Relacionar os temas estudados em sala com o que ocorre fora dela é algo que deve estar no radar de todos os professores. Entre as formas de realizar essa tarefa, uma das mais consagradas é o trabalho de campo, presente em disciplinas como Ciências, História e Geografia. No caso dessa última, uma das intenções principais é levar a turma a compreender a paisagem cultural (a união de elementos naturais e construídos pelo homem em determinado espaço), entendendo as relações biológicas, sociais e econômicas que a estruturam.
Para chegar lá, organizar a visita é apenas um dos passos. Tudo começa com uma reflexão sobre o objetivo: você quer que os alunos conheçam na prática o que está no livro? Que reflitam sobre a vida em um local específico? Ou que comparem o que virem com sua realidade? Da resposta a essa pergunta, nascerão pistas para definir o tipo de trabalho mais adequado: excursão, estudo do meio ou turismo educativo (conheça cada uma delas nas próximas páginas). "É preciso considerar também a maturidade da turma, pois algumas alternativas exigem conhecimentos que os menores podem ainda não ter, como a linguagem cartográfica", explica Christian Monteiro de Oliveira, coordenador do curso de Geografia na Universidade Federal do Ceará (UFC).
O que não varia muito são as etapas de planejamento. A primeira é a organização da saída, que precisa de uma sondagem prévia do local para relacioná-lo ao tema abordado em aula. Em seguida, é hora de ajudar a preparar o caderno de campo (instrumento de registro que servirá de apoio na pesquisa), promovendo a aprendizagem das técnicas (entrevistas, fotografias etc.), discutindo qual a mais adequada ao desafio e o nível de complexidade (no caso de uma entrevista, deve-se decidir quais perguntas não podem ficar de fora e se o depoimento será anotado ou gravado).
Durante a visita, seu papel é auxiliar os alunos para que não percam o foco, direcionando a atenção aos aspectos essenciais ao trabalho. E, no retorno à classe, reserve momentos para que a garotada troque relatos e, principalmente, identifique o que ainda precisa de mais pesquisa para ser esclarecido.
Excursão
Objetivo
Aprofundar um tema ou tirar dúvidas após tê-lo estudado em sala. O desafio é relacionar o conteúdo dos livros com as observações no espaço externo. Em geral, consiste em uma única visita.
Anos
Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Também vale como primeira saída para as séries finais.
Exemplos
Conhecer a nascente de um rio durante os estudos de hidrografia. Visitar uma estação meteorológica para entender as explicações sobre diferenças climáticas numa cidade.
Antes da visita
Sempre que possível, vá ao local e crie um roteiro com os pontos principais. Em sala, os estudantes já devem conhecer o conteúdo. O caderno de campo deve ter instruções sobre os aspectos a serem observados: indicações do que fotografar, perguntas específicas para uma entrevista, tabelas de coleta de dados etc.
Durante a visita
Privilegie as perguntas da turma - como já conhecem o tema, o campo é o lugar ideal para debatê-las. Caso a visita seja monitorada, é importante que o professor esclareça aos monitores qual o conteúdo de estudo para manter o foco.
Depois da visita
No quadro ou por meio de um painel, promova a socialização dos dados observados e coloque em pauta as dúvidas que ainda restaram.
Estudo do meio
Objetivo
Conhecer, coletar informações e analisar diversos aspectos (cultural, social, ambiental e econômico) de um ambiente específico. O desafio é entender como eles se relacionam entre si. Pode se dar em uma única visita ou numa série.
Anos
Todo o Ensino Fundamental. Nas séries iniciais, é importante dosar a demanda por informações.
Exemplos
Visitar um manguezal para ter contato com seus aspectos culturais, ambientais, sociais e econômicos. Relacionar as características de um parque urbano (fauna, flora, público, atividades econômico-sociais etc.) com seu entorno.
Antes da visita
Como se trata de uma visita mais ampla, é preciso definir previamente quais aspectos se deve observar. Além de espaço para a coleta de dados, o caderno de campo deve ter um material didático que ajude o aluno a entender o que está observando, como mapas do local, fotografias antigas e reportagens.
Durante a visita
A turma pode ser dividida em grupos - cada um fica responsável por analisar um aspecto específico e reunir informações sobre ele. Se houver dúvidas, oriente os alunos a encontrar possíveis respostas por meio de entrevistas, por exemplo, e a registrar as que persistirem.
Depois da visita
As informações coletadas devem ser compartilhadas (em debates ou com a criação de bancos de dados coletivos) e aprofundados por meio de pesquisas em fontes escritas. Em seguida, no momento da síntese, é hora de relacioná-las e descobrir quais fenômenos têm razões externas ao local estudado - e, por isso, precisam de mais pesquisa.
Turismo educativo
Objetivo
Observar e coletar dados de diversos aspectos sobre um local e depois compará-lo com outro (em geral, mais próximo da realidade da turma). Costuma incluir uma série de saídas.
Anos
Séries finais do Ensino Fundamental.
Exemplos
Conhecer dois bairros, um nobre e outro periférico, para confrontar suas características. Visitar uma exposição sobre os produtos de exportação de outro país e compará-los aos exportados pelo Brasil.
Antes da visita
O ideal é que a atividade seja intercalada com aulas teóricas. Se a ideia de uma das visitas for analisar o comércio local, por exemplo, a aula prévia à saída pode abordar os setores da economia. O caderno de campo deve ser organizado para que o aluno encontre pontos de comparação.
Durante a visita
É possível organizar a turma em grupos que focalizem um único aspecto. O papel do professor é ajudar a manter o diálogo entre os ambientes, chamando a atenção para aspectos que sirvam de base de comparação.
Depois da visita
Reserve aulas para reunir informações sobre cada ambiente e, depois, para confrontá-los. Para entender diferenças e semelhanças, é preciso investigar de que maneira os fenômenos globais interferem em cada ambiente (ou seja, a relação global/local).