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Jornalismo

A classe vira ateliê

Diversidade de materiais e reorganização da sala ajudam a levar para a turma o mesmo espaço de criação dos artistas

PorBianca Bibiano

01/04/2009

CARRINHO TURBINADO Recursos variados são o trunfo de Valéria, da EM Maria de Lurdes Duarte Moreira dos Santos. (Crédito: João Marcos Rosa)

 

Está na fala dos especialistas, em incontáveis parágrafos dos livros da área e nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte: a criança precisa ter acesso à maior diversidade possível de ferramentas para experimentar seus caminhos artísticos. O problema é que a realidade das escolas está longe desse discurso. "No Brasil, poucas instituições dispõem de um ambiente ideal para a aula de Arte ou de verba para compras", afirma Isabel Graciano, formadora de professores do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), em São Paulo. A boa notícia é que há saídas para esse quadro. Se sonhar com uma sala específica para a disciplina parece uma miragem distante para a maioria dos professores, fazer dos espaços existentes lugares adequados é, definitivamente, possível (leia o projeto institucional na página seguinte). Basta um pouco de disposição e de conhecimento didático.

Transformar a sala em um ateliê envolve duas preocupações básicas. Primeiro, é preciso reorganizar o espaço para favorecer a criação. Nesse aspecto, a disposição das carteiras é um dos pontos centrais. "Quando posicionadas de uma maneira diferente da convencional - ou seja, enfileiradas uma atrás da outra -, as carteiras ampliam sua função como suporte do trabalho", explica Stela Barbieri, diretora de ação educativa do Instituto Tomie Ohtake.

O arranjo depende da atividade a ser desenvolvida: algumas opções são juntar todas no centro, possibilitando reunir os materiais no mesmo lugar, encostá-las na parede para que a garotada se sente no chão ou reunir quatro carteiras para grupos menores. Se a classe tiver alunos com deficiência física ou visual, assegure que haja bastante espaço para que eles possam se locomover sem obstáculos (leia o quadro ao lado). Para materializar essa pequena "revolução", considere que os alunos podem ajudar, tanto na criação do espaço como na desmontagem, preparando a sala para a aula seguinte.

 

Inclusão - Deficiência visual

Mobilidade é a palavra-chave para adaptar o espaço da sala de Arte para um aluno com deficiência visual. Além de garantir vias de circulação por toda a classe, os materiais precisam estar acessíveis e, preferencialmente, manter a mesma disposição em todas as aulas. Para que a criança possa identificar onde estão os recursos, recorra a marcas táteis, como inscrições em braile em potes e caixas. O tato também deve ser privilegiado para facilitar a produção. Na pintura, uma boa saída é adicionar substâncias que modifiquem as texturas de determinadas tintas, deixando algumas cores mais ásperas e outras mais lisas. Para que o estudante possa "enxergar" as cores, é interessante associá-las a sensações: o vermelho, por exemplo, é uma cor quente, que representa o fogo, o calor etc. Por fim, na avaliação, enfoque o processo de criação e não tanto o resultado, observando o uso dos recursos disponíveis e debatendo as técnicas empregadas.

 

Adaptado, carrinho de compras transporta recursos para a sala

Uma segunda necessidade é levar o máximo de recursos para a classe. Um ateliê itinerante, transportado de uma sala para outra a bordo de carrinhos, é uma excelente saída para escolas sem espaço exclusivo para a Arte. A estratégia faz sucesso nas turmas de 1º a 3º ano da professora Valéria Ferreira Costa, da EM Maria de Lurdes Duarte Moreira dos Santos, em São Gonçalo do Rio Abaixo, a 84 quilômetros de Belo Horizonte. "Coloco meu material no carrinho e, com a ajuda dos estudantes, modificamos a sala em poucos minutos", conta.

A parceria com a turma também colabora para aumentar a variedade de recursos artísticos. Da casa dos pequenos, vêm gravetos, palitos de churrasco, papelão e jornal. Eles trazem também materiais como café, terra e outros pigmentos, que, misturados à água, viram tinta para pintar. Segundo Valéria, a qualidade dos trabalhos melhorou, assim como a relação dos alunos com a criação artística. "Eles começam a perceber que é possível trabalhar com materiais que nem pensavam em usar", completa.

 

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
Desenho Cultivado da Criança: Prática e Formação de Educadores, Rosa Iavelberg, 112 págs., Ed. Zouk, tel. (51) 3024-7554, 23 reais 

FILMOGRAFIA
Vermelho como o Céu, Cristiano Bortone (dir.), Califórnia Filmes, tel. (11) 3048-8444, 39,90 reais

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