte da Prefeitura do Recife.
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