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Jornalismo

Uma opção para cada perfil

Quem ainda não tem faculdade ou quer buscar um segundo diploma deve avaliar os cursos para descobrir o mais adequado às suas necessidades

PorArthur Guimarães

02/06/2008

 

"Com a faculdade, quero ter uma formação mais consistente, mas vou continuar alfabetizando"  Antônia Ivoniza, 36 anos - Professora - Rede municipal, Aracoiaba, CE

A Educação ganha cada vez mais espaço no país e, com isso, cresce a demanda por profissionais mais bem formados. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que a carência na formação atinge todos os níveis de ensino. De forma geral, a principal demanda ainda é pela graduação.

Dos cerca de 840 mil professores que atuam na rede pública em classes de 1ª a 4ª série, 41% contam apenas com o Ensino Médio. Na Bahia, por exemplo, considerando-se a rede estadual e as municipais, esse porcentual sobe para 85%. De 5ª a 8ª série, apesar da obrigatoriedade para que os profi ssionais tenham um diploma de licenciatura, também há problemas: 14% dos 865 mil educadores que atuam nessa etapa do Ensino Fundamental ainda contam só com a formação em Magistério. Na Região Norte, essa estatística bate os 25%.

Ter acesso à universidade e estar ciente de que a atualização constante é essencial não basta para que o professor alcance sucesso em seu aprimoramento: ele precisa saber o que quer estudar. "Não adianta gostar de criança pequena para decidir que vai trabalhar na Educação Infantil", avalia Marina Feldman, diretora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "O interesse pelo estudo dos aspectos cognitivos ou pela formação da moral, por exemplo, pode ser um melhor indício de que há a compatibilidade com esse nível de ensino", diz. "Do mesmo modo, quem se encanta pelo desafi o da alfabetização tem a cara das primeiras séries do Ensino Fundamental", explica.

PARA ESCOLHER O CURSO ADEQUADO A SEU PERFIL

Informar-se com formados sobre a natureza do trabalho que desenvolvem.
Avaliar a afi nidade que já possui com a faixa etária dos alunos.
Analisar o gosto pelos temas relacionados à disciplina que pretende ensinar.



Na EM Antônio Paulo, em Aracoiaba, a 80 quilômetros de Fortaleza, Antônia Ivoniza, 36 anos, ensina há alguns anos crianças a ler e escrever. Sem diploma de nível superior, ela não poderia lecionar uma disciplina específi ca para turmas de 6º a 9º ano, mas há muito tempo via colegas sonharem em dar aulas de História ou Matemática, por exemplo - todos pensando num avanço na carreira e em salários maiores. Ela não nega que essa possibilidade a tentava. "Mas pensei bem e vi que, na verdade, meu lugar é com os pequenos", lembra.

Antônia explica que seu maior prazer é, todos os dias, enfrentar o "mistério" que envolve o ensino da leitura e da escrita. "Sempre me inquietou o fato de alguns alunos conseguirem aprender mais rápido que os outros." Apesar de ter certeza de que essa é mesmo sua meta de vida e de ter grande satisfação com sua rotina pedagógica, de uma coisa Antônia ainda sentia falta: uma formação mais consistente.

Neste ano, com todas as dúvidas profi ssionais respondidas, ela ingressou em Letras. "Mesmo quando puder ensinar Língua Portuguesa para os maiores, não vou querer. Prefi ro continuar com o 1º ano", avisa. Antônia estuda na Universidade Federal do Ceará, dentro da Universidade Aberta. Esse programa do Ministério da Educação (MEC) está migrando da Secretaria de Educação à Distância para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes, com o objetivo de turbinar a formação docente. 

UM NOVO INCENTIVO
Rede de ensino superior semipresencial chegará a regiões afastadas

Os professores da Educação Básica, principalmente os que estão atrás de formação continuada ou aperfeiçoamento profi ssional, vão ouvir falar muito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes, sigla que antes estava na boca apenas de quem fazia mestrado ou doutorado. Renomado na gerência da pós-graduação e referência na divulgação da produção acadêmica nacional, esse órgão do Ministério da Educação (MEC) ganhou nova função recentemente. Pela lei 11.502, aprovada pelo Congresso no primeiro semestre e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho, a Capes terá também como finalidade fomentar, inclusive em regime de colaboração com outras esferas de governo, a formação inicial e continuada dos docentes brasileiros.

Em todos os estados, serão oferecidas espécies de bolsa para cursos em instituições conveniadas, de preferência sob a organização das universidades federais, mas que também podem ser ministrados por outras faculdades públicas ou privadas. Para a criação da chamada Nova Capes, a principal mudança no MEC será a incorporação da Universidade Aberta. O programa, em suma, prevê uma articulação para que as universidades levem o ensino superior às regiões do país em que não há oferta de cursos universitários. O públicoalvo não é formado apenas por profi ssionais do magistério, embora a medida vá benefi ciá-los diretamente. Em 2005, teve início a criação de pólos municipais, com laboratórios de ensino e pesquisa, informática, biblioteca e outros recursos tecnológicos. O projeto prevê também 290 pólos de apoio presencial, que iniciam suas atividades, ainda em 2007, em 289 municípios brasileiros, distribuídos em todos os estados da federação.

