Boa educação além dos muros
Trabalhando com projetos, professores aproximam alunos da comunidade e melhoram o rendimento
01/04/2001
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Jornalismo
01/04/2001
Sempre que percebem que algo não vai bem - dentro ou fora das salas de aula - os professores da Escola Estadual Professora Idalina Vianna Ferro se reúnem. Nesses encontros, eles tentam identificar as causas do problema, discutem possíveis soluções e transformam a adversidade em desafio. Invariavelmente criam um projeto a ser implantado. "Com essa estratégia resolvemos dificuldades pedagógicas ou mesmo de relacionamento", afirma Lia Maura Foloni, que dirige a instituição há sete anos.
Essa forma de trabalho - aliada a uma estreita relação com a comunidade e ao incentivo a atividades extracurriculares -, garante aos 1149 alunos de 5ª a 8ª série e Ensino Médio um lugar entre os melhores da rede paulista. E a escola, motivo de orgulho de Bariri, a 320 quilômetros de São Paulo, se transformou em fábrica de projetos. "Queremos desenvolver habilidades, mas num espaço atraente", completa Lia.
Objetivo definido
Além de atrair os estudantes, o sistema implantado por Lia deixa os professores mais seguros. "Com projetos, a gente não se perde", avalia Helena dos Santos, que leciona Geografia. "Cada ação tem um fim definido." Helena e seus colegas de área já perceberam nas crianças que chegam à 5a e à 6a séries uma dificuldade para interpretar mapas, gráficos e tabelas. Para saná-la, eles aplicam atividades que envolvem outras disciplinas, como Língua Portuguesa, Matemática e Arte. Nas classes de 6ª, por exemplo, todos recebem diversos espelhos e lentes para observar a formação de várias imagens. "Explico que há diferentes formas de representar a realidade, e que o mapa é uma delas", diz Helena.
Outro trabalho, que une Ciências Naturais, Biologia e Geografia, tenta ajudar as turmas de 5ª a 8ª série a construir conceitos. Parte das atividades é desenvolvida no laboratório de Ciências. "Nessas aulas, os estudantes observam e comparam resultados e aprendem a tirar conclusões", explica a professora Silvana Braz, que conta com uma ajuda preciosa: para que os exercícios se tornem mais produtivos, os próprios alunos são treinados para atuar como monitores. Eles conhecem equipamentos e reagentes, aprendem a preparar as experiências e ajudam a solucionar dúvidas.
A capacidade de adaptação é uma arma da equipe docente para driblar os poucos recursos. O laboratório de Informática, por exemplo, não atende às necessidades, mas ninguém perde tempo se queixando da falta de estrutura. "Nos adaptamos, dividindo as turmas para que todos possam, em dupla, utilizar os cinco micros de que dispomos", explica o professor de Matemática João Simão, entusiasta do uso de softwares educacionais.
Próximo à comunidade
Os diversos projetos tocados durante o ano demandam pesquisas, passeios ou excursões científicas. Assim, não é raro ver alunos com o uniforme da Idalina em ação nas ruas. As águas do poluído Córrego Godinho, que corta a cidade, já foram coletadas e analisadas pela garotada da 7a série. "Procuramos conscientizá-los sobre a necessidade de preservação do ambiente", afirma a professora Silvana. Uma passeata pelo bairro encerrou outro trabalho, que envolveu Língua Portuguesa, Arte, Filosofia e História. O tema, violência nos meios de comunicação, na família e na escola, foi amplamente discutido em classe. "A pé ou de bicicleta, os jovens levaram à população suas mensagens pela paz", conta o professor de História João Gabriel.
Durante semanas, todas as classes foram, uma a uma, visitar a nova biblioteca municipal. "Nossos alunos liam pouco", lembra Elizângela de Almeida, que leciona Língua Portuguesa. Além de incentivar os estudantes a freqüentar também a própria biblioteca da escola, cada professor criou estratégias para desenvolver o prazer da leitura. Elizângela, por exemplo, leva gibi, jornal, revista, poesia, conto e crônica para a classe. "Cada um anota em sua ficha o que leu e dá sua opinião." No final do mês, ela faz um gráfico mostrando as obras mais procuradas. "Os comentários despertam a curiosidade e todos acabam lendo os títulos preferidos dos colegas." Além disso, o material vira base para tarefas de conclusão do bimestre.
