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Jornalismo

"As crianças aprendem fazendo. O mesmo vale para os educadores"

Autorretrato

PorAnna Rachel Ferreira

01/08/2014

Daniela pesquisa a troca de conhecimento entre professores novatos e experientes. Foto: Eduardo Câmara
Daniela pesquisa a troca de conhecimento entre professores novatos e experientes
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"Nunca imaginei que tivesse que reaprender a andar. Mas, ao chegar aos Estados Unidos, num inverno rigoroso e com muita neve, descobri que teria de caminhar devagar - caso contrário, escorregaria e poderia cair. Estar disposto proporciona aprendizagens significativas. Foi com esse espírito que vim passar uma temporada na Universidade de Vermont, como parte do meu doutorado sobre residência pedagógica.

Escolhi a instituição pelo seu tradicional programa de formação de professores. Aqui, seguimos o princípio: as crianças aprendem fazendo. O mesmo vale para os professores. Desde o 2º ano de curso, os residentes trabalham oito horas semanais em várias áreas da escola de aplicação da universidade e assumem uma turma para atividades específicas, em média uma vez por semana. No 4º ano, eles escolhem onde querem fazer a residência de 25 horas semanais. Durante esse período, dividem a responsabilidade pela turma com o professor titular diariamente.

Vejo a troca entre os mais e os menos experientes ocorrer sempre - a presença desses estudantes dá vigor à equipe, que é convidada a revisitar sua própria atividade docente. A prática é tematizada em seminários e supervisões dentro da escola, que envolvem todos. Quinzenalmente, os alunos de Pedagogia se reúnem com seu mentor, professor da universidade que os acompanha e a quem eles prestam contas (há um mentor para cada oito jovens). Além disso, a universidade colabora oferecendo assessorias e treinamentos.

Começar cedo soluciona problemas que poderiam perdurar até o fim do curso, pois logo nos primeiros meses de estágio os graduandos tiram dúvidas e as relacionam ao que estão estudando. Uma vez, uma aluna perguntou como fazer quando as crianças não obedecem ou falam palavrão. Discutimos as fases do desenvolvimento, remetendo-a para o que tinha aprendido sobre Vygotsky (1896-1934) e Wallon (1879-1962) e exploramos formas de lidar com isso em sala.

No início, confesso que achava estranho esse entra e sai de pessoas diferentes. Temos o hábito de proteger o que ocorre em sala de aula. Mas a ideia, aqui, é mostrar o interior da escola para quem vem de fora e trazer o que se passa externamente para enriquecer o aprendizado na instituição. Da criança que aprende a escrever a primeira palavra ao residente que se entusiasma por ter dado uma dica que a ajudou a construir tal conhecimento, todos estão aprendendo."

Daniela Pannuti é orientadora educacional da Escola Vera Cruz, em São Paulo

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