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Jornalismo

Robótica na prática: experiências de sucesso mostram como desenvolver competências e criar oportunidades

Veja como duas escolas trabalham a robótica com seus alunos e os ganhos na aprendizagem e projeto de vida

PorDébora Garofalo

31/07/2019

Alunos da Escola Municipal Aloys João Mann, em Cascavel, no Paraná, controlam os robôs que produziram
Alunos da Escola Municipal Aloys João Mann, em Cascavel, e seus robôs  Foto: Acervo Thiago Sodré

O ensino de robótica no Brasil vem crescendo a cada dia nas salas de aula. Por onde tenho passado, tenho recebido mensagens de muitos professores que têm se interessado pelo tema para alavancar a aprendizagem dos estudantes.

O ensino do pensamento computacional e robótica permite que a aprendizagem seja atrativa, ao possibilitar que os estudantes transformem problemas reais em currículo ao trabalhar com colaboração, empatia de forma interdisciplinar, podendo trabalhar com kits específicos e ou com materiais não estruturados.

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E para mostrar como isso pode ocorrer na prática, vamos contar a história de dois professores da rede pública de ensino: um que atua no Sul e outro do Nordeste do Brasil. Vamos lá! 

Na prática 1: robótica para desenvolver competências

Em 2014, com recursos do Programa Mais Educação do MEC, a instrutora Márcia Regina Kaminski teve a ideia de colocar de pé o Projeto de Robótica da Escola Municipal Aloys João Mann, em Cascavel, no Paraná. O novo espaço permitiu que os códigos produzidos no computador pelos alunos durante as aulas de programação se tornassem algo que eles pudessem tocar com as mãos e não somente ver os resultados de suas produções na tela do computador.

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Com muito trabalho, dedicação e perseverança da comunidade escolar – direção, coordenação, professores, pais e alunos –, parcerias e doações foi possível preparar e organizar esse espaço com Kits de Robótica, mobiliário, equipamentos eletrônicos, ferramentas e computadores.

Dois alunos da Escola Municipal Aloys João Mann trabalham com os robôs que construíram
Foto: Acervo Thiago Sodré

Hoje as aulas são ministradas por Thiago Sodré e são direcionadas a turmas seriadas de 8 a 16 alunos, duas vezes na semana. Todos os alunos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental I podem participar de até 4 horas semanais, no contraturno escolar.

Thiago conta que as aulas são propostas em forma de desafios diários ou semanais, com momentos de aprendizagem mesclados com execução, criatividade, ludicidade e organização. Essas atividades fazem a ligação com conteúdos aprendidos dentro de sala, com conceitos de robótica, eletrônica e programação.

“O trabalho com kits de robótica permite ensinar de forma lúdica os conceitos de programação e eletrônica, desafiando o aluno a realizar as atividades e compreender como as coisas funcionam”, afirma Thiago. “Isso permite a interação do virtual com o real, colocando o aluno como ser atuante do processo de produção e desenvolvimento de objetos robóticos e o centro do processo de ensino e aprendizagem”.

O trabalho realizado por Thiago Sodré passa pelo desenvolvimento da coordenação motora, desenvolvimento da fala e melhoria da atenção. As dificuldades vão evoluindo de acordo com as turmas, de olho no propósito de fazer com que os alunos possam interagir ao mesmo tempo que adquirem responsabilidades e conhecimentos.

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Os estudantes de 5º ano trabalham no projeto Taturana. Eles são desafiados a montar e programar um robô, que poderão depois levar para casa ao final. O projeto possui 6 etapas: montar, controlar, desviar de objetos, seguir linha, lutar sumô e comunicar-se via Bluetooth. Baseado em hardwares abertos e tecnologias livres, materiais impressos em 3D, alguns parafusos, trabalho manual e muita programação, os alunos dão vida e nome a seus robôs. 