Parcerias e união
Fundada em 1952, a escola funciona desde 1959 no mesmo local. Como o espaço é pequeno (quadro abaixo), só foi possível até agora montar uma sala ambiente, a de Arte. Uma parceria entre a prefeitura e a Associação de Pais e Mestres resultou na construção de quatro salas de aula. Para a conclusão da última, inaugurada no início do ano, a APM contou com parte da verba arrecadada na cantina, cerca de 800 reais por mês.
Há um ano, a Idalina está inscrita no Amigos da Escola, projeto que incentiva a participação da comunidade (quadro abaixo) no dia-a-dia escolar. A iniciativa rende mais 400 reais mensais para a APM. "Cada família interessada contribui com 1 real", explica Lia. E as portas ficam abertas ao trabalho voluntário. No ano passado, uma psicóloga atendeu, durante um semestre, crianças com dificuldades de aprendizagem. "Um dos maiores problemas que enfrentamos é a adaptação dos que vêm de outras unidades da rede estadual ou municipal ao nosso ritmo. Muitos têm problemas de relacionamento e, mesmo na 5ª série, até de alfabetização", afirma a coordenadora Dinorá Musegante. Por isso, a avaliação na escola, que funciona em sistema de progressão continuada, é feita dia após dia.
O aluno que começa a patinar é logo encaminhado para o reforço. "Temos 42 turmas, funcionando de manhã, à tarde e à noite", conta a diretora Lia. A maioria da clientela é carente ? 41% dos estudantes trabalham, inclusive muitos do diurno. "Nem sempre, no entanto, eles conseguem conciliar as duas atividades e, infelizmente, alguns acabam optando pelo emprego", lamenta Lia. Nesses casos, ela nunca se dá por vencida. "Chamamos os pais e, quando não obtemos sucesso, recorremos ao conselho tutelar." Estudantes carentes também são encaminhados ao programa Sonho de Viver, promovido pela prefeitura, e ao Centro de Promoção Social, mantido pela Igreja católica. Ambos dão acompanhamento no período em que os jovens não estão em aula. Com isso, a taxa de evasão no Ensino Fundamental caiu de 7%, em 1999, para 4% no ano passado.
A diminuição do índice vem ocorrendo porque os 53 docentes formam realmente uma equipe. Esse espírito é reforçado durante as duas reuniões pedagógicas semanais, das quais participam também a vice-diretora, Angela Fortunato, e as coordenadoras Dinorá Musegante e Vera Lúcia Piotto. "Nesses encontros, garantimos a unidade do trabalho", destaca Dinorá.
A idéia desse time é que todos os alunos se sintam "donos" da Idalina. Para reforçar ainda mais o compromisso, a participação no grêmio estudantil é incentivada. "Uma vez por semana, nos três períodos de aula, a gente anima o recreio com nossa rádio. Entre uma música e outra, passamos recadinhos, do tipo por que é importante manter a escola limpa", conta a aluna Patrícia Santos, 17 anos.
Coral, fanfarra e auto-estima
Diversas atividades extracurriculares (quadro abaixo) também ajudam a integrar todas os grupos ao ambiente escolar e melhorar sua auto-estima. Cinqüenta jovens participam do coral e oitenta da fanfarra. Outros vinte freqüentam aulas de xadrez. As três iniciativas são mantidas por meio de patrocínios.
Essa garotada representa a escola em eventos até fora do estado. Na capital paulista, a Idalina já fez bonito. Em 1999, venceu um concurso promovido pelo Memorial do Imigrante e abocanhou, entre outros prêmios, 6000 reais para a APM. Em setembro último, participou do Desafio Escolar 2000, competição promovida pelo jornal O Estado de S. Paulo com provas esportivas, artísticas e culturais. A etapa mais trabalhosa foi preparada previamente em Bariri: um mapa com o perfil dos eleitores da cidade. "Os alunos entrevistaram 6400 moradores", elogia o professor Gabriel. O trabalho foi recompensado com a quarta colocação, entre noventa participantes. "É muito legal para a gente que a escola se torne conhecida e que as pessoas fiquem sabendo como ela é boa", comemora Jaqueline Fernandes, 15 anos.
Raio X
Escola Estadual Professora Idalina Vianna Ferro
Professores: 53
Alunos: 1149 (EF 756 - EM 393)
Coordenadoras: 2
Funcionários: 14
Taxa de evasão: EF 4%
Taxa de promoção: EF 93%
Salas de aula: 12
Turmas: 34
Períodos: manhã, tarde e noite
EF - Ensino Fundamental; EM - Ensino Médio
Quer saber mais?
Escola Estadual Professora Idalina Vianna Ferro, Av. João Lemos, 31, CEP 17250-000, Bariri, SP, tel. (0_ _14) 662-1917
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