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6 perguntas sobre o currículo e como o adaptar à BNCC

Confira as respostas das dúvidas mais comuns sobre a implementação do documento

Autor: Beatriz Vichessi

Uma confusão recorrente é confundir BNCC com currículo. Entenda essas e outras dúvidas comuns. Ilustração: Nik Neves/Nova Escola

1. A Base é currículo? 

Não, a BNCC é um documento que esclarece o que todas as crianças e jovens têm direito a aprender nas escolas e os objetivos que precisam alcançar. Já o currículo é o caminho para garantir esses direitos e objetivos. São as propostas e estratégias para guiar o que acontece em sala de aula. O currículo é algo mais abrangente se comparado à BNCC. A Base apresenta apenas O QUE ensinar para cada ano. O currículo deve apresentar, além dos princípios da rede/escolas, o COMO ensinar, ou seja, quais as estratégias metodológicas mais adequadas para o desenvolvimento daquilo que está sendo proposto na BNCC. Para que a construção do currículo seja legítima e todos se sintam representados, é importante contar com a participação de todos os representantes da rede. O currículo precisa ser algo vivo - não um documento apenas para ser entregue e arquivado.

2. Qual é o papel das redes diante da BNCC?

Por conta dessas características, as redes têm a tarefa de estudar o conteúdo da BNCC para compreender como o currículo da rede dialoga o documento e desenvolver um processo para fazer as modificações necessárias. No caso de redes que ainda não têm currículo, a tarefa é de se organizar para usar a Base como elemento da construção dele de modo colaborativo.

3. Como fazer o alinhamento do currículo à Base?

Não existe receita, mas algumas tarefas têm de ser cumpridas pelas redes. De forma simplificada, é possível traçar o processo assim:

Rede: estuda a Base e traça uma matriz para as escolas, com os caminhos para ensinar o que consta no documento.

Escolas: usam a matriz para adequar seu projeto político-pedagógico (PPP).

4. Qual é o papel de cada um? 

O papel da equipe técnica da Secretaria de Educação é de estudar o conteúdo da BNCC e analisar o currículo da rede. Depois, esses profissionais devem participar de discussões em pequenos grupos com membros representativos das escolas. O passo seguinte é ir até as escolas e liderar conversas com diretores, coordenadores pedagógicos e professores sobre a implementação; além de serem responsáveis por liderar o processo de participação de todos, por isso devem estar preparados para tirar dúvidas e propor debates que contribuam para a construção do currículo, considerando as características locais e a representatividade de todos.

Os coordenadores pedagógicos e diretores, além de manterem uma conversa com a Secretaria, devem estudar a Base para entender a estrutura e as competências por ela apresentadas. É necessário que criem espaços de estudos na rotina para fazer isso de maneira sistematizada. Eles podem também criar uma pasta com todos os materiais disponíveis para organizar uma sequência de estudos, incluindo aí o PPP da escola, que precisa ser revisitado à luz das orientações trazidas pela BNCC e pelo currículo da rede. Só então é possível organizar, levando-se em conta a agenda de formações da rede, reuniões nas escolas para estudos e discussão da BNCC com os professores.


5. Há professores na rede que não concordam com a implementação da Base. Como virar o jogo?

Para vencer resistências, é fundamental planejar para as primeiras reuniões com os professores, dando espaço para conversas sobre os ganhos que a BNCC oferece para o trabalho docente. A Base, ao contrário do que muitos pensam, não engessa nem limita a ação do professor em sala. O documento, aliás, nem toca em questões metodológicas. É, na verdade, um referencial que mostra as garantias do que os alunos têm direito a aprender e precisam constar de forma inegociável no currículo das redes: habilidades, valores, atitudes e conhecimentos. Ao fazer da Base uma aliada, é possível que os professores tenham mais clareza sobre o que os alunos precisam aprender. O documento é, ainda, uma referência para o planejamento das aulas, ajuda no planejamento das aulas. Depois desses esclarecimentos, vale deixar claro que para a elaboração ou atualização do currículo da rede considerando a BNCC, a participação dos docentes é imprescindível. Construir o currículo ajuda na implementação da Base porque aos se engajarem na tarefa, os professores legitimam os documentos em questão.

6. E as universidades? Como podem colaborar?

Atenção, gestores de rede! Vale a pena bater à porta de universidades - públicas ou particulares - e buscar parcerias para formar professores, coordenadores pedagógicos e diretores, seja no formato a distância, seja no presencial. As instituições de cursos superiores que oferecem licenciaturas podem ajudar. Confira:

  • Ajudar na construção e revisão do currículo da rede e do projeto político-pedagógico das escolas de acordo com o que diz a BNCC.
  • Realizar eventos formativos em regime de colaboração com as redes pública e privada: seminários, fóruns, formação de formadores, oficinas. O público-alvo não deve ser somente o profissional que está à frente de salas de aula, mas o aluno da graduação também.

Consultoria: Luiz Miguel, presidente da Undime-SP, João Paulo Derocy, consultor pedagógico especialista em BNCC do programa Formar da Fundação Lemann.