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Jornalismo

Educadores Nota 10: o que faz deles campeões

O olhar que o professor imprime em seus projetos influencia o aprendizado e a construção da identidade dos alunos

PorFernanda Salla

01/03/2013

Campeões do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2012. Foto: Marco Pinto

Os dez trabalhos que você vai conhecer nas próximas páginas, realizados pelos vencedores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2012, têm um ponto em comum: são um reflexo de seus autores. A trajetória particular de cada um deles e a visão que têm da realidade estão projetadas nas atividades que apresentaram às turmas e nos enfoques que escolheram para desenvolver os conteúdos previstos no currículo, contribuindo para a constituição dos alunos como indivíduos, com identidade própria e capazes de agir sobre sua história.

Qualquer profissional tende, mesmo que de forma inconsciente, a colocar um caráter pessoal naquilo que faz. No trabalho docente, isso vai mais longe: "Boa parte do que os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida e, sobretudo, de sua história de vida escolar", afirma o pedagogo canadense Maurice Tardif no artigo Saberes Profissionais dos Professores e Conhecimentos Universitários. Portanto, é inevitável para quem está em sala de aula recorrer diretamente a essas lembranças e referências na hora de fazer as escolhas pedagógicas.

Os aspectos da personalidade do educador, adquiridos ao longo de seu percurso individual, aparecem em diversas situações - por exemplo, quando ele tem uma relação afetiva com o tema que vai ensinar e procura despertar a mesma afinidade na turma, usando isso em favor da aprendizagem. A identificação dele com o objeto de estudo e seu repertório pessoal enriquecem o trabalho pedagógico. "Para isso, esses elementos, que são subjetivos, precisam ser usados de forma objetiva, por meio de um planejamento e com uma intencionalidade clara por trás das escolhas", diz Sueli Furlan, docente da Universidade de São Paulo (USP). Assim, o que constitui a identidade do educador passa também a afetar os estudantes.

Foi o que fez Alessandra Silva de Souza, da capital paulista. A professora de Geografia transformou o vínculo que tinha com a escola em que leciona em um projeto com etapas e objetivos bem definidos. Os alunos tinham de observar, colher informações e analisar criticamente os acontecimentos escolares e do entorno. À medida que eles compreendiam cada vez mais aquela realidade, todos ampliavam seu conhecimento sobre o conceito geográfico de lugar (saiba mais sobre a influência pessoal de cada professor em suas iniciativas na próxima página).

Essa ideia tem relação com a teoria de Lev Vygotsky (1896-1934). No livro A Formação Social da Mente (224 págs., Ed. Martins Fontes, tel. 11/3106-9133, 52,08 reais), ele afirma: "O aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam". Nessa perspectiva, em que os pequenos se desenvolvem na relação com o outro, o educador é imprescindível, pois sua interação com eles é planejada com propósitos educativos.

"Da mesma forma que os alunos se constituem no relacionamento com o professor, este também está em constante construção por meio do convívio dialético com eles. Ele ensina e aprende", diz Teresa Cristina Rego, da USP. As referências que crianças e jovens levam para as aulas, seus saberes, interesses e comportamentos podem ser fontes de apoio para o educador aprimorar sua prática, incorporando novos elementos e abandonando aqueles que já não se mostrem adequados para o aprendizado de sua turma. As iniciativas aqui mostradas, bem planejadas e construídas com critério, podem servir de inspiração para você. Reflita sobre como fazer para que a influência da sua história em suas aulas não seja algo apenas intuitivo. Seu trabalho deve ter foco no aprendizado dos alunos e, para isso, as escolhas têm de ser conscientes.

O que está por trás de cada ideia

Veja como aspectos da história dos professores Nota 10 se transformaram em aprendizagens dos alunos

Campeões do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2012. Foto: Marco Pinto

1 Alessandra Silva de Souza

Por ter estudado na instituição em que hoje leciona, a professora de Geografia tinha um forte vínculo afetivo com ela. Para que os jovens também desenvolvessem essa afinidade, criou um jornal mural. Por meio dele, a meninada trabalhou aspectos da identidade da escola e produziu registros para documentar sua história.

2 Cristina Mara da Silva Corrêa

A professora aproximou a turma de Educação Infantil da dança criativa, seu foco de trabalho, usando elementos que faziam parte da rotina deles, como pedrinhas e água. Ao mesmo tempo, ela mergulhou no universo do faz de conta, em que crianças imitam pedra e tomam banho de cachoeira feita com tecido e música.

3 Valkiria Grun Karnopp

A educadora apostou nos elementos da cultura local para promover nas aulas de Matemática o aprendizado dos alunos sobre polígonos. Ao elucidar os aspectos geométricos envolvidos na construção das típicas casas enxaimel, ela desenvolveu a visão deles sobre a realidade em que vivem.

4 Antonio Oziêlton de Brito Sousa

A boa experiência que teve com seus educadores inspirou o professor de Língua Portuguesa na criação de um projeto sobre leitura e escrita. Os jovens fizeram um livro de memórias sobre docentes que marcaram a vida de cada um e mudaram sua relação com os textos.

5 Ailton Luiz Camargo

Junto com os alunos, o professor de História pesquisou sobre economia colonial e a relação do homem com os animais na época e estabeleceu conexões entre o conteúdo e a realidade local. Isso fez a turma construir vínculos com o entorno e foi usado como um subsídio para a análise crítica do contexto atual.

6 Alessandro de Oliveira Branco

Com um trabalho sobre a obra de Cartola (1908-1980), o educador de Música contribuiu para que jovens e crianças aprendessem a tocar instrumentos. Ao aproximá-los dessa dimensão cultural, compartilhando com eles seu repertório particular, ele se transformou em referência.

7 Vera Cristina Terrabuio Lucato

Apesar de a cultura rural fazer parte do dia a dia local, alguns alunos da professora de Arte demonstravam preconceito em relação a ela. Por meio de um trabalho de fotografia, a educadora promoveu as aprendizagens técnicas e levou os adolescentes a, assim como ela, valorizar a vida no campo.

8 Felipe Bandoni de Oliveira

Formado em Biologia, o professor de Ciências reproduziu com a turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) os mesmos passos da investigação científica que são a base de seu trabalho como pesquisador. Com isso, os alunos ampliaram o conhecimento que tinham sobre a Lua, até então baseado em crenças populares.

9 Luciane Fernandes Ribeiro

Ao usar jogos para trabalhar números e operações com a turma, a professora de Matemática percebeu que nem sempre o silêncio é sinônimo de aprendizagem. Ela aprendeu um jeito de fazer a gestão da sala de aula diferente do que tinha vivido como aluna, valorizando a interação entre as crianças.

10 Jorge Cesar Barboza Coelho

O professor de Língua Portuguesa sabia que a tecnologia era um ponto importante do contexto cultural dos alunos. Então, usou o recurso para envolvê-los nas aulas e dar novo significado à produção de texto. Se posicionou como parceiro dos jovens e, com eles, criou uma TV online.

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