Compartilhe:

Jornalismo

 

 

 

Para ler e escrever bem: o aluno Arthur Nogueira Godinho, CIEP 239, em Trajano de Moraes, participa de aula de reforço Foto:Gilvan Barreto
Para ler e escrever bem: o aluno Arthur Nogueira Godinho, CIEP 239, em Trajano de Moraes, participa de aula de reforço Foto:Gilvan Barreto

O ano de 2006 ainda não acabou para quem se debruçou sobre as notas da Prova Brasil. O mal-estar gerado pela publicação dos resultados, em junho do ano passado, ainda não foi digerido pela parcela da população que se preocupa, de fato, com os rumos da Educação. Só uma análise minuciosa dos números e uma ampla discussão podem ser capazes de desenhar um 2007 e um futuro melhores para o Brasil. "Nenhuma pesquisa educacional faz sentido se não produzir mudanças", afirma Jorge Werthein, doutor em Educação pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e assessor espe- O cial da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). A Prova Brasil foi criada com o propósito de refinar a avaliação da Educação Básica, feita pelo Ministério da Educação desde a década de 1990. Com essa mudança, o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) passou a ser composto de duas provas nacionais: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc). A primeira é o próprio Saeb, um teste realizado por amostragem nas redes de ensino, com foco na gestão dos sistemas educacionais. A segunda é a Prova Brasil, uma avaliação de caráter universal que pretende atingir todas as escolas. O teste fez sua estréia em 2005 em instituições de ensino de áreas urbanas com no mínimo 30 alunos nas classes de 4ª e 8ª séries. Cerca de 3,3 milhões de estudantes matriculados em 40 mil colégios de 5 398 municípios responderam a questões de múltipla escolha de Língua Portuguesa e Matemática. Os resultados apontaram um cenário longe do ideal educacionais). aliás, como já tinha ocorrido com o Pisa (Programme for International Student Assessment), aplicado a cada três anos em estudantes de 15 anos de mais de 40 países. Na Prova Brasil, numa escala de notas que vão de 125 a 350, as turmas de 4a série atingiram um desempenho médio abaixo de 200 pontos - 172,91 em Língua Portuguesa e 179,98 em Matemática (conheça as principais competências avaliadas pelo MEC nos quadros destas duas páginas). Na 8a série, a situação é ainda mais preocupante: os jovens foram tão mal na média que só dominam os conteúdos previstos para os estudantes da 4a série. Outros dados importantes indicam que as escolas estaduais se saíram melhor que as municipais (vale lembrar que essas últimas são as responsáveis pelo Ensino Fundamental, principalmente de 1a a 4a série) e que as notas são piores no Norte e no Nordeste, como era de esperar, já que, dos 100 municípios mais pobres do país, todos estão localizados nessas regiões (leia o gráfico na página anterior com as médias de desempenho por região). No país todo - e mais fortemente nessas regiões -, milhões de crianças têm acesso à escola, freqüentam as aulas, mas aprendem pouco, muito pouco. "Uma das medidas mais urgentes é a implantação de uma política de discriminação positiva nesses estados. E não basta pensar a curto prazo, mas estabelecer metas para 30 ou 40 anos, e não só para o atual mandato", afirma Jorge Werthein. É preciso reconhecer que a existência do teste é um dado auspicioso, pois ajuda a fixar a importância de avaliar o desempenho dos estudantes (o que eles aprenderam, de fato, dos conteúdos curriculares previstos para sua idade e série) como principal mecanismo de controle da qualidade do que é ensinado dentro de sala de aula. Em outras palavras, não basta a escola dizer que ensina se ninguém aprende - assim como os anos de estudo tampouco significam mais nada. É óbvio que é possível fazer críticas ao teste criado pelo MEC (afinal, dificilmente haverá um modelo 100% perfeito). Muito mais importante é começar a construir, de uma vez por todas, uma cultura de que a avaliação é o caminho para sair desse buraco em que, todos concordamos, nossa Educação se encontra.

BOLETIM DO ALUNO BRASILEIRO
Veja como são apresentadas as notas da Prova Brasil e as competências consideradas em cada um dos níveis da escala na disciplina de LÍNGUA PORTUGUESA
Até 125 Lê textos curtos, como contos infantis e gibis; localiza informações explícitas e deduz as implícitas; reconhece o personagem principal, os elementos não verbais e a finalidade de um texto; e domina a linguagem coloquial.
Até 150 Localiza informações explícitas em textos narrativos, poéticos, informativos e em anúncio de classificados; deduz informações e identifica o perfil de determinada personagem; e interpreta elementos gráficos em gibis e poemas.

Até 175 Entende narrativas mais complexas e incorporar novos tipos
de texto como matérias de jornal, verbetes de enciclopédia, poemas longos
e prosa poética. Identifica o efeito de sentido produzido pelo uso
da pontuação, efeitos de humor e o significado de uma palavra pouco usual,
as marcas lingüísticas que diferenciam o estilo de linguagem em textos
de gêneros distintos. O ALUNO BRASILEIRO DE 4ª SÉRIE ESTÁ NESTE NÍVEL: NOTA 172,91

Até 200 Reconhece algumas figuras de linguagem, como uma metáfora; identifica o desfecho de um conflito, a organização temporal da narrativa
e o tema de um poema; e estabelece relação entre textos verbais
e não verbais de diferentes gêneros.
Até 225 É capaz de distinguir o sentido metafórico e o literal de uma expressão; compreende o sentido de textos longos com temáticas e vocabulário complexos e localiza informações em texto instrucional, narrativo, argumentativo e poético.
Até 250 Demonstra capacidade de síntese; identifica a finalidade de uma fábula, de uma anedota e de uma história em quadrinhos; consegue distinguir os efeitos mais sutis de humor em um texto irônico.
Até 275 Em textos longos, com tema e vocabulário complexos, identifica relação lógico-discursiva marcada por locução adverbial de lugar, advérbio de tempo ou termos comparativos; diferencia a parte principal das secundárias em texto informativo que recorre à exemplificação.
Até 300 Reconhece as marcas lingüísticas que identificam o locutor
e o interlocutor no texto, caracterizadas por expressões idiomáticas.
Até 325 e 350 Esses níveis envolvem somente conteúdos de 8ª série.

