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Jornalismo

A escola que aprende

Criar um ambiente de troca de experiências entre a equipe docente é o papel dos diretores comprometidos com a qualidade do ensino

PorAndréa Licht

01/09/2008

Vem se consolidando, já há algum tempo, o conceito de que o principal papel do diretor é fazer a gestão da aprendizagem, ou seja, organizar a equipe e a infra-estrutura para garantir que os alunos avancem cada vez mais. Uma das iniciativas mais eficientes nesse sentido é a formação continuada dos professores (leia o quadro abaixo). O constante processo de aprendizagem, pesquisa, estudo e planejamento é tarefa em parceria com coordenadores pedagógicos para criar um ambiente de formação e de contato com novas idéias (leia mais sobre o papel do diretor no especial Gestão Escolar, de NOVA ESCOLA).

Como dizia o pedagogo e sociólogo norte-americano John Dewey (1859-1952), "quando se fala que um professor tem dez anos de experiência, vale se perguntar se ele tem dez anos de experiência ou um ano de experiência repetido dez vezes". Só a reflexão sobre a prática tem caráter formador de fato. "Mesmo as equipes escolares que contam com professores com boa formação teórica e muita prática precisam de reuniões para conhecer e discutir as questões específicas da comunidade onde atuam", destaca a pedagoga Marta Grosbaum, de São Paulo.

Na EMEB Professor Paulo Rezende Torres de Albuquerque, em Bebedouro, a 385 quilômetros de São Paulo, as lições de casa não passavam de tarefas mecânicas. No primeiro trimestre deste ano, lembra a diretora, Márcia Costa, o grupo percebeu que não estavam contemplados desafios de pesquisa, "o que evidenciava as dificuldades do próprio corpo docente com o tema". A solução: palestras com especialistas - seguidas de reuniões em equipe.

Isso só ocorreu porque a escola participa do projeto Ações em Rede, coordenado pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, com o envolvimento da Delegacia Regional do Ministério da Educação, de organizações não-governamentais e, claro, de outras instituições de ensino locais. "Essa troca de experiências, envolvendo também a comunidade e a universidade, é muito rica", diz Maria José Reginato, coordenadora do trabalho.

Para identificar (e atacar) os problemas, a Torres de Albuquerque mapeia as dificuldades de alunos e professores. São reuniões semanais (por série) para tratar de questões relativas ao aprendizado da garotada, encontros mensais com todos os 43 professores, avaliações regulares, auto-avaliações, registros reflexivos e outros instrumentos que dão foco às ações do gestor. No dia-a-dia, cada grupo define os métodos para aperfeiçoar o trabalho: cursos, leituras, reuniões, oficinas.

Aprendizado coletivo
Elianeth Hernandes, supervisora de ensino da Diretoria de Ensino da região de Assis, a 419 quilômetros de São Paulo, destaca que essa formação dentro da escola costuma ter ótimos resultados "porque se constrói adequada à realidade, sem copiar modelos vindos de fora". Foi o que ocorreu na EM Casa Meio Norte, em Teresina. Localizada numa região pobre, onde até há pouco tempo predominavam as casas de pau-a-pique, ela tem 22 professores, dos quais dez são estagiários, ainda cursando a faculdade de Pedagogia. Um dia, na reunião de planejamento, um professor confessou sua dificuldade em trabalhar conteúdos de Matemática na 1ª série. Rapidamente, outros colegas admitiram que tinham o mesmo problema.

A diretora, Osana de Morais, e a diretora pedagógica, Ruthnéia Costa, organizaram uma oficina para rever conteúdos do sistema de numeração decimal. Exercícios e situações-problema compuseram a aula - o professor, ao levar sua dificuldade para o grupo, abriu a possibilidade de aprendizado ou de revisão para todos. "Oficinas como essa permitem desenvolver habilidades ao se trabalhar em equipe", diz Osana. "E o bom é que os resultados logo aparecem", completa Ruthnéia.

 

Como melhorar o trabalho da equipe

Existem inúmeras maneiras de um bom gestor intervir no processo de formação continuada de sua equipe docente. Confira aqui seis estratégias.

- Foco na aprendizagem - Não pode haver dúvida sobre o objetivo final das atividades de formação, sejam elas realizadas dentro ou fora da escola. O benefício desse estudo tem de ser observado na sala de aula.

- Organização do tempo - Diretor e coordenador pedagógico devem transformar o tempo de formação (previsto em lei) em espaço obrigatório de discussão coletiva.

- Material selecionado e acessível - Livros, arquivos com projetos e seqüências didáticas e caixas etiquetadas com materiais diversos são uma boa solução para organizar o acervo e estimular a pesquisa. Esses materiais devem ser vistos como um recurso pedagógico importante para aumentar o repertório dos alunos.

- Cumplicidade entre a equipe - Segundo um provérbio africano, para educar uma pessoa é fundamental haver uma comunidade com valores intrínsecos a ela. No ambiente escolar, o ideal é predominar a idéia de que cada professor (e também cada funcionário) é um co-gestor.

- Olhar da equipe gestora - A agressividade das crianças no recreio, as dificuldades recorrentes em sala de aula, os alunos que faltam. Cabe ao diretor conhecer os problemas e agir para transformá-los.

- Senso de prioridade - Para facilitar a hierarquia das demandas, uma boa medida é fazer o plano de gestão. Assim, o diretor visualiza as urgências e define com mais facilidade a pauta das reuniões.

 

 

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CONTATOS
EM Casa Meio Norte, R. Pardal, 5659, 64057-065, Teresina, PI, tel. (86) 3215-7641
EMEB Professor Paulo Rezende, R. Pedro Lopes, 166, 14710-032, Bebedouro, SP, tel. (17) 3342-1155

BIBLIOGRAFIA
NOVA ESOLA Gestão Escolar
, edição especial, já nas bancas, 5 reais

 
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