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Jornalismo

Não é só o aluno que precisa de um bom professor para aprender. O educador também necessita de bons formadores para fazer a diferença na sala de aula. O impacto na aprendizagem de iniciativas de capacitação em serviço costuma ser direto - e rápido. No Japão, um dos países mais avançados nessa área, a formação em serviço não acaba nunca: políticas públicas garantem que os professores ganhem conhecimentos até a aposentadoria (leia mais abaixo).

No Japão

100% dos professores fazem formação continuada
220 milhões de dólares são gastos em capacitação

Estudo permanente
Cursos anuais, tutoria, trabalhos em grupo: o aprendizado não pára

ESTUDO CONTÍNUO Com 17 anos de docência, o professor Watanabe já perdeu a conta de quantos cursos fez. Foto: Marcio Saiki
TESTUDO CONTÍNUO  Com 17 anos de docência, o professor Watanabe já perdeu a conta de quantos cursos fez
Os programas de formação continuada no Japão são obrigatórios durante todos os anos de profissão, até que o educador se aposente. No primeiro, segundo, terceiro, sexto e 12º ano de docência, os professores fazem cursos sugeridos pelo coordenador pedagógico da escola, que analisa quais as necessidades a serem supridas. Nos outros anos, é a vez de os próprios docentes escolherem pelo menos um dos cursos fornecidos pelo governo.

Yoshihiro Watanabe é professor do Ensino Fundamental há 17 anos na cidade de Minokamo, no Japão. Metodologia do ensino da Matemática, metodologia do ensino da Língua Japonesa, Recreação Infantil, Cotidiano Escolar... Ele perdeu as contas de quantos programas de formação continuada já fez. "Realizamos cursos dentro e fora da escola. Além disso, visitamos outros professores para observar e aprender com suas aulas. Sinto que, mesmo com uma experiência vasta, ainda tenho muita coisa a aprender." A avaliação é rigorosa: todo ano, a Secretaria de Educação local recebe um relatório com uma verificação de seu trabalho, baseado também nas formações das quais participou. "Acho bom. Assim, a Secretaria acompanha meu desenvolvimento de perto." 



O modelo japonês mescla atividades tradicionais, como cursos específicos - cada docente assiste a pelo menos um por ano -, com iniciativas inovadoras. Profissionais novatos são acompanhados por monitores dois dias por semana. Outra política é o estímulo às atividades em equipe. É comum os docentes elaborarem, planejarem e refletirem sobre seu planejamento e material didático em conjunto, assim como visitarem a sala de aula dos colegas para observarem seu trabalho.

Atualmente, diversos municípios brasileiros investem na formação em serviço para melhorar a instrução dos professores (em alguns casos, até para "substituir" a formação inicial, como você confere no quadro abaixo). O problema é como isso tem sido feito. "O currículo e o cronograma precisam ser discutidos com os participantes. É necessário casar a teoria do curso com a prática em sala de aula para que a formação seja realmente útil", diz Raquel Linhares, coordenadora da área de Educação do Senac em São Paulo. 

No Brasil

9% dos professores fazem formação continuada*
31,2 milhões de dólares são gastos em capacitação*

Prática precária
Em partes do país, a formação inicial e a continuada se confundem

DOIS EM UM Para Cícera, formação em serviço completa a graduação ainda não concluída. Foto: Gedson Passos
DOIS EM UM  Para Cícera, formação em serviço completa a graduação ainda não concluídaa

