Escrita pré-silábica: no que devemos prestar atenção
Veja o que deve ser feito (e evitado) no processo de ensino e aprendizagem das crianças nessa hipótese de escrita
19/06/2019
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo! Cadastre-se ou faça login
Compartilhe:
Jornalismo
19/06/2019
Quando as pessoas estão aprendendo a ler, formulam ideias sobre o funcionamento da língua escrita. Essas teorias internas evoluem por meio de reflexões que o próprio aluno faz sobre o sistema de escrita e or meio das interações com o ambiente. Esse processo de evolução do pensamento foi classificado em quatro hipóteses pelas teóricas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky: pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética.
LEIA MAIS O que é hipótese silábica
Cada uma dessas hipóteses tem características próprias, que pedem intervenções específicas. Nova Escola começa hoje uma série de reportagens com dicas práticas do que fazer e do que evitar no processo de ensino e aprendizagem na Alfabetização, considerando cada uma das hipóteses. Desta vez, vamos conversar sobre as crianças que têm escrita pré-silábica. Veja a seguir:
As crianças, muitas delas ainda na Educação Infantil, já pensam sobre a escrita e fazem registros a seu modo. No início, quando ainda não percebem a escrita como uma representação do que é falado, constroem a chamada hipótese pré-silábica, dividida em dois níveis. No primeiro, inicial, tentam diferenciar o desenho da escrita: o que é possível ler? No segundo nível, perseguem a ideia de que é necessário usar uma quantidade mínima de letras (no mínimo três, geralmente) para escrever o que quer que seja e de que é imprescindível a diversidade de letras. As produções nessa hipótese de escrita são marcadas pela não correspondência entre partes do falado e partes do escrito, ou seja, sem correspondência sonora. Também são características o uso aleatório de letras e preferência por algumas letras independentemente da palavra a ser escrita (a criança pode insistir no uso de letras do próprio nome, pois é um modelo conhecido que gera confiança e funciona como um pequeno alfabeto para ela). Ainda podem ser encontrados nessa hipótese de escrita outros elementos gráficos, como números, e até mesmo garatujas (chamados de rabiscos, minhocas). Mesmo nesses registros primitivos, existe muita intencionalidade por parte dos pequenos: alguns já escrevem da esquerda para a direita e na horizontal, revelando que conhecem algumas características do nosso sistema de escrita.
Exemplos
AJFABEOIP para PANELA
ABEV para MAÇÃ
ICLO para BEXIGA
DO8C para BOLO
LEIA MAIS Vygotsky e o conceito de zona de desenvolvimento proximal
Ensinar primeiro o alfabeto para depois começar o trabalho de escrita de palavras e de textos. A criança com hipótese pré-silábica pode ter contato com textos mais longos, para além de listas.
Dar como tarefa o recorte de letras do alfabeto, ensinar a letra inicial das palavras ou ser exposto somente ao trabalho com palavras.
Pedir que os alunos escrevam usando letras maiúsculas e minúsculas ou letra cursiva. O adequado é explorar o uso da letra de imprensa maiúscula sempre, para que eles se concentrem nas demandas necessárias para esse momento do processo: quais letras usar e em que ordem.
Concluir que crianças que recorrem a números para escrever uma palavra não sabem diferenciar, necessariamente, letras de números. É perfeitamente possível que, em alguns casos, elas saibam disso, porém, durante a tarefa da escrita, recorram a um número como um elemento para conseguir diferenciar um registro de outro. Por exemplo: uma menina escreve BRL para PORCO e BRL também para GATO. Ao ser questionada sobre as escritas serem iguais, resolve a questão assim: BRL8.
Pedir que as crianças escrevam textos longos. Elas tendem a se desinteressar pelo desafio já que ainda não dominam a escrita de palavras e se perdem quando questionadas sobre o que escreveram. No entanto, como o trabalho com textos maiores é bem-vindo, ele deve ficar a cargo do professor no papel de escriba.
Vale ressaltar que, mesmo que as crianças ainda não escrevam de modo convencional, todos os saberes são importantes e é válido trabalhar com desafios que colocam a língua em sua função comunicativa, ou seja, desafiá-las a escrever com alguma finalidade. Além disso, as intervenções não têm efeito mágico. Após realizar uma, não se pode esperar que as crianças passem a escrever tudo corretamente, como se bastasse informar para os alunos aprenderem e então darem respostas corretas. Essa expectativa se contrapõe à ideia de processo. Ao intervir, garantindo a frequência nas atividades de análise e reflexão sobre o sistema da escrita, o professor deve permitir que os pequenos façam as reestruturações necessárias progressivamente.
Confira as outras reportagens da série:
Você sabe o que é a escrita silábica sem valor sonoro convencional?
Escrita silábica com valor sonoro: o que observar para ajudar a turma a avançar
Hipótese silábico-alfabética: como ajudar as crianças a chegar mais perto da escrita convencional
Escrita alfabética: como ajudar as crianças que já produzem registros bem próximos ao convencional
Últimas notícias