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Jornalismo

Ainda convivemos com a crença de que as crianças podem ser classificadas como mais ou menos inteligentes, de acordo com o desempenho que têm nas aulas de Matemática. Em Na Vida Dez, na Escola Zero (184 págs., Editora Cortez, tel. 11/3611-9616, 27 reais), Terezinha Carraher, David Carraher e Analúcia Schliemann apresentam estudos que realizaram, há 20 anos, com trabalhadores, crianças e jovens de dentro e de fora da escola.

Os autores apontam que o fracasso escolar é da escola. E registram também que, historicamente, o problema foi creditado às secretarias de Educação e recaiu (e ainda recai!) nos ombros dos professores e até dos alunos! Trata-se, no entanto, de um fracasso que mora na própria incapacidade da instituição. Isso porque ela não avalia a competência dos estudantes e desconhece os processos de aquisição do conhecimento, além de ser inábil em estabelecer uma ponte entre o conhecimento formal - que se deseja ensinar - e o conhecimento adquirido no convívio social.

Quando se aceitar que as pessoas aprendem Matemática porque podem pensar, certamente o problema se voltará para a sala de aula e passará a ser outro, desencadeando questões como "Se as crianças, apesar de capazes de raciocinar, não estão aprendendo Matemática, o que fazer?". Uma das possibilidades sugeridas na obra para resolver o impasse é aproximar as práticas sociais às escolares para garantir que os alunos utilizem os conhecimentos que já possuem a fim de aprender conteúdos diferentes.

Outro ponto problemático que ganha destaque no livro é que, quando as tarefas dos alunos são definidas com base na aprendizagem de certa quantidade de regras, mais se cria um ambiente favorável à aprendizagem desfalcada de compreensão. Portanto, é fundamental permitir a utilização de diferentes estratégias de resolução para um mesmo problema e fazer circular esses diversos saberes.

Assim, a liberdade de pensar e de organizar diferentes formas de raciocinar prova ser essencial para que os estudantes compreendam o conteúdo e se tornem confiantes em sua capacidade de fazer Matemática de verdade.

Sobre os autores Organizaram o livro após concluírem os estudos do Mestrado em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Simone Azevedo, autora desta resenha, é formadora de professores do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac) e da rede municipal de São Caetano do Sul, SP.

Clássico do mês

Trecho do livro 

"O ensino de Matemática se faz, tradicionalmente, sem referência ao que os alunos já sabem. Apesar de todos reconhecermos que os alunos podem aprender sem que o façam na sala de aula, tratamos nossos alunos como se nada soubessem sobre tópicos ainda não ensinados. Os estudos narrados aqui nos mostram tantas situações em que aprendemos Matemática fora da sala de aula que a professora de Matemática poderá, a partir deles, ficar mais atenta para as situações diárias em que a Matemática intervém. Mas não é só isso; alguns desses estudos ‘analisam’ certas regras, mostrando seus componentes, suas inconsistências quando elas são colocadas num quadro mais amplo, e a perda de significado das atividades matemáticas realizadas na sala de aula.

Esses estudos mostram que um problema não perde o significado para a criança porque usa uva ao invés de pitomba ou pitomba ao invés de uva como a fruta do exemplo. O problema perde significado porque a resolução de problemas na escola tem objetivos que diferem daqueles que nos movem para resolver problemas de Matemática fora da sala de aula."

De 1º a 30 de abril, quem entrar em contato com a Editora Cortez e mencionar a parceria com NOVA ESCOLA ganha 30% de desconto na compra de um exemplar.

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