O custo do atraso

A educadora argentina Emilia Ferreiro, num artigo sobre o tema que NOVA ESCOLA On-Line publica com exclusividade em português, destaca que a aprendizagem só ocorre se entrarem em cena os três elementos a seguir: o conteúdo a ser aprendido, o aprendiz e o responsável por fornecer as condições necessárias à aprendizagem. "Se o aluno obtém um baixo desempenho, a responsabilidade não é unicamente dele. A forma de avaliar as situações efetivas que favorecem a obtenção de determinada competência supõe emitir dúvidas sobre a qualidade da intervenção educativa", escreve ela. Prova Brasil, uma avaliação de caráter universal que pretende atingir todas as escolas. O teste fez sua estréia em 2005 em instituições de ensino de áreas urbanas com no mínimo 30 alunos nas classes de 4ª e 8ª séries. Cerca de 3,3 milhões de estudantes matriculados em 40 mil colégios de 5 398 municípios responderam a questões de múltipla escolha de Língua Portuguesa e Matemática. Os resultados apontaram um cenário longe do ideal - Para Pedro Demo, professor de Políticas Sociais e Metodologia Científica da Universidade de Brasília, "o primeiro movimento diante de números como os da Prova Brasil é crucificar a escola e, em particular, os professores, mas não podemos adotar a política do avestruz e achar que a culpa é só do aluno ou do governo, que investe pouco em Educação". Segundo dados da Unesco, o Brasil gasta em torno de 4,3% do Produto Interno Bruto com Educação, porcentagem bastante semelhante à de muitos países desenvolvidos. O problema é que o dinheiro não é usado corretamente para promover a qualidade do ensino. A repetência continua a consumir metade desses investimentos e a produzir a enorme distorção idade/série que tanto nos envergonha. Em 2000, de cada 100 matriculados no Ensino Fundamental, 42 não tinham a idade adequada à série que cursavam. Isso significa cerca de 8 milhões de alunos a mais que o correto. Esse atraso apareceu de forma cristalina no desempenho da Prova Brasil: estudantes na idade correta tiveram média 183 na avaliação nacional, e os que têm um ano de atraso ficaram com 20 pontos a menos. Samuel Pessoa, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, ambos da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, é mais incisivo. Ele aponta que o tipo de contrato de trabalho que se estabelece entre o setor público e os profissionais da Educação gerou um corporativismo na categoria impensável entre outros tipos de trabalhadores. "Se o professor falta, não é punido no bolso e poucos têm coragem de discutir a culpa dele quando o aluno fracassa. Tudo é responsabilidade do sistema e ficamos por isso mesmo", ataca.

BOLETIM DO ALUNO BRASILEIRO
Veja como são apresentadas as notas da Prova Brasil e as competências consideradas em cada um dos níveis da escala na disciplina de LÍNGUA PORTUGUESA
Até 125 Lê textos curtos, como contos infantis e gibis; localiza informações explícitas e deduz as implícitas; reconhece o personagem principal, os elementos não verbais e a finalidade de um texto; e domina a linguagem coloquial.
Até 150 Localiza informações explícitas em textos narrativos, poéticos, informativos e em anúncio de classificados; deduz informações e identifica o perfil de determinada personagem; e interpreta elementos gráficos em gibis e poemas.

Até 175 Entende narrativas mais complexas e incorporar novos tipos
de texto como matérias de jornal, verbetes de enciclopédia, poemas longos
e prosa poética. Identifica o efeito de sentido produzido pelo uso
da pontuação, efeitos de humor e o significado de uma palavra pouco usual,
as marcas lingüísticas que diferenciam o estilo de linguagem em textos
de gêneros distintos. O ALUNO BRASILEIRO DE 4ª SÉRIE ESTÁ NESTE NÍVEL: NOTA 172,91

Até 200 Reconhece algumas figuras de linguagem, como uma metáfora; identifica o desfecho de um conflito, a organização temporal da narrativa
e o tema de um poema; e estabelece relação entre textos verbais
e não verbais de diferentes gêneros.
Até 225 É capaz de distinguir o sentido metafórico e o literal de uma expressão; compreende o sentido de textos longos com temáticas e vocabulário complexos e localiza informações em texto instrucional, narrativo, argumentativo e poético.
Até 250 Demonstra capacidade de síntese; identifica a finalidade de uma fábula, de uma anedota e de uma história em quadrinhos; consegue distinguir os efeitos mais sutis de humor em um texto irônico.
Até 275 Em textos longos, com tema e vocabulário complexos, identifica relação lógico-discursiva marcada por locução adverbial de lugar, advérbio de tempo ou termos comparativos; diferencia a parte principal das secundárias em texto informativo que recorre à exemplificação.
Até 300 Reconhece as marcas lingüísticas que identificam o locutor
e o interlocutor no texto, caracterizadas por expressões idiomáticas.
Até 325 e 350 Esses níveis envolvem somente conteúdos de 8ª série.

Projetos de melhoria

Para que os resultados da Prova Brasil surtam efeito positivo, é preciso usá-los para reforçar o ensino dos itens que estão ruins, afirmam todos os especialistas. Algumas escolas, felizmente, conquistaram boas notas. Dessas, 33 foram objeto do estudo Aprova Brasil, o Direito de Aprender, feito em parceria pelo Unicef e pelo MEC. Fernando Haddad, ministro da Educação, afirmou no lançamento do documento que não há dúvidas de que as instituições citadas também têm desafios e dificuldades, mas que seus pontos positivos precisam ser mostrados à sociedade. "Reconhecer isso é o primeiro passo", afirmou. Esse é o espírito da reportagem que você vai ler a seguir. Nas próximas 12 páginas, NOVA ESCOLA apresenta as seis escolas que tiveram as melhores médias na Prova Brasil na 4a série. Isso não significa que elas sejam as melhores do país, apenas que foram bem nessa importante avaliação. Algumas reconhecem que chegaram a se surpreender com o resultado alcançado. De fato, parte delas sabe apenas fazer bem o "arroz com feijão", ou seja, ensinar os alunos a ler, escrever e fazer as operações matemáticas básicas. O que,diante do quadro atual, não é pouco. Todas também reconhecem a importância de seis fatores que, em maior ou menor grau, influenciam a qualidade do ensino: a formação inicial e continuada do corpo docente, a força do trabalho de equipe, o papel do diretor, a participação da comunidade, a importância da leitura e, claro, o valor que a própria avaliação tem no dia-a-dia para melhorar a aprendizagem de todas as crianças. Resta torcer para que essas e todas as outras escolas que obtiveram bons resultados na Prova Brasil continuem acreditando que é preciso fazer a diferença. E as que não se saíram tão bem, que façam da avaliação um sinalizador dos conteúdos e projetos que precisam ser explorados daqui para a frente. Afinal, todo mundo tem o direito de aprender (leia a nova categoria especial do Prêmio Victor Civita que premiará as escolas públicas que implementaram melhorias educacionais).

Só um time unido chega lá

No interior do estado do Rio, a valorização do trabalho coletivo dos professores tem reflexo direto na melhoria do desempenho dos alunos - os mais bem avaliados na Prova Brasil

Ninguém duvida que uma boa infra-estrutura é imprescindível para a qualidade da Educação.Mas não há quadra de esportes, laboratório de informática e biblioteca que garantam, isoladamente, um bom ensino. É preciso um grupo afinado de professores e gestores com os mesmos interesses e em sintonia no trabalho diário para fazer funcionar bem uma escola. A lição - que não é nova nem mágica - foi provada e aprovada pelo CIEP 279 Professora Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Moraes, a 185 quilômetros do Rio de Janeiro. Lá estão os alunos que tiveram o melhor desempenho em Língua Portuguesa e o segundo melhor em Matemática na Prova Brasil. A escola não desenvolve nenhum projeto inovador ou bombástico. Tudo é básico, simples e eficiente: planejamento sério, projeto pedagógico focado na leitura e escrita e, principalmente, trabalho efetivamente em conjunto da equipe pedagógica de 1ª a 4ª série. O time foi formado em 1994 e há 13 anos atua junto. "Conheci meus colegas no Magistério.A amizade e o entrosamento facilitaram a construção de um projeto comum de ensino", conta o diretor Elielton Moreira Riguetti. O que isso significa na prática? Que eles gastam mais tempo elaborando projetos e atividades e aproveitando os recursos disponíveis do que disputando espaços e lamentando carências. Em outras palavras, essa turma tem identidade coletiva e estabeleceu relação de responsabilidade com o saber, postura adquirida com experiência e formação. No fim deste ano, todos concluirão, juntos, o curso de Pedagogia oferecido pela rede estadual.

