Ponto de chegada: a definição do currículo
Conhecer o que os alunos precisam saber (as chamadas expectativas de aprendizagem) facilita o alinhamento das atividades para o ano
14/01/2009
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo! Cadastre-se ou faça login
Compartilhe:
Jornalismo
14/01/2009
O bom planejamento envolve toda a rede municipal ou estadual (na definição de objetivos comuns), a comunidade escolar (na definição das metas de cada instituição específica) e, claro, os professores (na definição de como os conteúdos serão trabalhados em sala de aula). Nesse momento, é fundamental ter em mente aonde se quer chegar - ou seja, explicitar as chamadas expectativas de aprendizagem para poder pensar nas melhores formas de trabalhar cada um dos conteúdos (leia nos quadros que acompanham esta reportagem um resumo do que se espera que os alunos saibam ao fim dos cinco primeiros anos, em Língua Portuguesa e Matemática, com base em documentos das secretarias de Educação do estado e do município de São Paulo).
Infelizmente, ainda há poucas redes e escolas trabalhando com expectativas bem definidas. Mas é importante saber que elas nada mais são que a descrição dos conteúdos e das habilidades essenciais a desenvolver em cada disciplina. Além disso, devem mostrar como o domínio de cada conteúdo avança ao longo da escolaridade. Se no 1º ano o aluno precisa saber produzir um texto ditando-o ao professor, as metas para o ano seguinte devem prever qual o próximo passo desse aprendizado (produzir, por conta própria, re-escritas de histórias conhecidas, por exemplo). Em Matemática, as crianças começam a ter contato com tabelas simples no 1º ano - para poder chegar ao 5º interpretando dados de representações com dupla entrada. E assim por diante, em cada disciplina.
Na vida real, essa primeira etapa da definição de conteúdos se dá antes mesmo do início das aulas, quando são identificados os grandes temas a ensinar. Se você vai lecionar para a mesma série que no ano anterior, uma boa estratégia é olhar para trás e observar o que funcionou - e quais objetivos não puderam ser alcançados. Com base nos registros (anotações no caderno, avaliações dos alunos etc.), é preciso avaliar: os conteúdos foram absorvidos pela turma? Consegui cumprir as metas? O que vou fazer diferente para que todas as crianças efetivamente aprendam o que é necessário?
Depois da fase inicial de avaliação diagnóstica, o próximo passo é colocar as novas metas no papel. O que realmente importa é que esse material seja consultado e reavaliado por várias vezes ao longo do ano. O modelo mais tradicional é montar uma lista de conteúdos. Mas você pode construir uma tabela, com colunas dedicadas ao conteúdo, às estratégias de ensino, às ferramentas utilizadas (tipo de material didático) e aos objetivos a serem alcançados.
"Infelizmente, esse exercício é muito menos comum do que deveria em nossas escolas", reforça Marta Nornberg, do curso de Pedagogia do Centro Universitário La Salle, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. "Ainda somos, enquanto professores, profissionais que pouco registram o que projetam realizar. Daí a necessidade de articular uma construção definindo o que se quer (aonde chegar), como fazer isso, o conjunto de estratégias de ensino, por quanto tempo usar cada uma delas e com que profundidade trabalhar os conteúdos" (leia aqui uma reportagem sobre as formas de organizar as aulas).
Marta sugere destrinchar os conteúdos numa grade semanal, variando tanto as atividades de sala de aula como os tipos de lição de casa. Outra sugestão da especialista é fazer com que a tarefa puxe o assunto do dia seguinte de forma a amarrar a continuidade do planejamento. "Cada professor deveria cultivar um diário", afirma Marta. "Ao fim da aula, é enriquecedor o processo de registrar o que foi vivido em sala. E o ideal é relatar em detalhes o desenvolvimento das tarefas, a participação dos alunos, suas próprias reações etc. Só assim é possível ref letir sobre o que foi feito."
À primeira vista, a tarefa pode parecer simples, mas definir os conteúdos curriculares com base nas expectativas de aprendizagem para o ano letivo exige respeitar a sequência dos objetos de ensino. Além disso, é fundamental dominar as didáticas desses conteúdos para conhecer o percurso da turma e, sobretudo, conseguir avaliar os problemas pelos quais os alunos estão passando. Só assim é possível propor exercícios e planos de aula que façam todos avançarem.
Tudo isso sem deixar de lado as características próprias das crianças. "Não podemos esquecer que cada uma é um sujeito, com origem social, cultural e histórica peculiar. Por isso, é bom levantar o máximo de informações sobre a turma antes de dar início ao processo", afirma Marta Marandino, professora de Metodologia do Ensino da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Todo ano, a professora Andrea Maciel usa os primeiros dias de aula para fazer um diagnóstico da turma de 4º ano na EMEF João Belchior Marques Goulart, em São Leopoldo, na Grande Porto Alegre. "As atividades servem para descobrir a partir de que ponto devo continuar desenvolvendo os conteúdos. Uso essa informação para montar o planejamento, levando em consideração as metas preestabelecidas." Conversar com os colegas para conhecer melhor os alunos é outra iniciativa positiva. "Aqui, na escola, temos um combinado: se alguém percebe que algo não progride, buscamos apoio nos outros professores e na coordenação. Às vezes, eu estou fazendo coisas que são óbvias para mim, mas para os estudantes não. E só alguém de fora consegue identificar essa falha no processo de ensino." Esse espaço para a realização do planejamento coletivo, por disciplina ou por série, está se tornando cada vez mais comum em escolas, pois proporciona a troca de experiências e aumenta o repertório de boas práticas: quais estratégias de ensino funcionaram para tal conteúdo?
EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM LÍNGUA PORTUGUESA
1º ano
2º ano
3º ano
4º ano
5º ano
EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM MATEMÁTICA
1º ano
2º ano
3º ano
4º ano
5º ano
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Planejamento Sim e Não: Um Modo de Agir num Mundo em Permanente Mudança, Francisco Whitaker, 158 págs., Ed. Paz e Terra, tel. (11) 3337-8399, 31 reais
CONTATOS
EMEF João Belchior Marques Goulart, R. João Luis Puffal, 100, 91120-570, São Leopoldo, RS, tel. (51) 3568-4050
Marta Marandino
Marta Nornberg
INTERNET
A Organização do Tempo Pedagógico e o Planejamento, fascículo 3 da coleção Pró-Letramento, do Ministério da Educação.
Últimas notícias