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Jornalismo

Mulheres no poder

Conheça algumas líderes políticas e ativistas que contribuíram para a ampliação da representatividade feminina

PorBruna NicolieloElaine Iorio

04/10/2016

Rigoberta Menchú
Rigoberta Menchú, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1992

 

Na entrevista A Saída é pelo Campo (VEJA 2422, de 20 de abril de 2015), a ministra da agricultura Kátia Abreu avalia a atual situação do agronegócio brasileiro e conta detalhes de sua trajetória pessoal: de dona de casa a uma das principais porta-vozes da agricultura no Brasil.

Viúva aos 25 anos, ela decidiu assumir a fazenda do marido contra a vontade da família e, hoje, quase 30 anos depois, faz parte de um seleto grupo de mulheres de destaque na política brasileira, no qual também figura Dilma Rousseff. Nos últimos anos, aliás, a presidente tem ocupado os primeiros lugares da lista elaborada pela revista norte-americana Forbes com as cem mulheres mais poderosas do mundo, junto de Hillary Clinton, Michelle Bachelet, Michelle Obama e Rainha Elizabeth II.

Apesar das conquistas femininas nas últimas décadas, porém, elas ainda têm pouco espaço na política. Uma pesquisa do Inter-Parliament Union (IPU), "Women in Parliament", divulgada em fevereiro de 2015, mostra que a presença das mulheres nas câmaras e nos senados ao redor do mundo representa 22,1%. A maior proporção ocorre nos países nórdicos, com média de 41%.

No Brasil, elas somam mais da metade da população, mas ocupam apenas 9,5% das vagas do Congresso Nacional. Para chegar até aqui, no entanto, tiveram de percorrer um longo caminho, como mostra a trajetória de algumas das primeiras brasileiras engajadas na política e nos direitos femininos.

A seguir, conheça personalidades, entre líderes políticas e ativistas, que contribuíram - e ainda contribuem - para que as mulheres tenham mais representatividade em ambientes majoritariamente masculinos.


Angela Merkel
Chefe de governo da Alemanha

Nascida em 1954, na Alemanha Oriental, Angela Merkel é filha de um pastor luterano. Estudou Física na Universidade de Leipzig e fez doutorado na Academia de Ciências de Berlim Oriental. Antes de ser nomeada candidata ao governo, enfrentou resistência dentro do próprio partido, a União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão). Seus críticos alegavam que ela não tinha os atributos que caracterizam um líder político bem-sucedido: o tempo de aprendizado na ala jovem do partido, uma forte rede de relações, poder dentro da legenda e bom relacionamento com a imprensa. Eleita três vezes chanceler alemã e chefe de seu partido desde 2000, Merkel é considerada a líder da União Europeia e, atualmente, indicada pela Forbes como a mulher mais poderosa do mundo.


Dilma Rousseff
Presidente do Brasil

Natural de Belo Horizonte, Dilma Rousseff nasceu no ano de 1947, em uma família de classe média alta. Interessou-se pelas ideias socialistas ainda na juventude, após o Golpe de 1964, tornando-se se membro do Comando de Libertação Nacional (Colina) e posteriormente da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) - organizações que defendiam a luta armada contra o regime militar. Detida entre 1970 e 1972, passou por sessões de tortura. Reconstruiu sua vida em Porto Alegre, formou-se economista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG) e iniciou sua carreira política. Ingressou no Partido dos Trabalhadores (PT) em 2001 e, no ano seguinte, participou da equipe que formulou o plano de governo de Luiz Inácio Lula da Silva para a área energética. Com a vitória de Lula, ocupou o Ministério de Minas e Energia e, em 2005, foi nomeada ministra-chefe da Casa Civil. Escolhida pelo PT para concorrer à eleição presidencial em 2010, tornou-se a primeira mulher a ser eleita presidente do Brasil, sendo reeleita ao cargo em 2014.