CIEP 200 279 Professora Guiomar Gonçalves Neves

Rod.RJ-174, 28750-000, Trajano de Moraes, RJ, tel. (22) 2564-1136

DESEMPENHO NA PROVA BRASIL (4ª SÉRIE)
MATEMÁTICA
286,54
2º LUGAR
LÍNGUA PORTUGUESA
287,26
1º LUGAR
Média do Brasil 179,98
Média do RJ 184,44
Média do Brasil 172,91
Média do RJ 178,40

INDICADORES (EM%) *
APROVAÇÃO 76,2
MÉDIA DO BRASIL 84,4
MÉDIA DO RJ 82,3
REPROVAÇÃO 23,8
MÉDIA DO BRASIL 11,2
MÉDIA DO RJ 13,8
ABANDONO 0
MÉDIA DO BRASIL 4,4
MÉDIA DO RJ 3,9


Fonte: Censo Escolar 2004

ESTRUTURA DA ESCOLA

392 Alunos
33 Professores (23 têm nível superior)
34 Funcionários
10 Salas de aula
(S) Biblioteca
(S) Laboratório de informática (Recém-inalgurado, sem acesso a internet.)
(S) Outros laboratórios
(S) Quadra

Troca de experiências

Assim, o período integral de aulas, os concursos de redação, a freqüência à biblioteca e as aulas de reforço funcionam bem porque a equipe entra em sintonia nos encontros diários, que duram duas horas. Em duplas ou trios, professores e coordenadores discutem as melhores estratégias de ensino, trocam idéias e tiram dúvidas. O grupo todo se reúne uma vez por mês. "Sempre repensamos nossas práticas e procuramos entender o motivo pelo qual determinado aluno não avança", explica Andréa Magia, professora de 3ª série.As atitudes reflexivas, somadas ao sentimento de grupo, fazem toda a diferença na aprendizagem dos estudantes, que têm mais chance de se recuperar quando suas dificuldades são rapidamente detectadas."Uma criança não pode ficar patinando em sala de aula. É papel de todo professor agir de maneira certa e objetiva para não acabar com a motivação e o interesse dela." Fácil? Não exatamente, mas fica mais difícil quando o trabalho é solitário (leia mais sobre o papel de uma equipe unida no quadro ao lado).Nas aulas de reforço, com um grupo menor de alunos, Andréa usa outras estratégias didáticas e materiais especialmente produzidos para atender às necessidades dos estudantes. A consciência de responsabilidade para com os resultados, independentemente dos métodos utilizados, tem feito com que as crianças dominem bem competências básicas da língua, como saber ler e escrever com desenvoltura. Elas só não tiveram nota melhor porque ainda apresentam dificuldades para entender um texto argumentativo, com alta complexidade lingüística, e um texto informativo de divulgação científica. Mas nem tudo são flores por aqui. O prédio desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer - como todos os CIEPs - pede uma reforma urgente e só neste ano os alunos abrirão as portas do mundo digital: chegaram dez computadores. A escola tem também classes da 5ª série ao Ensino Médio - e o clima de trabalho é o mesmo. Além das aulas de reforço, os jovens participam de atividades de Arte, teatro, capoeira e esportes no contraturno e nos fins de semana. O diretor aposta: na próxima avaliação, as turmas de 8ª série serão destaque.

UNIÃO E BAIXA ROTATIVIDADE

FERNANDO JOSÉ DE ALMEIDA

Uma boa escola é feita de alunos, livros, projetos bem geridos e alma. E qual é a alma da escola? É a equipe de professores e de gestores que dão continuidade às idéias e aos planos coletivos e respondem ao interesse dos alunos (um grupo sempre mutante). Trabalhei 25 anos numa escola de Ensino Médio cuja equipe se manteve, em média, junta durante 15 anos. Mesmo os professores novatos encontravam um raro clima de continuidade. O que já foi dado de conteúdo? Como estão as turmas? Quais experimentos já fizeram no laboratório? Que livros leram? Quais atividades foram realizadas e agradaram aos jovens? Como funciona o conselho de classe? Qual a importância das reuniões pedagógicas para o apoio dos professores? Só é boa a instituição que consegue responder a questões como essas, feitas por quem está chegando. Só sabe dar tais respostas a escola que tem união, memória e continuidade de ações. Manter uma equipe unida e com baixa rotatividade é uma das formas mais eficientes de fazer política educacional. Política entendida como o conjunto consistente de idéias e sua permanência no tempo. Mesmo que as idéias sejam de qualidade enorme - como as de Paulo Freire, por exemplo -, elas não bastam se não houver continuidade em sua prática. A primeira condição para a união da equipe é a continuidade sistemática das reuniões pedagógicas - realizadas toda semana, com pauta definida, registro, conseqüências e diálogo na forma de debate de propostas e práticas pedagógicas. O fundamento dessa união é o respeito às decisões que o grupo toma, responsabilidade do coordenador pedagógico, que articula a riqueza do que os professores fazem e dos bons resultados que alcançam. Só uma boa coordenação consegue aproveitar ao máximo as ações criativas do corpo docente, acompanhá-lo, dar-lhe estímulo, corrigir rotas, divulgar as conquistas com o orgulho de quem é companheiro de caminho e de ideais. União e permanência: isso é tarefa da gestão escolar.

