Novo ano, novas ações
Consultores e leitores indicam as práticas a serem alteradas para aprimorar o trabalho docente
PorNOVA ESCOLAWellington SoaresBruno Mazzoco
01/03/2014
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLAWellington SoaresBruno Mazzoco
01/03/2014
O desejo de mudança faz parte da natureza humana. Com um novo ano, vem a cobrança interna e externa por novas atitudes. Mas antes de fazer a lista de promessas pense bem. Você já parou para refletir sobre sua atuação? Que estratégias pretende deixar de fora este ano? "O professor reflexivo é sujeito do trabalho que realiza. O docente que age irrefletidamente ou fica submetido a modismos vai ser apenas um executor", afirma Celina Fernandes, consultora para a área de linguagem. O exercício permanente de avaliação da prática acende o sinal de alerta sobre o que precisa ser modificado.
Esse pensar não precisa ser solitário e deve estar sempre conectado ao contexto e aos objetivos da escola como um todo. A opinião de colegas e a orientação da equipe gestora ajudam a analisar as questões críticas sob diferentes perspectivas. "É necessário haver estímulo constante na própria escola para isso. A reflexão evita que você caia em mecanicismos. O Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) é um dos momentos para fazer isso de forma qualificada e buscar soluções", diz Bernardete Gatti, pesquisadora consultora da Fundação Carlos Chagas (FCC).
Como estímulo a essa reflexão, NOVA ESCOLA promoveu uma enquete sobre quais práticas os professores decidiram abandonar em 2014. Durante dezembro e janeiro, leitores de todo o Brasil enviaram comentários para o site e a página do Facebook da revista. As mensagens recebidas foram divididas em cinco temas: avaliação, formação, planejamento, gestão de sala e relacionamento com as famílias. Abaixo e na página seguinte, você confere as principais sugestões enviadas e os comentários de especialistas em cada área.
Avaliação
As escolas têm de analisar as finalidades da avaliação e evitar que se fortaleça a visão de processos classificatórios e seletivos. "O ideal é que ela seja uma atividade inerente ao processo de ensino e aprendizagem e permita investigar o estágio de desenvolvimento do aluno para ajudá-lo a avançar", diz Sandra Zákia Sousa, da Universidade de São Paulo (USP).
O que abandonar
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O que fazer
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Fazer exames sem explicitar os critérios e os objetivos. |
Deixar claro para a turma o que se espera em cada atividade avaliativa. |
Usar a avaliação para punir o aluno. | Colocar a prova a serviço da aprendizagem. |
Realizar apenas provas. | Avaliar ao longo das aulas, com diversas atividades. |
Expor e ridicularizar quem tira notas baixas. | Buscar entender os motivos que levam a um mau resultado. |
"Devemos deixar de lado a avaliação que só prejudica. Ela deve ser diária e constante."
Cristina Macke, professora
Formação
A graduação costuma ser genérica e, em muitos casos, não fornece nenhuma compreensão aprofundada do sistema escolar e de suas práticas. "A formação continuada pode ajudar o iniciante a superar os desafios de ingresso na carreira e servir de estímulo ou como atualização para aqueles com mais tempo de profissão", avalia Bernardete Gatti, da FCC.
O que abandonar
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O que fazer
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Ignorar o que se aprende nas formações. | Refletir sobre os aprendizados obtidos e colocar em prática o que vale a pena. |
Contentar-se com os conhecimentos obtidos durante a graduação ou a experiência profissional. | Buscar formação continuada para aperfeiçoar constantemente a prática docente. |
Desconhecer as orientações curriculares da rede. |
Conhecer os direitos de aprendizagem e outros documentos importantes para definir os conteúdos. |
Fazer cursos descolados da realidade da escola em que atua. | Buscar cursos que façam sentido para sua carreira e para o local em que trabalha. |
"Só em 2013, conheci os Direitos de Aprendizagem e passei a fazer um trabalho mais pautado em resultados."
Waydja Cavalcanti, professora
Planejamento
"Devemos pensar no planejamento como um processo que precisa ser constantemente repensado e adequado com base na realidade da sala de aula e nos conhecimentos prévios da turma", afirma Laurinda Ramalho de Almeida, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP). Dessa maneira, delimita-se aonde quer chegar e como pretende chegar lá.
