Compartilhe:

Jornalismo

Pela primeira vez na história, a humanidade "pisa" em um cometa. Saiba mais sobre a inédita missão

 

Crédito: ESA/Roseta/Phillae/ROLIS/DSL/Divulgação

Imagem do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko feita pelo robô Philae antes de pousar

O robô Philae entrou na história da astronomia ao ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko, a 516 milhões de quilômetros de distância da Terra. A missão espacial da sonda Rosetta, que carregou o robô durante dez anos pelo espaço, foi empreendida pelos cientistas da ESA, a Agência Espacial Europeia. A reportagem "As primeiras notícias do cometa" (VEJA 2401, 26 de novembro de 2014), mostra os primeiros resultados do que o robô registrou nas poucas horas em que conseguiu manter-se ativo. Infelizmente, devido a percalços na superfície do corpo celeste, o Philae acabou pousando em uma região que não recebe a luz do sol, de onde ele obteria energia para recarregar sua bateria. Confira a seguir 6 perguntas sobre a missão Rosetta:

1. Qual a importância dessa missão?

A missão é um grande feito para a história da Astronomia. Há algumas décadas, a ideia de aterrisar um objeto construído e comandado por humanos em um pequeno corpo em movimento no espaço era considerada impossível. Estamos falando de uma pequena pedra, se deslocando pelo espaço e que foi alcançada quando estava distante de nós o equivalente a três vezes a distância entre a Terra e o Sol. Além disso, há ainda o feito inédito de conseguir perfurar o corpo celeste para colher amostras de seu interior, e não apenas observá-lo e monitorá-lo por telescópios ou instrumentos espaciais na órbita terrestre.

2. Por que é importante estudar os cometas?


Os cometas são corpos do sistema solar mais preservados do que os demais. Os planetas, como Marte e a própria Terra, para chegarem à configuração que conhecemos hoje, já sofreram inúmeras modificações ao longo de bilhões de anos, por causa do Sol, de sua própria evolução e de encontros com outros corpos. Os cometas, por passarem boa parte do tempo em regiões muito distantes, são afetados em menor escala pelos efeitos externos. Isso significa que as características das origens do sistema solar podem ser encontradas nesses corpos celestes e no que eles carregam, e isso pode explicar o que aconteceu entre a origem dos planetas e sua forma atual.

3. Do que os cometas são feitos?

Missões anteriores de monitoramento e observação telescópicas fizeram os astrônomos concluírem que cometas são compostos por rocha, camadas de moléculas orgânicas solidificadas, água em estado sólido e dióxido de carbono, o chamado "gelo seco".

4. Quais os principais achados até agora do Philae?

As amostras coletadas pelo Philae ainda estão sob análise dos cientistas responsáveis pela missão. Já é sabido que esses corpos contém gelo e matéria orgânica, ou até hidrocarbonetos (moléculas formadas por carbono e hidrogênio, geralmente encontradas em seres vivos) em sua composição, mas o robô conseguiu, pela primeira vez, colher amostras dessas substâncias. O próximo passo é analisá-las e comparar com o que é encontrado na Terra e no meio interestelar, onde já foram encontradas centenas de moléculas diferentes.
A água encontrada no cometa pode ser composta por oxigênio e hidrogênio, como a que conhecemos, ou feita por oxigênio e deutério, conhecido como "hidrogênio pesado", usado na composição de reatores nucleares. Já as moléculas orgânicas podem se revelar simples, como a do gás metano (CH4), ou mais complexas, como os aminoácidos.

5. Para quais avanços na Ciência os achados do Philae podem contribuir?

Os resultados das análises podem ajudar a desvendar questões relacionadas à origem da vida no planeta Terra. Caso a água encontrada e coletada seja composta pela mesma fração de oxigênio e hidrogênio, que a água que conhecemos e consumimos, ganha força uma hipótese dos cientistas de que toda a água existente na Terra veio trazida por cometas que se chocaram com o planeta, há bilhões de anos atrás.
Já a análise das moléculas orgânicas presentes na crosta do cometa, caso se mostrem substâncias complexas, como aminoácidos ou hidrocarbonetos de cadeias fechadas (mais pesados que o gás metano), pode sugerir que os cometas também trouxeram, em seus choques com a Terra, alguns dos componentes essenciais para a formação da vida.

6. Os elementos químicos que existem na Terra são os mesmo que existem no Universo?

Acredita-se que sim. O professor Jorge Horvath, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP explica que, no mundo antigo, Aristóteles acreditava que os planetas e corpos celestes eram feitos de matérias diferentes das que compõem o planeta Terra e os seres vivos, portanto, estudá-los não teria nenhuma funcionalidade prática. "Isso parou os estudos da Ciência por um milênio, e atualmente os cientistas não acreditam mais nessa ideia aristotélica". A mudança dessa perspectiva se deu, entre outros cientistas, com Galileu Galilei que no século 17, passou a defender a proposta de que todo o Universo e o que nele se encontra é feito dos mesmos elementos que encontramos por aqui, e também está sujeito às mesmas leis físicas. A quantidade, combinação e variação dos elementos pode mudar de acordo com o corpo celeste, mas acredita-se que tudo é composto pelos elementos classificados na tabela periódica. "É importante mostrar que aquelas coisas que parecem estranhas que enxergamos no céu nada mais são do que outras configurações da química, da física e de toda a ciência que observamos e estudamos por aqui", defende.

Fonte: Jorge Horvath
Professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP)

continuar lendo

Veja mais sobre

Últimas notícias