Hora de (re)planejar
O ritmo de aprendizagem dos alunos, interesses próprios da turma e alguns imprevistos podem obrigar você a adotar novos rumos no segundo semestre
01/08/2001
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Jornalismo
01/08/2001
Você provavelmente investiu um bom tempo em janeiro e fevereiro conversando com os colegas e a coordenação para organizar como trabalhar ao longo do ano. Nem tudo, porém, saiu exatamente como previsto, certo? É isso mesmo. O ritmo de aprendizagem dos alunos, imprevistos de todos os tipos, interesses inesperados que atropelaram algumas atividades e tantos outros fatores fizeram com que o planejamento fosse se adaptando à realidade.
Pois saiba que agora é o melhor momento para rever e, se for o caso, mudar o que havia sido definido. "A vivência que já tivemos com os estudantes no primeiro semestre permite identificar o que eles realmente aprenderam e, o mais importante, como atraí-los e fazer com que aprendam ainda mais", diz Roseli Cassão, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O primeiro passo é checar as prioridades, principalmente se você começou o ano prevendo milhares de coisas e não conseguiu dar conta nem de metade do recado. Aqui vão algumas dicas para reestruturar seu semestre:
- Considere o que os alunos aprenderam até o momento, a série em que estão e a relevância do conteúdo;
- Avalie também com que freqüência o assunto estudado aparecerá novamente nos próximos anos;
- Quem você está ensinando? Defina aonde quer chegar, o que a turma realmente precisa e o que é possível fazer;
- Escute com atenção os questionamentos que surgirem.
Mágicos e trapezistas
Adriana Fiorino Angulo, professora de Educação Infantil no Colégio Nossa Senhora do Morumbi, em São Paulo, acertou o rumo para este segundo semestre levando a sério várias dessas sugestões. O projeto inicial previa explorar o tema castelos medievais com as crianças. Como várias delas eram novas na classe, foi preciso dedicar mais tempo a tarefas de adaptação que abriram brechas para a entrada em cena de brincadeiras de mágica. O assunto, completamente fora do programa, logo encantou a garotada. Fez tanto sucesso que passou a dominar as rodas de conversa, na aula e no recreio.
O interesse crescente se traduziu em perguntas sobre outros personagens do circo, como trapezistas e palhaços. Adriana e a professora auxiliar, Renata Monteiro, não perderam a chance de transformar o desvio de rota em atalho. As duas começaram anotando os comentários que os pequenos faziam. Assim, descobriram o que eles já sabiam e o que gostariam de descobrir sobre esse mundo. Ou seja, criaram um projeto inspirado na vida circense. E vão colocá-lo em prática em agosto.
"Elas trouxeram para o dia a dia da sala de aula algo que interessava às crianças e, juntas, pudemos definir o que e como ensinar", destaca Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da escola. "Ter clareza em relação aos conteúdos e aos objetivos é fundamental, já que um trabalho pode ser desenvolvido de diversas maneiras", ensina ela.
Jogo de cintura
O caso de Adriana e Renata é um bom exemplo de como aproveitar as observações feitas durante o primeiro semestre para iniciar o segundo mais afinado com os interesses dos estudantes. Em outras palavras, ter jogo de cintura. "A escola é uma caixa de surpresas e isso irrita aqueles professores que se acham o centro de tudo", afirma Neide de Aquino Noffs, que leciona Didática na Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Quem é flexível e usa as conversas de fora de aula como pistas de conhecimento sai na frente."
Marcely Isaac, professora de Educação Infantil da Escola Projeto Vida, também na capital paulista, está sempre preparada para imprevistos. "Vou para a sala de aula com atividades extras em mente", conta. Improvisação? Nada disso. As novidades aparecem, estrategicamente, no planejamento semanal e nas anotações diárias que faz num caderno.
Aula concluída, ela coloca tudo no papel: o que estava planejado e o que de fato aconteceu. Nos registros, quais recursos surgiram na hora e como a turma reagiu. Esses relatórios são fundamentais, garante Regina Scarpa, pois permitem que todo professor aprenda com a própria prática. "Ao escrever, tomamos distância do que fizemos e, assim, podemos refletir sobre os procedimentos usados", afirma a coordenadora pedagógica.
Roseli Cassão, da Unicamp, dá outra dica preciosa: na hora das anotações, mais importante que as atividades em si é descrever o comportamento e a participação das crianças. Se você não tem tempo para fazer relatórios detalhados, escreva algumas frases marcantes ou organize as ideias em tópicos.
Nas turmas mais velhas, em que a pressão para cumprir os conteúdos costuma ser maior, rever o planejamento é ainda mais importante. Marcos Donizetti Leme, professor de História na Escola Raul Pilla, em Campinas, assumiu uma classe de 5a série no ano passado e em poucos dias percebeu que teria de virar o planejamento de pernas para o ar.
A ideia original era trabalhar a colonização do Brasil. Leme, diante das dificuldades dos alunos, resolveu explorar o entorno da escola (no bairro, há uma favela, alguns edifícios de classe média, um shopping center e resquícios de uma antiga fazenda de café) para estudar a escravidão e os negros. A primeira atividade foi uma visita à fazenda. De volta à classe, ele lançou a pergunta: o que nós queremos descobrir sobre aquele lugar?
O questionamento norteou o projeto e serviu para adaptar, passo a passo, o planejamento aos temas que surgiam. "A gente tende a achar que basta pensar antes e executar depois", avalia Leme. "Hoje sei que não é bem assim. O planejamento e a sua colocação em prática caminham juntos, em paralelo."
Por que planejar...
- Ajuda a definir objetivos que atendam aos reais interesses da turma
- Possibilita a seleção e a organização dos conteúdos mais significativos
- Permite organizar o que vai ser estudado de um jeito lógico
- Garante a escolha dos melhores procedimentos e recursos
- Faz com que o professor atue com mais segurança na sala de aula
- Evita a improvisação, a repetição e a rotina
- Facilita a continuidade do ensino
- Auxilia professor e alunos a tomar decisões de forma cooperativa e participativa
...e ser flexível
- O professor que não faz um planejamento maleável corre o risco de não alcançar seus objetivos
- Os alunos são a referência para a elaboração de um plano. É preciso acompanhar o desenvolvimento deles
- O plano é uma previsão, sujeita a erros. Daí a importância de mudar
Quer saber mais?
Colégio Nossa Senhora do Morumbi, Av. Giovanni Gronchi, 4000, CEP 05724-000, São Paulo, SP, tel. (11) 3746-8234
Escola Municipal de Ensino Fundamental Raul Pila, R. Promissão, 230, CEP 13093-340, Campinas, SP, tel. (19) 3255-8969
Escola Projeto Vida, Av. Santos Dumont, 1313, CEP 02012-010, São Paulo, SP, tel. (11) 6221-2344
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