"Ajudo professores a seguir lecionando durante a guerra"
Autorretrato
01/02/2014
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Jornalismo
01/02/2014
"Vivo na Palestina, em Gaza, uma região pobre e marcada há décadas por um conflito político, religioso e territorial. Trabalho na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) capacitando professores para lecionar em situações de emergência. Minha vida profissional foi impactada por um fato ocorrido nos últimos dias de 2008, na época dos exames finais. Por volta das 10 horas, começamos a ouvir barulho de bombas e tiros. Fumaça nas janelas: era uma ofensiva da força aérea israelense. Eu estava em casa, mas com a cabeça na Escola Safad para Meninos (aqui em Gaza, o ensino é separado por sexo). Fui professor polivalente da turma de 3º ano até meses antes do ataque. Imaginava se a equipe conseguiria acalmar os alunos e garantir a segurança que fosse possível. Ninguém por lá foi atingido. Mas o bombardeio causou mais de mil mortes e paralisou as aulas por 23 dias. Cerca de 440 mil estudantes ficaram impedidos de aprender.
O episódio mostrou quanto estávamos despreparados para manter condições mínimas de funcionamento em nossa rede de 650 escolas durante essas situações desafiantes. Felizmente, tenho tido a oportunidade de ajudar a mudar esse quadro. Com o apoio de um grupo de mais de 40 organizações, desenvolvemos políticas para que as escolas se recuperem mais rápido dos conflitos. Criamos um sistema de SMS em que gestores alertam os pais sobre perigos na área das escolas. Também implementamos requisitos mínimos para a Educação. Começamos com 25 instituições em áreas mais vulneráveis, próximas à fronteira com Israel. Entre março e agosto de 2010, promovemos 37 oficinas, com a presença de 750 educadores. Treinamos a equipe em procedimentos de segurança, como combate a incêndios e primeiros socorros. Formamos professores para realizar atividades de apoio psicológico às crianças e à comunidade. Orientamos a criação de um currículo alternativo, enfatizando competências básicas de linguagem e Matemática. Assim, se os conflitos causarem perda de dias letivos, os conteúdos principais continuarão sendo ensinados para as turmas.
Recebemos um retorno positivo dos educadores, que se sentem apoiados para seguir lecionando mesmo em momentos muito estressantes. Na guerra, estabelecer um sentimento de rotina é um suporte importante. Isso ocorre quando se garante o direito de aprender."
Bilal Hamaydah é oficial de projetos da Unesco na Palestina
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