FERNANDO JOSÉ DE ALMEIDA é professor do programa de pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica, em São Paulo

Diretor? Presente

No colégio com a média mais alta em Matemática e a segunda em Língua Portuguesa, o olhar atento do chefe da equipe faz a diferença

COLÉGIO ESTADUAL JANUÁRIO DE TOLEDO PIZZA

R. Amaral Peixoto, 234, 28555-000, São Sebastião do Alto, RJ, tel. (22) 2556-1463

DESEMPENHO NA PROVA BRASIL (4ª SÉRIE)
MATEMÁTICA
288,07
1º LUGAR
LÍNGUA PORTUGUESA
266,23
2º LUGAR
Média do Brasil 179,98
Média do RJ 184,44
Média do Brasil 172,91
Média do RJ 178,40

INDICADORES (EM%) *
APROVAÇÃO 68,6
MÉDIA DO BRASIL 84,4
MÉDIA DO RJ 82,3
REPROVAÇÃO 25,7
MÉDIA DO BRASIL 11,2
MÉDIA DO RJ 13,8
ABANDONO 5,7
MÉDIA DO BRASIL 4,4
MÉDIA DO RJ 3,9

Fonte: Censo Escolar 2004


ESTRUTURA DA ESCOLA
408 Alunos
42 Professores (23 têm nível superior)
28 Funcionários
9 Salas de aula
(S) Biblioteca
(N) Laboratório de informática
(N) Outros laboratórios
(N) Quadra

São Sebastião do Alto fica a cerca de 220 quilômetros do Rio de Janeiro.Apesar de seus 12 mil habitantes estarem espalhados pelas pequenas propriedades rurais que dominam a região, a maioria se conhece e se encontra freqüentemente no mercado, no banco e nas festas locais. Por isso, Antonio José Gaio não precisa esperar as reuniões bimestrais para deixar os pais a par das conquistas dos 408 estudantes do Colégio Estadual Januário de Toledo Pizza - e cobrar o acompanhamento atento das lições de casa. Esse altense (como são chamados os aqui nascidos) de 52 anos está no terceiro mandato como diretor do Januário,onde trabalha desde 1976, quando ensinava Matemática para a 5ª série. Isso faz com que esteja tão próximo da comunidade quanto dos professores. Em 2006, Gaio e sua equipe pedagógica foram surpreendidos com o primeiro lugar em Matemática e o São Sebastião do Alto fica a cerca de 220 quilômetros do Rio de Janeiro.Apesar de seus 12 mil habitantes estarem espalhados pelas pequenas propriedades rurais que dominam a região, a maioria se conhece e se encontra freqüentemente no mercado, no banco e nas festas locais. Por isso, Antonio José Gaio não precisa esperar as reuniões bimestrais para deixar os pais a par das conquissegundo em Língua Portuguesa na Prova Brasil.Mesmo depois de analisar o resultado, eles ainda têm dificuldade em apontar os motivos para tal desempenho: "O mérito só pode ser da competência e da experiência dos professores, que são os mesmos há dez anos e têm minha total confiança no desempenho do trabalho", afirma ele, que divide as funções com sua adjunta, Meire Souza do Amaral (leia mais sobre o papel do diretor no quadro abaixo). "Temos liberdade de atuação e a sorte de ter sido escolhida uma turma muito aplicada", justifica Jucely Lima Vogas, titular da classe avaliada (que teve, na verdade, duas professoras). Jucely promoveu um "intercâmbio" com Mara Cristina da Rocha Ferreira, então responsável pela 3ª série: a primeira ensinou Língua Portuguesa para as duas turmas, deixando os conteúdos de Matemática por conta da colega."Cada uma ensinou o que mais sabe", lembra Mara. Deu certo. Na verdade, foi uma maneira de driblar a falta de coordenador pedagógico - o cargo está vago há dez anos."Uma funciona como coordenadora da outra", diz o diretor. A equipe dispõe de outras saídas para enfrentar esse problema: consultar os supervisores da diretoria de ensino ou aconselhar-se com as professoras do curso Normal oferecido pelo Januário, auxílio indispensável sobretudo durante a semana de planejamento. Outros dois fatores ajudam a explicar a performance. Um deles foi a experiência adquirida pelos alunos nos testes realizados anualmente desde 2001 pela Secretaria da Educação do Estado.O outro, uma feliz coincidência: "Naquele ano, uma mãe, professora, convidava os amigos da filha, que tinha dificuldades em Matemática, para estudar com ela. Praticamente deu aulas particulares para a turma", recorda Mara, que era sempre consultada para saber quais conteúdos precisavam de reforço.

Burocracia faz parte

A rotina de Antonio José Gaio não é diferente da de grande parte dos educadores que ocupam a cadeira de diretor. Ele chega cedo, fiscaliza a merenda e verifica se não está faltando nenhum ingrediente; lê e assina os processos e documentos preparados pela secretária; atende professores, pais e vendedores de materiais didáticos (livros, CDs e DVDs); e organiza as solicitações da Secretaria da Educação. Durante o recreio, conversa com alunos, ouve as queixas e tenta resolver os problemas. Um deles, a construção de uma quadra coberta - hoje, a saída é usar a da prefeitura, que fica a cerca de 300 metros -, já dura alguns anos e ainda não teve desfecho. A terceira gestão do diretor termina este ano e ele ainda não sabe se continuará no cargo."Queria fazer a quadra, novos banheiros e duas classes para abrir o Ensino Médio no período da manhã e estruturar oficinas de fim de semana com a comunidade. Por outro lado, também quero deixar que novas lideranças apareçam", diz. Se nenhuma chapa se apresentar, ele pode ter o mandato renovado e continuar como chefe da equipe na próxima Prova Brasil, marcada para o segundo semestre.

O MAESTRO DA ESCOLA

Ilona Becskeházy

A burocracia impera no sistema educacional, que não é desenhado tendo a aprendizagem do aluno como objetivo principal. Nele, há um emaranhado de leis e práticas que servem muito mais ao propósito de alocar recursos humanos e materiais do que ao de criar um ambiente propício à mobilização da equipe em torno da reflexão, do planejamento e da execução das ações necessárias para garantir uma Educação de qualidade. O bom diretor funciona como uma vacina contra essa inércia porque não fica no gabinete: anda pela escola inteira, é visto pelos alunos e professores, conversa com os pais, vai à sala de aula. Assim, se coloca em contato permanente com todos, sabe o que vai bem (e o que não vai) e colhe subsídios para a reflexão nos momentos de avaliação. É ele também que mobiliza os pais e as organizações sociais e culturais para que contribuam com a escola. Nenhum diretor deveria ser apenas um administrador preocupado em manter a casa em ordem. Como um maestro, cabe a ele dar o ritmo para a equipe trabalhar de forma harmônica. Seu papel é exercer uma liderança diferenciada. Leva vantagem quem já tem o dom, mas é possível desenvolver essa liderança. O grande desafio é motivar os funcionários a embarcar no mesmo sonho: construir uma escola que vise ao sucesso de todos os estudantes, sem exceção. E isso com um grupo que, em geral, não é escolhido por ele, mas composto de profissionais encaminhados (muitas vezes de forma aleatória) pela Secretaria de Educação. O primeiro passo é investir em reuniões periódicas, em que todos possam refletir e debater os problemas pedagógicos, os erros e os acertos. Nesses momentos, uns aprendem com os outros, identificam as questões e trabalham pelas soluções. É o diretor quem vai dar aos professores a oportunidade de se capacitar cada vez mais - e ajudá-los a reconhecer que é dever de todos mudar a realidade da turma.

