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Jornalismo

A importância de trabalhar pelo clima

Embora nosso foco muitas vezes esteja nos conteúdos específicos, cuidar das relações é essencial

PorFelipe Bandoni

02/10/2018

Para muitos professores, cuidar das relações entre os alunos pode parecer secundário, ou uma tarefa que deveria ser executada pela coordenação. Compartilho uma experiência que me fez refletir sobre como a aprendizagem depende de um clima amistoso na sala de aula.

Recebi uma turma particularmente conflituosa. Havia tensão na sala: pouquíssimos falavam, e muitos não se colocavam porque tinham receio de ser ridicularizados pelos colegas. Isso se repetia nas outras aulas, e houve inúmeras conversas da coordenação com os alunos.

Conduzi com essa turma uma sequência de trabalho idêntica à que realizei com outras: uma pesquisaem grupo sobre doenças ligadas à alimentação seguida de uma apresentação e uma discussão. O resultado foram conversas curtas e rasas, o que resultou em pior aprendizagem conceitual. Abordei apenas o básico. Os melhores alunos desse ano foram equivalentes aos medianos de outros. Isso me mostrou que o clima ruim entre os alunos interferiu negativamente na aprendizagem. Dúvidas não vieram à tona, esclarecimentos não foram dados, houve mais silêncio e menos conversa.

Olhando em retrospectiva, avalio que faltaram atividades para desenvolver a turma como um grupo mais colaborativo. Naquele contexto, imagino que seriam interessantes propostas que envolvessem habilidades variadas, em que agruparíamos alunos desenvoltos na escrita, por exemplo, com aqueles com facilidade para falar em público. Seriam propostas em que a produção dependesse do trabalho de todos. Saídas da escola também seriam proveitosas, já que essas situações “embaralham” as posições dos estudantes nas turmas.

Atividades com essa intenção são mais comuns na Educação Infantil e no Ensino Fundamental 1, em que os professores polivalentes têm uma carga horária maior e observam com mais cuidado esse aspecto. Professores das séries posteriores costumam se concentrar nos conteúdos específicos e com frequência deixam de lado as relações. Isso precisa ser repensado, pois sem um clima adequado há prejuízo também para a aprendizagem conceitual.

Felipe Bandoni é professor de Ciências na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Santa Cruz, em São Paulo. 

Foto: Tomás Arthuzzi

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