Michelle Bachelet
Presidente do Chile

Filha de Alberto Bachelet, brigadeiro-general da Força Aérea do Chile, Michelle Bachelet nasceu em 1951. Membro do governo da Unidade Popular liderado por Salvador Allende, ingressou no Partido Socialista ainda jovem, quando estudava medicina na Universidade do Chile. Após o golpe de 11 de setembro de 1973, seu pai foi preso pela ditadura militar, morrendo na prisão. Michelle e sua mãe passaram a viver na clandestinidade. Em 1975, foi detida pela ditadura e, posteriormente, enviada ao exílio. Foi a primeira presidente da União de Nações Sul-Americanas e a primeira encarregada da ONU Mulheres, agência das Nações Unidas para a igualdade de gênero. Antes de assumir a presidência pela primeira vez, em 2006, foi ministra da Saúde e ministra da Defesa, tendo sido a primeira mulher a exercer esse cargo na América Latina. Em 2013, foi novamente eleita chefe de governo, tornando-se a primeira a vencer duas eleições presidenciais na história do Chile.


Elizabeth II
Rainha do Reino Unido

Elizabeth Alexandra Mary nasceu em Londres em 1926 e foi educada em casa. Seu pai subiu ao trono em 1936 como Jorge VI, depois da abdicação do irmão Eduardo VIII. Herdeira da coroa, ascendeu ao trono aos 25 anos com a morte de seu pai, tornandos-e a chefe da comunidade britânica. Durante a Segunda Guerra Mundial, assumiu deveres públicos e serviu no Serviço Territorial Auxiliar. É a rainha do Reino Unido e de 15 outros estados independentes conhecidos como Reinos da Comunidade de Nações, além de chefe da Commonwealth, formada por 53 estados. Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra e, em alguns de seus reinos, possui ainda o título de Defensora da Fé. Ocasionalmente, enfrentou movimentos republicanos e pesadas críticas à família real. Contudo, o apoio à monarquia e sua popularidade pessoal permanecem altos.


Hillary Clinton
Senadora e pré-candidata à presidência dos Estados Unidos

Hillary Clinton nasceu em 1947. Formou-se em Direito pela Faculdade de Yale e, ainda na década de 1980, foi listada duas vezes como uma das cem advogadas mais influentes dos EUA. Tornou-se mundialmente conhecida como primeira-dama dos Estados Unidos entre 1993 e 2001. Em 1998, viu-se no centro das atenções quando seu marido Bill Clinton admitiu ter se envolvido com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. Na ocasião, Hillary dividiu a opinião pública ao manter-se ao lado do marido. Em 2001, tornou-se senadora do país e, sete anos depois, candidatou-se à presidência, perdendo para o atual presidente Barack Obama. Apoiada por ele, foi eleita secretária de Estado em 2009, com a missão de mudar o rumo da política externa do país. Atualmente, é candidata à campanha presidencial de 2016.


Michelle Obama
Primeira-dama dos Estados Unidos

A advogada Michelle Obama nasceu em 1964 em um dos bairros mais humildes de Chicago, o South Side. Após completar os estudos nas prestigiadas universidades de Princeton e Harvard, aceitou um emprego na firma de advocacia Sidley Austin, onde conheceu seu futuro marido e atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Foi fundamental na campanha presidencial de 2008, tornando-se a primeira afrodescendente a ocupar o posto de primeira-dama. Sempre no foco da mídia, ela procura levar o debate para longe do seu guarda-roupa e envolver o público americano em questões relevantes, como obesidade infantil, desiguldade social e desigualdade salarial entre homens e mulheres.


Rigoberta Menchú
Prêmio Nobel da Paz em 1992

Nascida em 1959, em um pequeno povoado localizado ao norte da Guatemala, em uma família de camponeses índios e pobres, Rigoberta Menchú envolveu-se em atividades de reformas sociais promovidas pela Igreja Católica ainda na adolescência, destacando-se no movimento de propriedade das mulheres. Seu trabalho despertou a oposição de poderosos, especialmente depois que uma organização de guerrilha se estabeleceu na área e sua família foi acusada de integrar atividades subversivas. Após ser preso e torturado, seu pai ajudou a fundar o Comitê da União de Camponês (CUC), ao qual ela também se filiou. Tornou-se organizadora no exterior da resistência contra a opressão na Guatemala e foi uma das fundadoras da frente de oposição comum ao governo do país, a Representação Unida da Oposição Guatemalteca (Ruog), em 1982. Responsável por mostrar ao mundo a antiga cultura maia-quiché, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1992 por sua campanha pelos direitos humanos, especialmente a favor dos povos indígenas.

