Professora de EJA cria projeto de alfabetização sobre preconceito
Ao promover a reflexão compartilhada sobre a discriminação, projeto combate a evasão e ajuda alunos a avançarem na leitura e na escrita
03/10/2019
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Jornalismo
03/10/2019
Ouvido na roda de conversa, o relato de uma estudante, que discorreu sobre os motivos que a levaram, ainda criança, a parar de estudar e os preconceitos que sofreu ao longo da vida, inspirou a professora Nilma Sladkevicius, de Língua Portuguesa, a criar o projeto Um Sorriso Negro, Um Abraço Negro, da EMEF Luiz Bortolosso, em Osasco (SP), um dos projetos selecionados para o prêmio Educador Nota 10 de 2019. “O relato motivou uma série de histórias sobre preconceito”, recorda.
Com 16 anos dedicados à Educação de Jovens e Adultos (EJA), Nilma dividiu a sequência didática em duas partes. Na primeira, pediu à turma – em sua maioria migrantes nordestinos de 24 a 71 anos – que listasse os preconceitos já sofridos. “Gostei de discutir racismo na aula. Infelizmente, vivencio todo santo dia”, lamenta Pedro dos Santos, de 68 anos.
Em seguida, entrevistaram pessoas sobre discriminação e contabilizaram os dados em uma planilha apelidada de “tabela do preconceito”. “Racismo, machismo e gordofobia estão entre os mais citados. O que mais sobressaiu, porém, foi o preconceito contra analfabeto. Muitos relataram a vergonha que sentem e os mecanismos que usam para esconder essa condição”, revela a docente.
Na segunda parte, propôs a leitura coletiva da biografia de personalidades negras. “A preferida foi Carolina de Jesus”, conta. Catadora de papel, ela registrava o cotidiano da favela nos cadernos que encontrava no lixo, transformados posteriormente no livro Quarto de Despejo. Por fim, Nilma estimulou os alunos a escrever suas próprias biografias.
O projeto culminou em uma visita ao Museu Afro Brasil, em São Paulo. O maior medo da docente, o da evasão, revelou-se injustificado. A turma começou com 18 alunos e acabou com 51. Resultado: a Luiz Bortolosso abriu outra turma. “Queria mostrar que, se espelhando em personagens negros, eles também podem superar os estigmas causados pelos preconceitos e construir suas novas identidades como cidadãos capazes de se tornar a mudança que queremos ver em nosso país”, afirma.
A maior qualidade do projeto para a selecionadora do Prêmio Educador Nota 10, Miruna Kayano, foi selecionar um tema relevante para os alunos, sem perder de vista o avanço na leitura e escrita. Por meio da reflexão compartilhada sobre preconceito, a professora propôs situações potentes de leitura e registros de respostas. “Como é um projeto pensado a partir dos levantamentos feitos pelo grupo da professora Nilma, é importante que os docentes que queiram colocá-lo em prática entendam esta seleção de temas para que possam organizar as propostas adequadas”, orienta.
A EDUCADORA
Nome Nilma Sladkevicius
Escola EMEF Luiz Bortolosso
Cidade Osasco (SP)
Etapa Educação de Jovens e Adultos (EJA) - Multisseriada (1º ao 5º ano)
O PROJETO
Um Sorriso Negro, Um Abraço Negro
POR QUE É ESPECIAL
Eu, por mim mesmo
Inspire-se no projeto para propor a produção de autobiografias
Indique biografias
Escolha um recorte que faça sentido para a turma: selecione histórias de pessoas negras, de mulheres etc. O projeto de Nilma trouxe as biografias de personalidades como a escritora Carolina Maria de Jesus e Nelson Mandela.
Estimule a escrita de histórias de vida
Para ajudar os estudantes na tarefa, elabore uma espécie de guia ou manual. Oriente os alunos a começar pelas informações básicas: nome, filiação, estado civil, local e data de nascimento etc.
O que é importante
Após as informações iniciais, instigue a turma com perguntas como “que tal falar de algo que considera importante em sua vida?”
No ritmo deles
Caso sua turma seja multisseriada, é importante levar em consideração e respeitar o aprendizado de cada um.
Fotos: Roberto Setton/NOVA ESCOLA
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