Professora transforma corpo dos alunos em suporte para Arte
Trabalhando com materiais locais, Maria da Paz Melo colocou recursos naturais na aula e deu liberdade artística para estudantes em Minas Gerais
14/10/2019
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Jornalismo
14/10/2019
A professora Maria da Paz Melo já estava acostumada com lápis de cor, giz de cera, tintas e pinceis espalhados pela sala de aula, mas aquela aula de Arte foi diferente. Um novo elemento invadia a turma multisseriada da Escola Municipal Valéria Junqueira Paduan, na zona rural de Santa Rita do Sapucaí (MG): o carvão mineral. Bastou apenas um momento para ela perceber alguns alunos com os rostos pintados com pedaços do material que haviam encontrado nos arredores da escola. “Quando olhei, levei um baita susto, mas logo pensei: se eles querem explorar outras coisas, então vamos fazer”, lembra a educadora.
O episódio deu origem ao projeto O Corpo Como Suporte do Desenho, cujo objetivo foi dar às crianças a liberdade para experimentar novas formas de criar. O caminho percorrido para isso foi curto. Bastou ir ao “quintal” da escola, originalmente uma fazenda, para se deparar com uma série de recursos naturais. Dali em diante, troncos, pedras, galhos e folhas passaram a fazer parte das aulas de Arte. “Tenho para mim que o desenho não tem um fim, não há o que pode ou o que não pode. Por isso usamos tudo que estava ao alcance para explorar outras possibilidades, fosse desenhando no corpo, no papel ou no chão”, conta Maria da Paz, vencedora do Prêmio Educador Nota 10 de 2014 pela iniciativa.
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A professora incentivou os alunos a seguirem sua imaginação e desenhar o que sentissem vontade, sem se importar se ficaria “bom”, “ruim” ou “diferente”. O intuito era que as crianças colocassem a própria identidade no desenho. Eles não só desenharam como também esculpiram formas. As atividades ampliaram o repertório e as possibilidades artísticas das crianças que, em sua maioria, pertenciam a um contexto de vulnerabilidade social.
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O resultado surpreendeu Maria da Paz, que na época aboliu o uso da borracha e da máxima que “isso ou aquilo não pode” durante suas aulas. “Fiquei espantada como alguns alunos desenvolveram uma linguagem específica deles. O desenho é um modo de perceber e expressar o que sentimos, então foi um trabalho muito bonito. O maior prazer da minha carreira foi lecionar para aquela turma”, diz a educadora, aposentada há três anos.
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Para Maria da Paz, praticamente qualquer professor pode replicar seu projeto. Além de aproveitar elementos da natureza, basta estar atento a materiais que, em princípio, são descartáveis. “O professor precisa desafiar os alunos, ter iniciativa, é preciso fazer acontecer”, incentiva. No mais, é só usar e abusar da imaginação e da criatividade, pesquisar possibilidades e se adaptar à realidade local.
O projeto teve duração de um ano e cada etapa foi desenvolvida em aproximadamente 4 aulas. Abaixo um exemplo que pode ser seguido.
1. Bate-papo inicial sobre o que será trabalhado na aula em questão, ver e sentir os materiais
2. Disponibilizar os materiais para que cada um possa fazer sua escolha
3. Início do processo criativo
4. Fechamento da aula e avaliação de cada um com relação ao próprio trabalho.
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