Em um país em que quase 30% dos 840 mil professores de Educação Básica não possuem graduação, a formação continuada muda de papel. Em vez de atualizar a instrução da faculdade, ela acaba quase que a substituindo. Cícera Trapiá, professora em Boa Vista do Tupim, a 331 quilômetros de Salvador, está no último período da faculdade de Pedagogia. Mas, mesmo sem o diploma, dá aulas. Ao mesmo tempo, corre atrás de mais conhecimento participando do programa de formação continuada do Projeto Chapada há três anos. "Na faculdade, quase não se fala em prática de sala de aula. Foi por meio da formação continuada que aprendi novas práticas pedagógicas para usar com meus alunos. Antes, eu não trocava experiências com outros professores. Hoje, levo as questões e discuto com eles." Exemplo de uma situação que se repete em muitos municípios, Cícera participa da formação uma vez por semana na própria escola em que leciona. Junto ao coordenador pedagógico, ela analisa o que aprendeu e usa o conhecimento para traçar seus planos de aula. "Já melhorei muito o trabalho de produção textual com os alunos. De dois em dois meses, há um encontro dos professores do projeto para discutir as práticas pedagógicas."

* FONTE: SEB e Censo Escolar/INEP 2006.

 



POR ONDE COMEÇAR
A sugestão é simples: que tal imitar as melhores práticas do modelo japonês? Uma ação que pode ser aplicada a todas as escolas, mesmo às mais bem-sucedidas, é o incentivo às atividades em grupo e ao intercâmbio de experiências entre os professores. Tanto melhor se diretores e gestores municipais e estaduais assumirem uma atitude proativa, reconhecendo as melhores práticas que surgirem do debate coletivo e oferecendo condições para que elas se disseminem pela rede - preocupação constante da maioria dos países de ponta, segundo o estudo da consultoria McKinsey.

Quando as deficiências de formação são mais graves, a troca de saberes não costuma ser suficiente para superar os problemas. Nos casos em que é necessária uma intervenção formal, a Secretaria de Educação precisa fazer um mapeamento da situação de cada escola do município. Para Juca Gil, da USP, esse retrato não pode ser montado apenas com base nos resultados dos exames nacionais: é preciso conversar com pais, professores e alunos para entender as deficiências a sanar. Raquel Linhares concorda com essa perspectiva. "Projetos únicos para toda a rede, com um currículo fechado ou excessivamente predeterminado, não contemplam a diversidade que existe dentro de cada unidade de ensino", opina.

A etapa seguinte é elaborar propostas de formação continuada para cada escola - as características encontradas determinam o tipo de curso e indicam a instituição ideal à qual se deve recorrer. Antes de bater o martelo, porém, vale prestar atenção em uma recomendação do relatório da McKinsey: verifique se a iniciativa pretendida aborda as três questões fundamentais para que as aulas sejam melhores (ajudar os professores a reconhecer seus pontos fracos e a trabalhá-los, apresentar as melhores práticas em Educação com a preocupação de convertê-las para a sala de aula e motivar os docentes a implementar as mudanças).

GRAU DE DIFICULDADE
Baixo, no que diz respeito ao intercâmbio de experiências. Para semear a cultura do trabalho em grupo, é imprescindível contar com um coordenador pedagógico que se responsabilize pela formação. Nas iniciativas formais de Educação continuada, a dificuldade varia de acordo com o tamanho do problema. Se for necessário envolver um grande número de escolas, os custos aumentam e se torna mais complexo disseminar boas práticas.

CUSTOS
Variáveis, no caso dos programas de formação continuada. No Senac, por exemplo, o valor é de 972 reais por mês por professor para o curso de um ano. Já no Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), o cálculo é diferente: considerando uma cidade com 1,5 mil habitantes, o custo médio é de 22 reais mensais por beneficiário - aluno, professor ou diretor. Procurar a iniciativa privada para bancar os custos pode ser uma alternativa.

TEMPO ESTIMADO
Médio prazo. Os países pesquisados pela consultoria McKinsey conseguiram resultados em um tempo relativamente curto. Há o exemplo britânico (apresentado na página 5) e outro de Boston, nos Estados Unidos, onde as políticas para melhorar a instrução dos professores fizeram com que a faixa de estudantes que alcançaram o padrão desejado em Matemática subisse de 25 para 74% (e em Inglês, de 43 para 77%). Esse avanço foi obtido em apenas seis anos.

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