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Jornalismo

A inclusão exige mudança

A celebração da diferença rompe com a cultura escolar que busca moldar todos a um modelo único

PorHelena Singer

18/01/2019

Uma das maiores conquistas da Educação nos últimos anos foi a instituição de uma política nacional que declarou como direito de todas as crianças e adolescentes estudar nas escolas regulares. Na prática, a lei garantiu às pessoas com e sem deficiência o direito de conviverem e aprenderem com a diferença.

Evidentemente, esses direitos encontram grandes obstáculos à sua efetivação em organizações orientadas para a homogeneização, como é o caso da escola. Só as instituições que criam novas formas de se organizar costumam acolher e efetivamente incluir nos processos de aprendizagem as pessoas das mais diversas capacidades, desejos e estilos de aprender. Para isso, efetivamente, são necessárias uma nova estrutura e uma nova cultura, nas quais a diferença seja celebrada.

A começar pela organização do espaço físico. Além da acessibilidade, é preciso garantir que todos se sintam parte daquela realidade, com suas diferentes capacidades mentais e físicas, culturas e hábitos. E também que todos se sintam responsáveis pelos cuidados com o espaço e o bem comum, cada um cuidando de si e do próximo, de acordo com suas possibilidades. Para que todos possam efetivamente aprender, é preciso que o currículo, as metodologias e a avaliação sejam organizados pela lógica da singularidade. Os estudantes precisam ter voz ativa na decisão sobre o que vai ser estudado, podendo expressar seus interesses e curiosidades, acessando métodos que consideram suas facilidades e dificuldades. A avaliação sobre quanto o aluno aprendeu considerará os percursos individuais, de onde ele partiu e até onde chegou no período analisado.

O espaço compartimentado em salas de aula e carteiras enfileiradas, o tempo segmentado em aulas, o conhecimento fragmentado em disciplinas e a evolução determinada pela seriação não favorecem a inclusão das pessoas com deficiência, ou até de quem vem de outras culturas.

É por isso que a política de inclusão é uma conquista para todos, uma vez que, para se efetivar, ela precisa que as escolas rompam com essa estrutura homogeneizadora que, na prática, busca moldar todos a um modelo único.

Helena Singer é doutora em Sociologia e líder da Estratégia de Juventude para a América Latina na Ashoka. Foi assessora especial do MEC

Crédito: Tomás Arthuzzi/Nova Escola

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