 



Licenciaturas e Pedagogia

"Depois de formada, vou poder lecionar nas séries finais do Ensino Fundamental, o que me ajudará em termos financeiros"  Valéria dos Santos Rodrigues, 38 anos - Professora - Rede municipal, Angra dos Reis, RJ

Para quem, ao contrário de Antônia, pretende ensinar disciplinas específi cas, como Língua Estrangeira, Geografia e Arte, para turmas de 6º a 9º ano e Ensino Médio, a auto-avaliação é bem-vinda. "Nessa análise, é determinante levar em consideração o gosto que o profi ssional já tem pelos temas ligados à disciplina ou a desenvoltura para lidar com pré-adolescentes e jovens", diz Marina, da PUC-SP. A necessidade de ter realmente o perfi l para o trabalho é importante, principalmente nesse nível de ensino, que é tido como um dos mais desgastantes. "Uma boa forma de se assegurar da escolha é conversar com colegas que já estejam na ativa. Vale também assistir a palestras e, principalmente, refletir", ensina.

No que se refere à natureza dos cursos, especifi camente, uma questão que merece a atenção do vestibulando é o peso das disciplinas pedagógicas no currículo. Há, em alguns casos, um excessivo esforço em tratar dos conteúdos de Geografia e Física, por exemplo, sem a devida complementação de didática. Isso dificulta a tarefa do formado ao chegar à sala de aula. Por isso, é essencial analisar bem a proposta escolhida para não se decepcionar.

As licenciaturas estão em xeque, na opinião de Helena Freitas, docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação (Anfope). "Elas não estão em sintonia com os desafi os da escola pública. Saber os assuntos tratados em cada área não prepara o educador para a complexidade de ensiná-los", afirma. "Quem busca esse tipo de curso não pode se contentar em estudar os conteúdos curriculares", diz.

A Pedagogia - que, por lei, prepara o formado para lecionar na Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental e para cargos de supervisão e direção escolar - é outra carreira que pede cuidado do vestibulando na hora da escolha. Vale lembrar que, apesar de ainda existirem algumas faculdades que mantêm o Normal Superior, há a recomendação oficial para que os estudantes migrem para a Pedagogia. Criado com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996 para proporcionar uma formação que articulasse teoria e prática - privilegiando os estágios, por exemplo -, esse curso, em termos gerais, não foi aceito pelas universidades públicas, como explica Gisela Wajskop, do Instituto Singularidades, na capital paulista, uma instituição privada que oferecia essa opção. "A proposta foi muito debatida em Brasília, mas não houve adesão das universidades", avisa.

COMO ESCOLHER O CURSO ADEQUADO ÀS SUAS NECESSIDADES

Analisar os currículos para verificar em que dão ênfase.
Pesquisar o peso dado a disciplinas pedagógicas e as de conteúdo específico da área. 



Dentro especifi camente da carreira de Pedagogia, há pelo menos 16 possibilidades de formação, como explica Ana Rosa Peixoto Brito, da Universidade Federal do Pará. "Os interessados precisam ler o currículo e perguntar muito." Temos hoje no Brasil escolas formando pedagogos com ênfase, por exemplo, na supervisão escolar. Muitas vezes isso não está dito, mas pesquisando e analisando a carga horária é possível encontrar a proposta mais próxima dos objetivos de cada um.

Formada em Pedagogia, Valéria dos Santos Rodrigues, 38 anos, foi trabalhar em uma sala de recursos atendendo estudantes com defi ciência na EM Santos Dumont, em Angra dos Reis, a 168 quilômetros do Rio de Janeiro. Apesar de qualifi cada para sua função, depois de alguns anos de prática, ela resolveu voltar a estudar para compreender melhor os problemas enfrentados por alguns de seus alunos. "Queria muito aprender sobre o corpo humano e a genética, campos em que eu já tenho familiaridade e posso me desenvolver de forma mais completa." Hoje, ela está terminando a licenciatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em um programa semipresencial. "Depois de formada, vou ter qualifi cação para também lecionar nas séries finais do Ensino Fundamental, o que pode me ajudar em termos fi nanceiros", afirma.

Há secretarias que buscam valorizar financeiramente quem se capacita ou as que proporcionam opções de estudo para quem não tem o diploma universitário. "Sabemos que, sem dúvida, há um ganho, direto ou indireto, para o profissional que busca uma graduação. Muitas cidades e estados usam o critério da certifi cação para promover a evolução na carreira do educador", explica Juçara Vieira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Entre essas redes, estão a do Pará e a de Goiânia.

Professores que trabalham em cidades como Ji-Paraná (RO) e Nova Olinda (TO) têm a possibilidade de se graduar em cursos ofertados pela própria rede em convênio com universidades. Casos como esse ajudam quem não poderia se afastar do trabalho por um período e ainda arcar com o custo das mensalidades. Dessa forma, as secretarias buscam a melhoria da qualidade de ensino.

Quer saber mais?

Anfope, www.lite.fae.unicamp.br/anfope
CNTE, www.cnte.org.br
INEP, www.inep.gov.br
MEC, www.mec.gov.br, tel. 0800-616161

 
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