O professor que leva os alunos nessa jornada pelo mundo maker tem que fomentar ideias, propor desafios e metas, questionar resultados e ouvir muitas e muitas explicações. Para Thiago, o ensino de robótica abre um universo cheio de oportunidades para os alunos. “Propiciar atividades práticas e lúdicas que exercitam as funções cognitivas e motoras permite que os alunos tenham subsídios para compreender o funcionamento, trabalho e tecnologia embarcados nos objetos do nosso cotidiano”, explica. Segundo ele, os estudantes desenvolvem competências para “produzir suas próprias soluções para as pequenas atividades do dia a dia”. 

Na prática 2: robótica para reciclagem

O professor André Cardoso guiou seus alunos no projeto Robótica Sustentável aplicado na E.E.F.M Dom Helder Câmara, em Fortaleza, no Ceará. Nesta escola, os estudantes do Ensino Médio criaram um ecossistema de reciclagem de lixo eletrônico e materiais reciclados, transformando estes materiais em projetos de robótica. 

O projeto funciona no contraturno ao currículo regular. Os estudantes transformaram o laboratório de Ciências em um espaço maker e criaram um espaço de coleta de resíduos. 

“Com a captação dos materiais e as pesquisas em eletrônica básica e em robótica, saíram projetos que utilizam material reciclado mais abundante da região, o papelão. Além dos projetos utilizarem as três áreas da robótica: mecânica, eletricidade/eletrônica e programação”, diz André.

Alunos da E.E.F.M. Dom Helder Câmara, em Fortaleza, no espaço onde produzem robôs com materiais reciclados
Foto: Acervo André Cardoso

As atividades desenvolvidas nesse espaço vão desde aprendizagem de eletrônica básica a projetos de robótica mais complexa, nos quais o reaproveitamento total de resíduos (baterias de notebook, cabos USB, motores de DVD, motores de impressora, fios, USB fêmeas, chaves inversoras, etc) até o desenvolvimento dos próprios aplicativos, utilizando software gratuito (App Inventor). 

Esse trabalho proporciona integração com o conteúdo e o desenvolvimento de pesquisa em projetos. Segundo André, a robótica sustentável é um exemplo de como fazer projetos de robótica para adolescentes e engajar os jovens em projetos para o futuro, mostrando que o Ensino Médio não é uma época de preocupações e dúvidas, mas um momento em que podem criar, produzir e reimaginar conceitos básicos dos conteúdos em sala de aula – abrindo oportunidades para que conheçam o mundo. O que falta para isso se tornar realidade em outras escolas? 

“É a quebra de barreiras”, resume o professor André Cardoso. “O professor muitas vezes tem que vencer barreiras do sistema, da instituição, dos colegas, dele mesmo e dos próprios alunos para vencer seus medos e suas dúvidas em relação a um futuro que é inovador, mas não é tradicional. E como é possível? É dar chance a esses talentos, com responsabilidade, gerando oportunidade e criatividade para eles sonharem com o mundo novo, proporcionando ressaltar os seus talentos e proporcionar oportunidade de serem protagonistas da sua própria história”.

E você, querido professor, como trabalha com o ensino de programação e robótica em suas aulas. Conte aqui nos comentários e não deixe se inspirar nestas duas histórias.

Um abraço,

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil e uma das dez finalistas do Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

André Cardoso, é professor e fundador da Robótica Sustentável. Mestre em Recursos Naturais. Leva todos a conhecerem uma nova forma de fazer robótica, com material reciclado e lixo eletrônico, fazendo da sustentabilidade mais tecnológica.

Thiago Sodré - Tecnólogo em Processamento de Dados, Técnico em Multimeios Didáticos, Instrutor de Informática e Robótica Educacional da Rede Pública Municipal de Cascavel-PR. Organizador do Projeto Taturana como objeto de ensino de Programação e Robótica para Crianças. Ensina de Robótica para Crianças de 8 a 12 anos, Como forma de estimular o Pensamento Computacional, Leitura e Escrita, reforçando os conteúdos de sala de aula.

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