O que abandonar
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O que fazer
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Mexer no planejamento só no início do semestre. |
Revisar os projetos e sequências o ano todo. |
Reproduzir aulas e conteúdos mecanicamente ano após ano. | Refletir sobre as práticas constantemente e aprimorá-las levando em conta as necessidades dos alunos. |
Pedir tarefas para casa com recursos que nem todos os estudantes possuem. | Assegurar-se de que a escola, a biblioteca ou outra instituição tenham os materiais necessários para a realização das pesquisas. |
Restringir o ensino somente a questões estritamente curriculares. | Enriquecer as aulas com fatos da realidade atual, estimulando a reflexão sobre temas importantes do cotidiano. |
Improvisar sempre. | Planejar o tempo didático de acordo com as modalidades organizativas que melhor se encaixem nos objetivos. |
Guardar o registro das atividades na gaveta. | Rever os registros constantemente e analisar o que deu certo ou errado. |
Pautar-se apenas pelas datas festivas. | Trabalhar conteúdos importantes o ano todo com maior profundidade. |
Sobrecarregar a classe com atividades. | Equacionar os conteúdos e as atividades ao longo do ano. |
"Não dá para ser um simples fornecedor de aulas. A flexibilidade no planejamento nos permite adequar os conteúdos e as estratégias para atingir as metas."
Ana Carla Thomaz, formadora de professores
Gestão de sala
Não adianta se preocupar só com o conteúdo; deve-se cuidar também das relações interpessoais. "Diante da indisciplina, o docente tem de manter o autocontrole e estabelecer um processo de respeito mútuo com a turma", afirma Andréa Patapoff Dal Coleto, mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O que abandonar
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O que fazer
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Gritar com a classe. | Desenvolver autocontrole e autoridade sobre a turma, sem cair no autoritarismo. |
Abarrotar o quadro de informações. | Pensar em atividades que apresentem o conteúdo de forma contextualizada e no ritmo da garotada. |
Deixar que quem tem mais dificuldade fique para trás. | Elaborar estratégias que contemplem os diferentes tempos de aprendizagem e criar objetivos individuais. |
Ter uma relação unilateral com a classe. | Abrir espaço para que todos se manifestem durante as aulas. |
Ser informal demais. | Colocar limites e aprimorar a relação com os estudantes. |
Abandonar os alunos no trabalho em grupo. | Acompanhar todos de perto, mesmo quando trabalham em equipes. |
Falar em frente à sala, sem se preocupar se é ouvido e compreendido. | Andar pela sala e confirmar se todos estão compreendendo o que é dito. |
Organizar a sala sempre da mesma maneira. | Buscar a organização mais adequada a cada atividade. |
"Nada de encher o quadro de conteúdos que sequer serão lidos! O certo é usá-lo para o registro de atividades contextualizadas."
Jucinelia Borges Fonseca, professora
Relacionamento com as famílias
A escola deve fazer um esforço de aproximação com as famílias e comunicar a elas o projeto da instituição. Quanto maior for essa aproximação, maior será a adesão dos alunos nas atividades propostas. "É um erro chamar os pais apenas para apontar as faltas de seus filhos, sem mostrar avanços", adverte a assessora psicoeducacional Catarina Iavelberg.
O que abandonar
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O que fazer
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Não comunicar os projetos da escola às famílias. |
Comunicar aos pais os projetos que vão ser feitos e convidá-los a contribuir. |
Não dar espaço para a manifestação dos responsáveis nas reuniões. | Reservar um tempo nos encontros para responder às dúvidas e preocupações. |
Comunicar apenas problemas de comportamento dos alunos. | Incluir aspectos pedagógicos na comunicação com os familiares. |
Chamar a família com uma frequência exagerada. | Avaliar bem quando a família deve ser chamada à escola. |
Transferir todos os problemas para os pais. | Agir em parceria com os responsáveis, sem desviar dos problemas. |
Considerar que a dificuldade de aprendizagem de um estudante é culpa apenas da família. | Diante de dificuldades de aprendizagem, discutir com os responsáveis o que eles e a escola podem fazer. |
"Muitos pais desconhecem o que é feito na escola e, por isso, não a valorizam. Precisamos aproximá-los do trabalho desenvolvido pelos alunos."
Maroisa Vilalva, professora
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