ILONA BECSKEHÁZY é diretora da Fundação Lemann, que mantém o projeto Gestão para o Sucesso Escolar, e do Instituto Social Maria Telles, em São Paulo

Em sintonia com a comunidade

Laços estreitos com a população, que freqüenta regularmente esta escola na Baixada Fluminense, permitem aumentar a qualidade do ensino oferecido às crianças

EM Barão do Amapá 

R. Dalila, lote 5, quadra 3, s/nº, Duque de
Caxias, RJ, tel (21) 2654-6822
DESEMPENHO NA PROVA BRASIL (4ª SÉRIE)
MATEMÁTICA
271,44
5º LUGAR
LÍNGUA PORTUGUESA
258,15
3º LUGAR
Média do Brasil 179,98
Média do RJ 184,44
Média do Brasil 172,91
Média do RJ 178,40

INDICADORES (EM%) *
APROVAÇÃO 82,2
MÉDIA DO BRASIL 84,4
MÉDIA DO RJ 82,3
REPROVAÇÃO 17,8
MÉDIA DO BRASIL 11,2
MÉDIA DO RJ 13,8
ABANDONO 9,11
MÉDIA DO BRASIL 4,4
MÉDIA DO RJ 3,9


FONTE: CENDO ESCOLAR 2004

ESTRUTURA DA ESCOLA
472 Alunos
25 Professores (18 têm nível superior)
9 Funcionários
8 Salas de aula
(N) Biblioteca
(N) Laboratório de informática
(N) Outros laboratórios
(N) Quadra

Toda semana, a dona-de-casa Reilza da Silva aprende a cultivar hortas orgânicas num projeto de agricultura familiar do governo federal. Ela soube da oportunidade na EM Barão do Amapá,em Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde está sendo alfabetizada e estuda um de seus cinco filhos. Rosângela de Lima, mãe de um aluno da 3ª série, também faz o curso, assim como outros pais e avós de crianças da Barão."É a chance de ter uma nova fonte de renda e acesso à informação", diz Jaurisa Correa Barros, diretora da escola e conselheira do programa, que também tem caráter educativo, pois as hortas são objeto de estudo nas aulas sobre meio ambiente da Educação Infantil à 4ª série. Ações como essa estreitam o vínculo com as famílias e ajudam nos esforços para garantir a freqüência e o aprendizado. Em 2006, faltaram salas para duas turmas de Educação Infantil. Com a ajuda da população, conseguiram um espaço na igreja mais próxima e duas voluntárias para cuidar da limpeza e da alimentação."Não tenho filhos lá. Fiz isso pelas crianças", afirma Ângela Maria Queiroz, que cozinhou para os pequenos. A iniciativa garantiu o preparo dos alunos para a alfabetização,que começa quando eles completam 6 anos (leia mais sobre as relações escola/ comunidade no quadro da página ao lado). Agora, a Barão luta pela ampliação do prédio."Entramos na Justiça com a ajuda dos pais e da igreja e a prefeitura prometeu fazer as reformas", conta Jaurisa.Afinal, a estrutura física está longe de ser modelo. Das poucas salas de que dispõe, duas são separadas por divisórias e metade tem infiltrações e pouca luz e ventilação.

Estímulo à leitura

Para driblar a falta de uma biblioteca, um punhado de livros de literatura fica em uma prateleira instalada no corredor. São poucos, mas bem lidos."Eles não param na estante", diz a professora da sala de leitura, Frida Martins Teixeira de Lima."Incentivo os pequenos com trabalhos lúdicos, como contação de histórias, e os maiores com produção de texto e peças de teatro." Ela também expõe numa mesa um acervo doado pelo MEC, que fica à disposição de todos para empréstimo. Familiares e amigos ajudam a desenvolver o gosto da garotada pela leitura indo aos eventos organizados por Frida. "Todo ano, publicamos um livro com histórias das turmas de 3ª e 4ª série e fazemos uma tarde de autógrafos."O último foi de poesia, apresentado à comunidade durante um recital. "As crianças se sentem incentivadas a produzir mais textos e a trabalhar em grupo." O diálogo entre os professores faz parte do dia-a-dia. As conversas giram em torno dos conteúdos, mas também são bem produtivas quando alguém participa de cursos de aperfeiçoamento. "Sempre passo adiante o material e os conteúdos aprendidos", diz Ana Cristina Vieira, recém-saída de um curso de alfabetização. Nas aulas de Matemática, textos que falam de situações do cotidiano ajudam a disseminar conceitos. "Assim, os estudantes entendem para que servem os cálculos", afirma a professora da 1ª série Maria Josete da Silva. Segundo ela, leitura e Matemática devem estar diretamente ligadas."Problematizar uma situação dá significado às contas, mas só funciona se as crianças souberem interpretar os textos."Tanto é assim que conseguiram a terceira melhor média em Língua Portuguesa e a quinta melhor em Matemática na Prova Brasil. No início do ano, professoras, coordenadoras e diretora se reúnem para repensar projetos.Com a equipe pedagógica, os encontros são quinzenais. "Traçamos objetivos e estratégias para as aulas, com destaque para o trabalho interdisciplinar", conta Jaurisa. "Nas visitas às hortas, pretendemos envolver cinco matérias." Todas essas ações podem ter colaborado para o resultado da Prova Brasil, mas há muito o que fazer para mudar o cenário de pobreza da escola.

PARCEIROS DE DIÁLOGO

Terezinha Rios

Um coordenador pedagógico que conheço costuma iniciar seu trabalho com os professores levando-os ao portão da escola e pedindo que dêem as costas ao prédio e olhem em torno com atenção. Depois, na reunião, pede que se lembrem do que observaram e procurem apontar aquilo que tem a ver com seu trabalho: a relação com o transporte, tal como é organizado na cidade (ou com a falta dele), a ligação com o lazer que acontece lá fora (ou a ausência dele), o vínculo com as inúmeras formas de culto religioso, as interferências das práticas familiares e seus valores... O fato é que a escola tem tudo a ver com tudo isso. Ela só constrói sua identidade no contexto de que faz parte e nos segmentos que a compõem levando em conta os valores do contexto e as necessidades e exigências dos segmentos. E essa identidade se afirma na articulação, no diálogo e nas ações concretas que a escola promove e desenvolve com as outras instituições sociais: a família, os partidos, as igrejas, as associações, as empresas. Muito se tem falado sobre a necessidade de diálogo entre a escola e a comunidade. Mas raras vezes se explicita o que é isso. Diálogo pressupõe diversidade. É essencial estabelecer o que se pode fazer junto, na especificidade do papel de cada instituição, de cada grupo, de cada setor envolvido no trabalho educativo. Gosto muito da idéia de que uma boa aula é a que leva os participantes para fora da sala. Da mesma forma, a melhor escola é a que leva todos os que fazem parte dela para fora, que abre as portas para o mundo - e, ao mesmo tempo, busca trazer para seu interior os saberes e os criadores desses saberes, muitos deles vizinhos e parceiros de práticas sociais criativas e emancipadoras. A Educação é processo de socialização da cultura, de criação e recriação de saberes e valores, de ampliação do conhecimento. O empenho da escola deve ser na construção de uma Educação da melhor qualidade. E essa qualidade pode, sim, ser conseguida na abertura à comunidade e na criação de espaços de diálogo.

