Educadores Nota 10: o que faz deles campeões
O olhar que o professor imprime em seus projetos influencia o aprendizado e a construção da identidade dos alunos
01/03/2013
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Jornalismo
01/03/2013
Os dez trabalhos que você vai conhecer nas próximas páginas, realizados pelos vencedores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2012, têm um ponto em comum: são um reflexo de seus autores. A trajetória particular de cada um deles e a visão que têm da realidade estão projetadas nas atividades que apresentaram às turmas e nos enfoques que escolheram para desenvolver os conteúdos previstos no currículo, contribuindo para a constituição dos alunos como indivíduos, com identidade própria e capazes de agir sobre sua história.
Qualquer profissional tende, mesmo que de forma inconsciente, a colocar um caráter pessoal naquilo que faz. No trabalho docente, isso vai mais longe: "Boa parte do que os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida e, sobretudo, de sua história de vida escolar", afirma o pedagogo canadense Maurice Tardif no artigo Saberes Profissionais dos Professores e Conhecimentos Universitários. Portanto, é inevitável para quem está em sala de aula recorrer diretamente a essas lembranças e referências na hora de fazer as escolhas pedagógicas.
Os aspectos da personalidade do educador, adquiridos ao longo de seu percurso individual, aparecem em diversas situações - por exemplo, quando ele tem uma relação afetiva com o tema que vai ensinar e procura despertar a mesma afinidade na turma, usando isso em favor da aprendizagem. A identificação dele com o objeto de estudo e seu repertório pessoal enriquecem o trabalho pedagógico. "Para isso, esses elementos, que são subjetivos, precisam ser usados de forma objetiva, por meio de um planejamento e com uma intencionalidade clara por trás das escolhas", diz Sueli Furlan, docente da Universidade de São Paulo (USP). Assim, o que constitui a identidade do educador passa também a afetar os estudantes.
Foi o que fez Alessandra Silva de Souza, da capital paulista. A professora de Geografia transformou o vínculo que tinha com a escola em que leciona em um projeto com etapas e objetivos bem definidos. Os alunos tinham de observar, colher informações e analisar criticamente os acontecimentos escolares e do entorno. À medida que eles compreendiam cada vez mais aquela realidade, todos ampliavam seu conhecimento sobre o conceito geográfico de lugar (saiba mais sobre a influência pessoal de cada professor em suas iniciativas na próxima página).
Essa ideia tem relação com a teoria de Lev Vygotsky (1896-1934). No livro A Formação Social da Mente (224 págs., Ed. Martins Fontes, tel. 11/3106-9133, 52,08 reais), ele afirma: "O aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam". Nessa perspectiva, em que os pequenos se desenvolvem na relação com o outro, o educador é imprescindível, pois sua interação com eles é planejada com propósitos educativos.
"Da mesma forma que os alunos se constituem no relacionamento com o professor, este também está em constante construção por meio do convívio dialético com eles. Ele ensina e aprende", diz Teresa Cristina Rego, da USP. As referências que crianças e jovens levam para as aulas, seus saberes, interesses e comportamentos podem ser fontes de apoio para o educador aprimorar sua prática, incorporando novos elementos e abandonando aqueles que já não se mostrem adequados para o aprendizado de sua turma. As iniciativas aqui mostradas, bem planejadas e construídas com critério, podem servir de inspiração para você. Reflita sobre como fazer para que a influência da sua história em suas aulas não seja algo apenas intuitivo. Seu trabalho deve ter foco no aprendizado dos alunos e, para isso, as escolhas têm de ser conscientes.
O que está por trás de cada ideia
Veja como aspectos da história dos professores Nota 10 se transformaram em aprendizagens dos alunos
1 Alessandra Silva de Souza
Por ter estudado na instituição em que hoje leciona, a professora de Geografia tinha um forte vínculo afetivo com ela. Para que os jovens também desenvolvessem essa afinidade, criou um jornal mural. Por meio dele, a meninada trabalhou aspectos da identidade da escola e produziu registros para documentar sua história.
2 Cristina Mara da Silva Corrêa
A professora aproximou a turma de Educação Infantil da dança criativa, seu foco de trabalho, usando elementos que faziam parte da rotina deles, como pedrinhas e água. Ao mesmo tempo, ela mergulhou no universo do faz de conta, em que crianças imitam pedra e tomam banho de cachoeira feita com tecido e música.
3 Valkiria Grun Karnopp
A educadora apostou nos elementos da cultura local para promover nas aulas de Matemática o aprendizado dos alunos sobre polígonos. Ao elucidar os aspectos geométricos envolvidos na construção das típicas casas enxaimel, ela desenvolveu a visão deles sobre a realidade em que vivem.
4 Antonio Oziêlton de Brito Sousa
A boa experiência que teve com seus educadores inspirou o professor de Língua Portuguesa na criação de um projeto sobre leitura e escrita. Os jovens fizeram um livro de memórias sobre docentes que marcaram a vida de cada um e mudaram sua relação com os textos.
5 Ailton Luiz Camargo
Junto com os alunos, o professor de História pesquisou sobre economia colonial e a relação do homem com os animais na época e estabeleceu conexões entre o conteúdo e a realidade local. Isso fez a turma construir vínculos com o entorno e foi usado como um subsídio para a análise crítica do contexto atual.
6 Alessandro de Oliveira Branco
Com um trabalho sobre a obra de Cartola (1908-1980), o educador de Música contribuiu para que jovens e crianças aprendessem a tocar instrumentos. Ao aproximá-los dessa dimensão cultural, compartilhando com eles seu repertório particular, ele se transformou em referência.
7 Vera Cristina Terrabuio Lucato
Apesar de a cultura rural fazer parte do dia a dia local, alguns alunos da professora de Arte demonstravam preconceito em relação a ela. Por meio de um trabalho de fotografia, a educadora promoveu as aprendizagens técnicas e levou os adolescentes a, assim como ela, valorizar a vida no campo.
8 Felipe Bandoni de Oliveira
Formado em Biologia, o professor de Ciências reproduziu com a turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) os mesmos passos da investigação científica que são a base de seu trabalho como pesquisador. Com isso, os alunos ampliaram o conhecimento que tinham sobre a Lua, até então baseado em crenças populares.
9 Luciane Fernandes Ribeiro
Ao usar jogos para trabalhar números e operações com a turma, a professora de Matemática percebeu que nem sempre o silêncio é sinônimo de aprendizagem. Ela aprendeu um jeito de fazer a gestão da sala de aula diferente do que tinha vivido como aluna, valorizando a interação entre as crianças.
10 Jorge Cesar Barboza Coelho
O professor de Língua Portuguesa sabia que a tecnologia era um ponto importante do contexto cultural dos alunos. Então, usou o recurso para envolvê-los nas aulas e dar novo significado à produção de texto. Se posicionou como parceiro dos jovens e, com eles, criou uma TV online.
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