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Jornalismo

5 perguntas e respostas sobre o grupo extremista Boko Haram

Conheça o grupo radical islâmico que ganha cada vez mais espaço no noticiário. Ele pode servir como ponto de partida para levar a garotada a entender os conflitos contemporâneos e relacionar passado e presente

PorNOVA ESCOLA

05/05/2015

Protesto na Espanha pede a liberação de um grupo de meninas sequestradas pelo Boko Haram. A ação foi uma das mais conhecidas da milícia islâmica

Protesto na Espanha pede a liberação de um grupo de meninas sequestradas pelo Boko Haram. A ação foi uma das mais conhecidas da milícia islâmica

 

A Reportagem de VEJA Exército Nigeriano Anuncia Libertação de 160 reféns do Boko Haram mostra os detalhes de uma operação contra a milícia islâmica que atua no país. A notícia pode ser o ponto de partida para uma discussão sobre os conflitos atuais e sobre a presença muçulmana no mundo e, por fim, sobre a formação e à expansão do Islã. “Questionar se os alunos conhecem casos de minorias que protagonizam atos extremistas e mostrar reportagens traz a discussão para o tempo presente, introduzindo o contexto de formação dos conflitos entre cristãos e muçulmanos”, explica a professora Laís Sanchez, mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Ela formulou uma sequência didática sobre o assunto com exclusividade para NOVA ESCOLA.

Para ajudá-lo, elaboramos uma lista de perguntas e respostas para você se preparar para esclarecer as dúvidas que podem surgir em sala.


1. O que é o Boko Haram?
Um grupo radical islâmico que luta para impor a sharia (lei islâmica) em toda a Nigéria. Surgiu em 2002, como uma seita fundada na cidade de Maiduguri, no nordeste do país, a 1.583 quilômetros da capital Lagos. Foi fundado pelo clérigo muçulmano Mohammed Yusuf, que costumava dizer que a cultura cristã é a culpada de todos os males do país. Ele montou um complexo religioso na região, que incluiu uma mesquita e uma escola islâmica, cujo objetivo era servir como campo de recrutamento de jovens combatentes. Aos poucos, a seita se transformou em grupo armado – recebeu treinamento e apoio da Al Qaeda do Magreb, no norte da África, que tem maioria muçulmana, e outras milícias do continente, como o Al Shabab. Boko Haram significa, na língua local, “a educação não islâmica é pecado”.

2. Qual é a atuação do grupo?
A milícia coopta os chamados “almajirai”, jovens sem instrução, descontentes com a corrupção e com o descaso do governo, para servirem como combatentes. O Boko Haram ficou conhecido, inicialmente, pelo uso de homens armados em motocicletas que matavam policiais, políticos e qualquer um que o criticasse, incluindo clérigos de outras tradições muçulmanas e pregadores cristãos. A fase totalmente radical começou em 2009, depois que Mohammed Yousef foi morto pela polícia nigeriana durante um confronto. As ações do grupo (e a retaliação da polícia) se concentram no norte do país, região mais desértica e onde já predomina o islamismo. As táticas incluem com homens e mulheres-bomba, ataques a escolas e assassinatos com armas. A milícia também tem bombardeado igrejas, ônibus, bares, quartéis militares e até mesmo sedes policiais e da ONU. Em meio à crescente preocupação com a escalada da violência, o governo declarou estado de emergência, em maio de 2013, nos três Estados do norte onde Boko Haram é mais forte - Borno, Yobe e Adamawa. O envio das tropas levou muitos dos militantes da organização a deixarem Maiduguri, sua principal base urbana, em direção à floresta Sambisa, perto da fronteira com Camarões. De Sambisa, os combatentes do grupo lançaram ataques em massa contra aldeias, realizando saques, matando e queimando propriedades, no que parecia ser um alerta para que a população rural não colaborasse com as forças de segurança - como os moradores de Maiduguri tinham feito.

3. Quais os ataques mais conhecidos?
Entre todos os ataques realizados pelo Boko Haram (a Anistia Internacional calcula que cerca de 2300 pessoas já morreram por causa do conflito e os Estados Unidos declararam oficialmente o grupo como uma organização terrorista mundial - que precisa ser combatida - em novembro de 2013), o mais conhecido ocorreu em abril de 2014, quando a seita sequestrou 276 estudantes em Chibok, dizendo que iria tratá-las como escravas e casá-las, numa referência a uma antiga crença islâmica de que as mulheres capturadas em conflito fazem parte do "espólio de guerra". A milícia fez uma ameaça similar em maio de 2013, quando divulgou um vídeo dizendo que tinha feito reféns mulheres e crianças em resposta à prisão de mulheres e filhos dos seus membros. Houve depois uma troca de prisioneiros, em que ambos os lados liberaram seus reféns. O sequestro gerou uma megacampanha do Twitter, #BringBackOurGirls ("tragam de volta nossas meninas", em português), o que sensibilizou milhares de pessoas no mundo inteiro. Parte das meninas continua desaparecida, apesar das promessas do governo nigeriano de encontrá-las e dos drones americanos que foram espalhados para buscá-las pelo bosque de Sambisa. No início de maio de 2015, o Exército nigeriano promoveu uma série de ofensivas contra o Boko Haram e libertou mais de 700 pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, com quadros graves de desnutrição. Ao menos 214 mulheres estão grávidas.

4. Por que o Boko Haram floresceu na Nigéria?
O país, o mais populoso da África – e um dos mais populosos do mundo, com 170 milhões de habitantes –, é dividido por diferentes tribos e religiões. São três principais etnias, que juntam representam mais 50% da população: Hausa-Fulani no norte, Yoruba no sudoeste e Igbo no sudeste. Tais maiorias étnicas, no entanto, dividem-se em mais de 347 tribos. A diversidade religiosa também é grande: 50% da população é mulçumana, 40% cristã e 10% de outras religiões, em geral de origem tribal. Ex-colônia inglesa, a Nigéria se tornou independente em 1960. Mas divisões internas, tanto pré-existentes à colonização quanto as que se fortaleceram neste período, levaram a um golpe de Estado em 1966 e a instauração de um regime autoritário. Nas décadas seguintes, houve enorme instabilidade política: vários golpes de Estado, movimentos separatistas e a ausência de continuidade de governos democraticamente eleitos até 1999.

Na região norte, onde surgiu o Boko Haram, grupos de diferentes etnias, mas de religião muçulmana, foram sistematicamente marginalizados política, social e economicamente durante décadas. Além disso, o país tem taxas de desemprego acima dos 30%, baixos indicadores de saúde e educação e 62% da população na extrema pobreza, apesar de ser o mais rico da África, graças à extração de petróleo. Aproveitando-se do sentimento de abandono desses segmentos em relação ao governo central nigeriano, o Boko Haram surgiu e ganhou força com objetivo de tornar a Nigéria uma república islâmica.

5. Que outros grupos têm atuação semelhante?
O El Shabab, uma organização extremista que mata civis e impôs uma versão radical do Islã na Somália, tem atuação semelhante ao Boko Haram. Foi fundada em 2006.

 

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