TEREZINHA RIOS é doutora em Educação, professora do mestrado em Educação da Uninove e do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica, em São Paulo

Toda força à leitura

"Senão temos biblioteca, vamos à biblioteca municipal." Foi assim, com determinação, que uma escola paulista garantiu um dos principais direitos da infância: aprender a ler

Até o fim do ano passado, o telefone não parava de tocar na EMEF Professora Helena Borsetti, em Matão, a 300 quilômetros de São Paulo."Como vocês conseguiram chegar tão longe? foi a pergunta que mais ouvi", lembra a diretora,Milena Prandi Vieira Ribeiro Ferreira, há dois anos no cargo. Do outro lado da linha, professores, diretores e secretários de Educação de cidades vizinhas interessados em saber como obter a terceira melhor média em Matemática e a quarta melhor em Língua Portuguesa na Prova Brasil. A resposta: "Não tem segredo. O que fazemos aqui todo mundo pode fazer. Mas venha nos visitar." A professora Mara Silvia Vieira Ferreira - que acompanhou a turma testada da 2ª à 4ª série, mas foi transferida para outra unidade em 2006 -, acredita que a familiaridade dos alunos com avaliações de múltipla escolha ajudou bastante no resultado satisfatório. Ela retirava questões da Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo para trabalhar os conteúdos.Mas não foi só isso: "As competências em Língua Portuguesa ajudam a ir bem em Matemática, pois as crianças são capazes de ler e interpretar corretamente as questões." Em sala de aula, o grupo recebeu a notícia acompanhada de um presente. A Secretaria Municipal de Educação ofereceu uma viagem a um parque de diversões. Sem biblioteca na escola, Mara tinha tudo para lamentar a falta do espaço para leitura. Uma simples ação, como levar os alunos à biblioteca municipal, foi decisiva para que os livros se incorporassem ao dia-adia das crianças, já que em casa eles são quase artigos de luxo - a maioria vive em zona rural. O interesse e a iniciativa da professora contaminaram a equipe e essa prática virou rotina em todas as turmas, da 1ª à 8ª série (leia mais sobre a importância da leitura no quadro abaixo). Os exemplares da escola são guardados em caixas de papelão, que os professores levam para as classes - e logo são atacados pelas crianças. O material é utilizado em atividades e seqüências didáticas que privilegiam estratégias e procedimentos de leitura eficientes para ensinar comportamentos variados: ler por prazer, para estudar, para se informar e para seguir uma instrução. Brincadeiras, concursos de leitura em voz alta e jogos fazem parte da rotina.Nenhuma ação pedagógica é aleatória. A interpretação dos textos e a escrita também estão entre as prioridades. "Não há satisfação maior do que chegar à escola e encontrar um estudante, encostado na mochila, lendo", diz Mara.

De olho nas dificuldades

Para Mariana Criscolim, atual professora da 4ª série, o mesmo prazer está em recuperar um aluno defasado. "Não é fácil dar conta de todos, mas não posso permitir que um aluno seja retido ou chegue à 5ª série sem ler e escrever corretamente", explica. Mara lembra que, no início de 2005, chegaram sete crianças sem dominar essas competências básicas. A saída? Atividades diversificadas e aulas de apoio duas vezes por semana. Olhar atentamente para os que precisam de mais ajuda é regra na Helena Borsetti.No fim do ano, esse pequeno grupo conseguiu acompanhar os colegas e fechar a 4ª série junto com os demais. "Não temos a fileira dos atrasados e a dos avançados. Já superamos essa concepção equivocada", analisa. Em 2007, alunos, pais e equipe pedagógica têm mais um motivo para comemorar: duas salas de aula, um laboratório de Ciências e a tão sonhada biblioteca serão inaugurados num espaço amplo e arborizado. O acesso à biblioteca será independente da entrada da escola."Queremos retribuir à comunidade o serviço e o atendimento que recebemos até hoje. Nossos livros também precisam ser compartilhados", afirma Milena.

O PROFESSOR COMO MEDIADOR

Segundo a ensaísta americana Susan Sontag, a vontade de escrever nasce com a leitura: você se encanta com o que lê e tem o desejo de também produzir um texto. A leitura amplia nossas referências de mundo, nos coloca em contato com a linguagem escrita - que é diferente da falada - e amplia o vocabulário. E tudo isso ajuda na hora de escrever. Por isso, é fundamental que a escola proporcione às crianças experiências diversificadas nessa área. Ao ler notícias, verbetes de enciclopédia e poemas, ela compreende o jogo do texto e como ele funciona (só se aprende a ler notícias lendo jornal). Não adianta, no entanto, apenas garantir o acesso aos livros. Para ler bem, o aluno precisa ser capaz de estabelecer relações entre elementos do próprio texto e entre este e a realidade social a que a obra faz referência, deduzir coisas que não estão escritas e ler nas entrelinhas - capacidades em que nossas crianças demonstraram muita fragilidade na Prova Brasil. Para conseguir desenvolvê-las, além de ter contato com uma diversidade de gêneros e autores, elas precisam contar com a mediação de um adulto: você, professor. Quando lê sozinho, o estudante ganha fluência, confiança e autonomia. Mas precisa também enfrentar os livros mais difíceis para ampliar essas habilidades. Nesse momento, o papel do professor é fundamental. Para intervir corretamente, é preciso apresentar textos que tenham novas dificuldades em cada estágio de desenvolvimento. Tradicionalmente, acredita-se que a tarefa de ensinar a ler e escrever é um feudo exclusivo da disciplina de Língua Portuguesa, o que não combina com a idéia contemporânea de que a leitura e a escrita são ferramentas essenciais para o aprendizado em qualquer área. Assim, a pessoa mais indicada a ajudar o aluno a ler um texto de Matemática, Geografia ou História é o professor dessas matérias porque cada área de conhecimento tem uma lógica e um jeito próprios de lidar com a escrita.

MARIA JOSÉ NÓBREGA é assessora do programa Ler e Escrever, da prefeitura de São Paulo, e uma das elaboradoras dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa

O segredo é avaliar sempre

Objetivos claros e empenho do corpo docente na hora de analisar as produções das classes são a chave para o sucesso na região mais pobre do estado de São Paulo 

EMEF Professora Leonor Mendes de Barros

R. Professor Paulo Francisco de Assis, 82, 
18325-000, Barra do Chapéu, SP, tel. (15) 3554-1110

DESEMPENHO NA PROVA BRASIL (4ª SÉRIE)
MATEMÁTICA
249,04
classificação não divulgada
LÍNGUA PORTUGUESA
253,60
5º LUGAR
Média do Brasil 179,98
Média do RJ 183,60
Média do Brasil 172,91
Média do RJ 178,19

INDICADORES (EM%) *
APROVAÇÃO 89,7
MÉDIA DO BRASIL 84,4
MÉDIA DO RJ 90,5
REPROVAÇÃO 10,3
MÉDIA DO BRASIL 11,2
MÉDIA DO RJ 8,7
ABANDONO 0
MÉDIA DO BRASIL 4,4
MÉDIA DO RJ 0,8

