Cinco perguntas sobre a tensão entre EUA e Irã
Oriente Médio
18/11/2013
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Jornalismo
18/11/2013
Nas últimas semanas, a política internacional esteve focada na negociação entre Irã e Estados Unidos. A relação entre os dois países é marcada, há mais de 30 anos, por uma tensão permanente. O maior temor da comunidade internacional, no momento, é que o país oriental esteja desenvolvendo armamentos nucleares, que podem ser utilizados para atacar seus inimigos declarados, como Israel.
Abaixo, confira respostas às principais dúvidas sobre o tema.
Quais as raízes históricas da tensão entre os Estados Unidos e o Irã?
Pode-se dizer que o início do conflito se deu entre as décadas de 50 e 70. Em 1953, o golpe que colocou no poder os militares e o Xá Mohammad Reza Pahlavi (1919 - 1980) teve apoio norte-americano. Esse regime foi derrubado em 1979, pela Revolução Iraniana que, liderada pelo aiatolá Khomeini (1900 - 1989), instalou no país uma república islâmica. “Para os Estados Unidos, isso foi um duro golpe, já que lhe retirava um de seus maiores aliados na região, transformado agora em seu maior adversário, de novo, na região”, explica Salem Nasser, professor da Fundação Getúlio Vargas.
Um dos principais fatos desse desenrolar é a invasão da embaixada americana em Teerã em 1979, onde 52 norte-americanos foram mantidos reféns durante 444 dias por civis e militares que participavam da revolução. A história é contada de forma romantizada no filme Argo (Ben Affleck, 120 min., Warner Home Entertainment, 11/4004-2050). “Esse episódio destrói a relação entre os dois países, que foram se tornando cada vez mais graves com o tempo”, conta Hani Cukier, mestre em resolução de conflitos internacionais e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Por que o enriquecimento de urânio no Irã é visto como uma ameaça ao Ocidente?
Segundo os líderes do país, o objetivo do Irã ao enriquecer urânio é obter energia por esse meio. Entretanto, o domínio da tecnologia necessária para isso facilitaria a obtenção de uma arma nuclear. “Isso quebraria o Pacto da Não Proliferação de Armas Nucleares, assinado em 1970”, explica Cukier. Se o Irã de fato conseguir desenvolver arsenal atômico, terá seu poder e influência na região do Oriente Médio – e no resto do mundo – aumentado. “Conter o programa é, para o Ocidente, uma tentativa de conter o poder iraniano”, defende Nasser.
Por que a negociação está ocorrendo agora?
Os especialistas defendem a existência de diversos fatores. Por um lado, os Estados Unidos se mostram mais dispostos a fazer essa negociação. Alguns especialistas defendem que isso se dá pela visão mais “utópica” do governo Obama sobre as relações internacionais. “Ele quer resolver esse problema de forma pacífica a qualquer custo”, explica Cukier. Para outros, a posição dos EUA se deve ao atual cenário político na região do Oriente Médio. “A minha leitura é de que a partir dos acontecimentos na Síria, quando se percebeu que não se poderia intervir ali e que o regime sírio resistiria, entre outras coisas, pelo apoio do Irã e da Rússia, os Estados Unidos decidiram que era necessário repensar a organização da região e mudar de curso”, defende Nasser.
Quais as consequências para o Irã e para o mundo caso eles não cheguem a um acordo?
As chances de que seja estabelecido um acordo são grandes, mas é preciso atentar para os termos que serão definidos. Caso a negociação não dê resultados – ou os termos acordados não resolvam de fato o problema –, o Irã continuará desenvolvendo tecnologia nuclear e sofrendo sanções econômicas. Nesse caso, se houver a constatação de que o país está desenvolvendo armamento atômico, poderá ocorrer uma intervenção militar do Ocidente e uma nova reconfiguração da situação política na região, com o Irã aumentando seu poder de influência.
Essa tensão existente hoje no Irã pode vir a acontecer também com outros países no futuro?
Sim. A tendência, caso o Irã seja bem sucedido na manipulação dessa tecnologia, é que outros países também passem a utilizá-la, o que pode aumentar as tensões e instabilidades em todas as regiões do mundo. Por isso, as negociações que ocorrem em 2013 são tão importantes. “O ideal seria que essas negociações tivessem como consequência uma real mudança de curso em direção ao desarmamento nuclear, químico e biológico”, defende Nasser.
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