Nísia Floresta (1810-1885)
Precursora do feminismo no Brasil

Potiguar de origem burguesa, Dionísia Gonçalves Pinto era filha de um português liberal e de personalidade progressista. Foi casada contra a vontade aos 13 anos, mas abandonou o marido logo em seguida. Com o pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta, começou sua carreira literária em 1831, publicando artigos em jornais de Pernambuco em que defendia o ideal republicano, a igualdade política dos sexos, a liberdade de culto e a emancipação dos escravos. Um ano depois, quando já sustentava os filhos com o trabalho de professora, publicou o artigo "Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens", em que exigia igualdade, Educação e participação feminina na vida pública.


Patrícia Galvão (1910-1962)
Jornalista, escritora e ativista política brasileira

Patrícia Rehder Galvão nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Mudou-se com a família para a capital paulista e, aos 15 anos, começou a escrever em um jornal de bairro. Musa da terceira geração do Modernismo Brasileiro, a jornalista e escritora ficou conhecida pelo pseudônimo Pagu. Filiou-se ao Partido Comunista em 1931 e, junto com o então marido Oswald de Andrade, fundou jornal "O Homem do Povo", com ideais revolucionários. Detida como militante comunista por várias vezes no Brasil e no exterior, tornou-se a primeira brasileira do século 20 a ser presa política.


Bertha Lutz (1894-1976)
Cientista, líder feminista e política brasileira

Filha da enfermeira inglesa Amy Fowler e do sanitarista Adolfo Lutz, Bertha Lutz nasceu em São Paulo e foi educada na Europa, onde tomou contato com a campanha sufragista inglesa. Formou-se em Biologia pela Universidade de Sorbonne, voltou para o Brasil em 1918 e ingressou por concurso público no Museu Nacional, sendo a segunda mulher a entrar no serviço público brasileiro. Com sua militância científica e política, lançou as bases do feminismo no país. Criou, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Na década de 1920, liderou um grupo de mulheres que reivindicava o direito ao voto, que levou à tramitação no Senado de um projeto de lei em 1930. Com a eclosão da revolução varguista no mesmo ano, as atividades parlamentares foram suspensas. Somente após a vitória das forças democráticas é que foi formado um grupo de juristas para elaborar o novo código eleitoral. Entre eles, estava Bertha, já formada também em Direito no Rio de Janeiro. A Revolução Constitucionalista atrasou mais uma vez a aprovação do projeto e, somente em fevereiro de 1932, Getúlio Vargas assinou o tão esperado direito das mulheres ao voto. Elegeu-se primeira suplente de deputado federal pela Liga Eleitoral Independente e assumiu a cadeira em 1936, destacando-se na defesa de mudanças na legislação trabalhista em favor de mulheres, crianças e adolescentes. Continuou no serviço público e teve uma atuação política nacional e internacional de destaque.


Heloneida Studart (1932-2007)
Defensora dos direitos das mulheres e política brasileira

Nascida em Fortaleza, Heloneida Studart é descendente do historiador Barão de Studart (1856-1938) e do líder abolicionista Antonio Bezerra de Menezes (1841-1921). Aos 16 anos, já no Rio de Janeiro, estreou como colunista no jornal "O Nordeste" e formou-se em Ciências Sociais pela Universidade do Brasil. Elegeu-se seis vezes deputada estadual pelo PT e teve atuação destacada no Congresso Nacional. Foi uma das mais ativas militantes do chamado "lobby do batom", que reunia a bancada feminina na década de 1980 e lutava pela criação de políticas específicas para mulheres. Com a redemocratização em 1985, o então presidente José Sarney enviou ao Congresso o projeto de lei que criaria o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), que desempenhou um papel fundamental durante a Constituinte de 1988, representando os interesses femininos nas discussões.

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