FONTE: CENSO ESCOLAR 2004

ESTRUTURA DA ESCOLA

696 Alunos
35 Professores (33 têm nível superior)
9 Funcionários
8 Salas de aula
(N) Biblioteca
(S) Laboratório de informática
(N) Outros laboratórios
(N) Quadra

Com um orçamento anual de 6 milhões de reais, Barra do Chapéu, a 350 quilômetros de São Paulo, é um dos municípios mais pobres do estado. Seus 5,4 mil habitantes vivem do cultivo do tomate - duas safras por ano.Entre as cidades paulistas, tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH,medido com o cruzamento de dados como PIB per capita, longevidade e Educação da população e elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). À primeira vista, portanto, causa surpresa que uma escola - a EMEF Professora Leonor Mendes de Barros - localizada justamente nessa região tenha obtido o quinto melhor desempenho em Língua Portuguesa na Prova Brasil. Essa vitória começou a ser construída em 2001, quando o ensino da pré-escola à 4ª série foi municipalizado. Uma das primeiras medidas da Secretaria da Educação local foi investir na formação do corpo docente. Até então, apenas cinco professores da Leonor, por exemplo, tinham curso superior.Rapidamente, essa realidade mudou.Um consórcio de cinco cidades levou para a vizinha Apiaí o curso de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Hoje, dos 35 educadores que lecionam na escola, apenas dois não têm diploma.Mas isso não vai durar muito, pois eles já estão na faculdade. No ano passado, a mesma Unesp ofereceu programas de capacitação em Meio Ambiente e Matemática. O estabelecimento de objetivos claros foi outro fator determinante para que a escola se destacasse na avaliação nacional."Em 2005, nossa meta era combater o alto índice de reprovação.Caímos de 20% para 5% e ainda tivemos ótimo desempenho na Prova Brasil", festeja a diretora, Sara Regina dos Santos Oliveira.

Pasta de acompanhamento

Para que a retenção deixasse de ser um entrave ao aprendizado dos estudantes, a equipe pedagógica implantou um sistema de avaliação que permite identificar as deficiências dos alunos antes que elas tomem proporções catastróficas. "Conseguimos isso organizando muitas atividades de produção de texto e aplicando provas bimestrais para aferir os resultados", explica Nilva Pereira de Oliveira Ribas, uma das quatro coordenadoras pedagógicas da Leonor (leia mais sobre a importância da avaliação para uma boa escola no quadro abaixo). É função desse quarteto montar uma pasta para cada classe, com os registros das dificuldades e dos avanços. Com um orçamento anual de 6 milhões de reais, Barra do Chapéu, a 350 quilômetros de São Paulo, é um dos municípios mais pobres do estado. Seus 5,4 mil habitantes vivem do cultivo do tomate - duas safras por ano.Entre as cidades paulistas, tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH,medido com o cruzamento de dados como PIB per capita, longevidade e Educação da população e elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). À primeira vista, portanto, causa surpresa que uma escola - a EMEF Professora Leonor Mendes de Barros - localizada justamente nessa região tenha obtido o quinto melhor desempenho em Língua Portuguesa na Prova Brasil. Essa vitória começou a ser construída em 2001, quando o ensino da pré-escola à 4ª série foi municipalizado. Uma das primeiras medidas da Secretaria da Educação local foi investir na formação do corpo docente. Até então, apenas cinco professores da Leonor, por exemplo, tinham curso superior.Rapidamente, essa realidade mudou.Um consórcio de cinco cidades levou para a vizinha Apiaí o curso de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Hoje, dos 35 educadores que lecionam na escola, apenas dois não têm diploma.Mas isso não vai durar muito, pois eles já estão na faculdade. No ano passado, a mesma Unesp ofereceu progra- Nas reuniões bimestrais do conselho de classe, esses documentos são projetados e analisados por todos."Quem já enfrentou situação semelhante conta para o outro o que fez para a criança avançar", diz Nilva. O dossiê também serve de baliza para o educador acompanhar o próprio trabalho. "Às vezes, ele desanima, acreditando que não houve progresso em sala de aula. Olhando com atenção o histórico e as produções dos alunos, é possível perceber os passos dados. Com isso, fica mais fácil se sentir estimulado a persistir", observa Sara. É comum o titular da turma fazer atividades no início do ano letivo para diagnosticar como está cada estudante e para organizar os planos de aula de forma a atender a todos. Existem ainda horários de reforço, em que são programadas atividades diferentes das desenvolvidas em classe. Vânia Meire de Lima Araújo e Nelson de Oliveira foram os responsáveis pela turma que fez a Prova Brasil em 2005. A ênfase na leitura de textos variados sempre norteou os projetos.Embora a escola não tenha uma biblioteca, cada classe conta com um suporte onde os professores disponibilizam livros, revistas e jornais, trocados periodicamente quando já foram lidos ou na hora de dar espaço a publicações relativas aos temas que estão sendo estudados."Em 2005, tivemos também um campeonato de leitura, que motivou muito os alunos. Eu os dispensava sempre uns 15 minutos antes do fim da aula para que fossem à biblioteca municipal pegar livros", conta Nelson. Pelo jeito, deu certo.

CORREÇÃO DE RUMOS

Carlos Henrique Araújo

A avaliação de sala de aula deveria funcionar como um retrato que mostrasse a situação de aprendizagem do estudante. Os professores brasileiros, em geral, não dispõem de parâmetros técnicos para isso. Já vi tirarem ponto de aluno "bagunceiro". Não se trata de avaliar o comportamento, mas o que foi aprendido. Como resultado dessa distorção, criou-se uma cultura punitiva que envolve a avaliação e um terço das crianças que cursam a 1a série no Brasil são reprovadas quando, na verdade, deveriam estar sendo ensinadas. O processo de avaliação precisa ser visto como um instrumento pedagógico, não como uma forma de punição. Deve ser usado para fazer um diagnóstico das deficiências de aprendizagem de cada aluno e para detectar o que o professor não conseguiu desenvolver ao longo do ano letivo. Esses dados são úteis na redefinição do rumo das aulas: sabendo exatamente que habilidades e competências não foram alcançadas, as atividades são replanejadas buscando o avanço da turma. Isso significa diversificar materiais e estratégias de ensino - jogos, elaboração de materiais, pesquisas, leitura - e também o modo de avaliar. Para tanto, em primeiro lugar, é necessário que a postura e a mentalidade do professor mudem. Chega de ver a avaliação como um instrumento de retenção. Já passou da hora de enxergá-la como algo formativo. Em segundo lugar, devemos investir em formação para que todos dominem técnicas mais objetivas de avaliação e aprendam a fazer uma boa prova. Existe uma imensidão de atividades pedagógicas que servem para avaliar: leitura, compreensão de texto e trabalho em grupo são apenas alguns exemplos. Mas o mais importante é reconhecer que, ao avaliar um estudante, você, ao mesmo tempo, está avaliando seu trabalho.

