Compartilhe:

Jornalismo

A internet à mão e uma pergunta na cabeça

Crianças da Zona Sul paulistana participam de experimento realizado mundialmente pelo pesquisador indiano Sugata Mitra

PorAna Ligia Scachetti

01/03/2012

Ariane buscou na internet informações sobre Mitra. Foto: Manuela Novais
Pesquisa em grupo Ariane buscou na internet informações sobre Mitra

Assim que Sugata Mitra entrou na biblioteca, Ariane Aparecida Cavalcante da Silva, 12 anos, perguntou: "De onde você tirou a ideia de colocar um computador em um buraco na parede?" Ela já havia pesquisado sobre ele na internet e estava cheia de dúvidas. Igualmente entusiasmado, o convidado explicou o projeto Hole in the Wall (em português, "buraco na parede").

"Eu tinha dinheiro para comprar apenas um computador. Por isso, fiz o buraco e o instalei ali", relatou ele, logo bombardeado por mais questões dos atentos espectadores. Contou, então, que o equipamento foi instalado em Nova Déli, na Índia, e que mais de 300 crianças o utilizaram. Depois disso, o "buraco" já foi implantado em outros 600 locais. "Como vocês têm esse espaço, ele não é necessário aqui", avisou.

A biblioteca que abrigou o encontro entre Mitra e as crianças fica na periferia paulistana. A poucas quadras dali está o complexo principal da organização não governamental (ONG) Casa do Zezinho, onde a rotina da estudante Ariane começa sempre às 8 horas. Ela chega de ônibus, vinda de um bairro vizinho, e passa a manhã participando de atividades extracurriculares.

É lá que a menina almoça antes de seguir para as aulas do 6º ano na EE Professor Humberto Alfredo Pucca. Também foi na ONG que ela teve os primeiros contatos com o computador, embora hoje navegue em casa e na escola.Segundo a metodologia de pesquisa de Mitra, a internet que Ariane já desvendou é essencial para que crianças, em grupo, evoluam no conhecimento sobre uma situação-problema.

O pesquisador, que esteve no Brasil a convite da Fundação Telefônica, repetiu com Ariane e seus colegas um novo experimento que tem feito mundo afora. Eles buscaram respostas para a pergunta: "Por que nós sonhamos?" Em grupo, a garotada navegou em vários sites da internet e, depois, apresentou resultados que iam da teoria freudiana ao desejo de um futuro melhor.

Professor da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, e pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, o indiano observou atitudes semelhantes em todos os países em que fez essa experiência. Por isso, afirma com segurança que, ao lançar uma questão às crianças, pode-se obter soluções mais inovadoras do que as concebidas pelos adultos. Seus novos amigos paulistanos concordam.

continuar lendo

Veja mais sobre

Últimas notícias