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Jornalismo

 

Vespasiando de Sá, secretário de Educação de Boa Vista, ao lado da coordenadora geral Thais Mascarenhas, da coordenadora Elielma Oliveira e da professora Dalmari Almeida: a dinâmica da formação . Foto: Arthur Guimarães
Vespasiando de Sá, secretário de Educação de Boa Vista, ao lado da coordenadora geral Thais Mascarenhas, da coordenadora Elielma Oliveira e da professora Dalmari Almeida: a dinâmica da formação

Cheguei hoje a Boa Vista do Tupim (BA), na região da Chapada Diamantina, depois de rodar 320 quilômetros vindo de Salvador. Apesar da beleza da região, não foram os altos platôs nem as cachoeiras caudalosas que mais me impressionaram. Ganhei meu grande cartão de visitas ao perceber que, assim como nos rios que nascem e descem as enormes montanhas, a formação dos professores de Ensino Fundamental na cidade vem do alto. Aqui, ao contrário do que ocorre em muitas partes do país, é a "cabeceira" do sistema de ensino que recebe o grosso dos investimentos das capacitações.

São os coordenadores pedagógicos, supervisores escolares e demais funcionários da secretaria de educação que estão no foco dos treinamentos. A idéia segue a lógica da natureza. Preparados e com bom volume de conhecimentos, eles conseguem ajudar de forma mais imponente o trabalho dos 280 professores, irrigando de forma sistêmica a ação docente, assim como tentam fazer, com o sertão, os rios da Chapada.

Objetivo certo
Mas essa dinâmica não surgiu por acaso. A entrada da cidade nesse moderno paradigma começou em 2000, com uma parceria fechada com o Projeto Chapada, entidade que, com consultoria e auxílio financeiro do Programa Crer para Ver, da empresa Natura, começou a oferecer na região cursos para formação de coordenadores pedagógicos. A empreitada visava melhorar o desempenho dos professores das 50 escolas da cidade, mas seu objetivo primeiro e maior era montar uma rede de formadores locais.

"A gente só tinha um coordenador pedagógico, e ele estava mais para faz-tudo do que para um treinador de educadores", lembra Vespasiano de Sá, secretário de Educação de Boa Vista. Para aumentar esse quadro, professores de sala de aula foram sendo recrutados. E iam adquirindo novas habilidades, subindo, subindo degraus, até que toda a pirâmide de funcionários do órgão ficou completa, com gente gabaritada.

Ajuda constante
Ainda não há um coordenador por escola, nem é essa a meta, já que algumas unidades são muito pequenas. Mas, hoje, já são mais de 16 coordenadores pedagógicos cuidando da rede, atuando semanalmente formando seus professores em serviço. A educadora Dalmari Almeida, 24 anos, sabe bem como essa nova metodologia dá certo. "Se fosse um curso de vez em quando, a gente ia ficar na mão. Mas em Boa Vista a gente tem um apoio direto", conta.

Esse suporte significa que, por semana, Dalmari tem quatro horas de planejamento de aulas - remunerados - com sua coordenadora, encontro que a deixa com o roteiro de aulas dos próximos cinco dias prontinho. Além disso, são mais quatro horas do chamado grupo de estudos - quando é eleito um tema de maior dificuldade para ser trabalhado com todos os docentes, por série. Por último, ainda há um acompanhamento ostensivo em sala de aula, que pode ir de uma visita crítica de sua coordenadora até a filmagem de sua aula em vídeo. "Acho bom. Sento com a coordenadora e discuto o que fiz certo e errado. Não tem nada de fiscalização", diz.

Estudo semanal
A capacitação de Dalmari é totalmente em serviço. Mas não é só ela que passa por isso - e essa é a diferença. Sua coordenadora, por exemplo, Elielma Oliveira, além de orientar em média 15 educadores, também continua em formação. "Toda semana, temos quase um dia de conversas, estudando, levantando formas de ajudar os professores", conta. Sua tutora, por sua vez, Thais Mascarenhas, é outra que trabalha e estuda ao mesmo tempo. Sua função é, de dentro da secretaria, organizar todo esse processo vivo de treinamento. Como os outros dois coordenadores gerais de Boa Vista, ela mensalmente se reúne com formadores externos e outros colegas de outros municípios. Com orientação de acadêmicos ou de outros especialistas vindos de Salvador e até de São Paulo, ela discute formas de melhor instruir os coordenadores que instruem os professores que ensinam os alunos. "A palavra é contaminação. Estamos todos envolvidos juntos por um mesmo objetivo", diz Thais.

Hoje, Boa Vista do Tupim comemora o resultado dessa integração. O índice de evasão, que era de 17% nas primeiras séries do Ensino Fundamental em 2000, estava em 4% pelos dados do ano passado. Já a reprovação, que em 2000 era a realidade de 19% dos estudantes, neste ano está em 9% dos 6 mil estudantes. A situação é tão positiva que, hoje, há espaço até para capacitações diretas para os professores, como uma que acompanhei sobre leitura nesta tarde. Em uma sala de aula, em grupos ou em roda, estavam os professores, sentados nas carteiras, de olhos atentos, reforçando os conteúdos curriculares que irão estudar com as crianças daqui para frente. Com o giz na mão, estava Márcia Magalhães, que já atuou por 13 anos alfabetizando crianças de uma escola construtivista particular de Salvador. Ela foi contratada pelo Projeto Chapada para dar esse plus na formação dos professores.
Amanhã, sigo para a cidade Itaquara, onde visitarei outro município que tem parceria com o Projeto Chapada.

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