CARLOS HENRIQUE ARAÚJO é sociólogo. Foi diretor de Avaliação de Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

A formação em primeiro lugar

No sul de Minas Gerais, a quarta colocada no teste de matemática da Prova Brasil orgulha-se de ter quase 100% das professorascom pelo menos um diploma de nível superior

EE Carvalho Brito 
Pça. Getúlio Vargas, 21, 37810-000, Guaranésia, MG, tel. (35) 355-1077


DESEMPENHO NA PROVA BRASIL (4ª SÉRIE)
MATEMÁTICA
271,86
4º LUGAR
LÍNGUA PORTUGUESA
234,98
Classificação não divulgada
Média do Brasil 179,98
Média do RJ 190,48
Média do Brasil 172,91
Média do RJ 182,13

INDICADORES (EM%) *
APROVAÇÃO 100
MÉDIA DO BRASIL 84,4
MÉDIA DO MG 89,5
REPROVAÇÃO 0
MÉDIA DO BRASIL 11,2
MÉDIA DO RJ 7,5
ABANDONO 0
MÉDIA DO BRASIL 4,4
MÉDIA DO RJ 3,0

FONTE: CENSO ESCOLAR 2004

ESTRUTURA DA ESCOLA

510 Alunos
25 Professores (23 têm nível superior)
3 Funcionários
9 Salas de aula
(S) Biblioteca
(S) Laboratório de informática (sem acesso à internet)
(N) Outros laboratórios
(S) Quadra

Quando soube que as turmas de 4ª série passariam a ser submetidas à Prova Brasil, a professora de 3ª série Maria Aparecida Delorenzo Penocco, da EE Carvalho Brito,em Guaranésia, a 480 quilômetros de Belo Horizonte, não se assustou, tanto que não alterou em nada seu planejamento anual."Acredito que o trabalho feito ao longo das três primeiras séries faz o aluno dominar plenamente os conteúdos na hora de ser testado", comenta a Zuza. Para a coordenadora pedagógica Maria Cristina Braz Henualy - à época professora da turma submetida ao exame, que deu à Carvalho Brito a quarta melhor média nacional em Matemática -, a estratégia é um reflexo da segurança que só um profissional bem qualificado tem.E formação é o que não falta aqui."Das nossas 25 professoras, 23 têm diploma de nível superior", informa Maria Cristina."E as outras duas já estão freqüentando a faculdade." Zuza, por exemplo, formou-se em Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guaxupé e pós-graduou- se em Pedagogia na cidade vizinha de Passos, em 1997. Há dois, especializou-se em Didática num programa a distância oferecido pela Secretaria Estadual de Educação." Mesmo com 26 anos de experiência, sei a importância de estar sempre estudando." Sua colega Fernanda Carolina da Silva, responsável por uma das 1as séries da escola, faz Pedagogia à noite na Universidade Presidente Antônio Carlos."Muito mais do que ter o diploma, quero estar preparada para ensinar bem", afirma (leia mais sobre a importância da formação inicial e continuada para o sucesso da escola).

Capacitação em serviço

Toda a bagagem adquirida nas capacitações chega à escola durante as reuniões diárias que as professoras fazem para discutir as dúvidas que surgem dentro da sala de aula (essa reunião tem pelo menos uma hora de duração e conta com a participação obrigatória da professora eventual Maria Helena Mancini Vieira, que se dedica exclusivamente às aulas de reforço)."Quando o exame foi aplicadocado, os estudantes se depararam com conteúdos e questões que eram corriqueiros tanto no livro didático como nas atividades", lembra Maria Cristina. Além da boa formação profissional do quadro, a Carvalho Brito tem outro fator fundamental para o sucesso na Prova Brasil, segundo a diretora, Rosa Maria dos Santos: "Nosso compromisso de vida é com a escola porque aqui passamos grande parte de nossa existência". Ela mesma foi aluna, de 1974 a 1988 (quando a escola ainda oferecia o Magistério), lecionou até 1999 (alfabetizou Fernanda), tornou-se vice-diretora e assumiu o atual cargo em 2004. "Vou me aposentar aqui", garante. A última que fez isso, por sinal, ficou no posto por 26 anos, de 1962 a 1988: Hercília Michell Lopes, também estudou na Carvalho Brito nas primeiras turmas dos anos 1930 e alfabetizou diversas gerações de guaranesianos, entre os quais Rosa e os atuais prefeito e secretário de Educação. "Também me sinto responsável pela nossa colocação na Prova Brasil porque essa mania de incentivar as professoras a estudar vem desde a minha época", comemora Hercília. Quase tudo em Guaranésia - município cuja economia gira em torno das usinas de açúcar e de fábricas de tecidos e macarrão - está de certa forma atrelado ao cotidiano da Carvalho Brito. É comum o auditório de 160 lugares servir de espaço para a comunidade debater os problemas do bairro."Os pais têm o compromisso de estar sempre aqui para se inteirar dos nossos problemas e não se eximem de tentar nos ajudar a resolvê-los", destaca a vice-diretora, Ana Lúcia Porto.

APRENDER SEMPRE

Regina Scarpa

Formação e conhecimento didático são dois elementos fundamentais na receita de uma boa escola. No caso da formação, ela deve ser permanente e ocorrer nos horários de planejamento coletivo das equipes pedagógicas (esses momentos promovem a atualização constante, a reflexão sobre o processo pedagógico e a requalificação da profissão docente). Um professor atualizado deixa de ser um mero executor de planos de aula elaborados por terceiros. Ele passa a planejar um ensino coerente com as necessidades de seus alunos. E isso só é possível quando há diálogo entre o ensino e a aprendizagem, reflexão, estabelecimento de metas e avaliação de resultados. É um processo permanente de reflexão, ação, reflexão, ação... Quanto maiores o intercâmbio com os colegas e a intervenção firme de um coordenador pedagógico parceiro e experiente, melhor. Cabe ao coordenador liderar a equipe na busca de soluções para os problemas didáticos: como trabalhar com a diversidade em classe, como priorizar conteúdos, como escolher os projetos que mais atendem às necessidades dos estudantes. Também estão entre suas funções ajudar os professores a analisar a produção dos alunos nas reuniões pedagógicas, verificar quanto cada um está avançando, decidir as atividades mais adequadas etc. Se antes ele tinha como papel apagar incêndios na escola, agora deve ser um formador. Para isso, é preciso sempre aprimorar-se, procurando ajuda na equipe técnica das Secretarias de Educação, e atualizar-se em relação ao conhecimento didático disponível. Esse conhecimento é a matéria-prima da formação de todos os educadores, entendendo-a não como metodologia de ensino, mas como conhecimento científico sobre as melhores formas de fazer os estudantes dominarem os conteúdos, em Matemática ou alfabetização, por exemplo. Grupos de estudos, em que o professor é tratado apenas como aluno, não resolvem. O que ele precisa é dominar os conhecimentos didáticos que lhe permitam solucionar as dificuldades enfrentadas na sala de aula.

REGINA SCARPA é coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita

Prova Brasil

continuar lendo

Veja mais sobre

Últimas notícias