"Eu me tornei professor após a aposentadoria"
Autorretrato
01/04/2013
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Jornalismo
01/04/2013
"Tenho 57 anos e dou aulas há apenas cinco. Hoje atuo na Educação Infantil. Sou responsável pela turma de 4 anos da EMEI José Virgilio Braghetto, em Batatais (a 355 quilômetros de São Paulo). Mas passei por várias atividades antes de realizar o sonho de ser professor.
Quando cursava a antiga 4ª série, meu pai faleceu e interrompi os estudos para ajudar minha mãe com os gastos da casa. Fui engraxate e trabalhei na roça e em uma metalúrgica. Quando saí de lá, fiz alguns bicos, mas a remuneração não era suficiente, então, passei a ser porteiro no Centro Universitário Claretiano (Ceuclar). Lá, me apaixonei pelo atendimento ao público, especialmente às crianças que iam ao colégio da instituição, e o desejo de lecionar surgiu.
Resolvi, então, retomar os estudos. Cursei o supletivo e, aos 48 anos, passei no vestibular para Pedagogia. Consegui uma bolsa da faculdade por trabalhar lá. Após a formatura, fiz pós-graduação em Alfabetização e continuei atuando como porteiro. Depois, prestei concurso público e passei em primeiro lugar para o cargo de auxiliar de Educação Infantil. Fui alocado na creche do Centro de Atenção Integral à Criança (Caic). Inicialmente os pais se assustaram ao ver um homem da minha idade, mas a coordenadora conversou com todos e não tive problemas.
Após dois anos, fui chamado para o cargo de professor, pois também havia participado de outro concurso. Então, passei a lecionar no prédio principal do Caic, mas continuei na Educação Infantil. De lá, vim para a EMEI José Virgilio Braghetto, onde educo 25 crianças. Com elas, estabeleci uma rotina e temos um momento diário para a leitura. Também fizemos um projeto inspirado nas obras de Candido Portinari (1903-1926), que viveu em nossa região. Observei com os pequenos os quadros em que ele retrata brincadeiras para inspirar nossas atividades.
Às vezes, também sou substituto em turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental e atuo como intérprete da língua brasileira de sinais (libras). Fiz um curso nessa área e já tive um aluno com necessidades educacionais especiais (NEE). Atuei em parceria com outros profissionais e consegui que ele avançasse nos conteúdos e também melhorasse sua coordenação motora. Por isso, ainda quero buscar uma pós-graduação ligada à inclusão.
Gosto muito de aprender e entendo que essa também é a função do docente. Alguns amigos de antes dizem que eu poderia estar apenas aproveitando minha aposentadoria. Mas não me arrependo do que fiz. Só quem vive a emoção de ensinar uma criança sabe como é especial."
Francisco Paulo dos Santos, professor da EMEI José Virgilio Braghetto
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