Inovação: Quais as ideias que estão transformando a escola?
Na Chapada do Araripe, na divisa de Pernambuco, Piauí e Ceará. alunos resgatam a memória do local e cuidam do Memorial do Homem do Kariri, que chega a receber 600 mil visitantes por ano
POR: Paula Salas e Pedro AnnunciatoHá tudo de novo sob o sol do sertão
A cidade erguida sobre um dos mais importantes sítios arqueológicos do país envolveu escolas e comunidade para preservar seu patrimônio

A Chapada do Araripe é uma formação do relevo que se estende pelos estados de Pernambuco, Piauí e Ceará. A região é considerada um sítio arqueológico de grande importância. Seja em escavações, seja por puro acaso, cerâmicas e outros artefatos foram encontrados por lá, como resquícios da vida que os homens kariri, que habitaram a chapada até o século 19, deixaram no local.
É sobre esse repositório do passado que nasceu, em Nova Olinda, na parte cearense, uma iniciativa que mudou a maneira como alunos de escolas públicas aprendem sobre o lugar onde vivem. Desde 1992, a Fundação Casa Grande, criada por Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde, mantém o Memorial do Homem Kariri, que reúne um acervo de objetos, histórias, músicas e outros registros coletados em mais de dez anos de pesquisa. E quem faz a gestão do local? “Contamos hoje com cerca de 40 crianças e jovens que, voluntariamente, atendem a um público de 60 mil pessoas por ano”, conta com orgulho Fabiana Barbosa, diretora-presidente da fundação. A própria Fabiana começou a atuar no memorial ainda jovem, como voluntária.
Além do memorial, que funciona em um antigo casarão da cidade, a fundação oferece um espaço dedicado a atividades de leitura, pesquisa, lazer e criação de produtos de mídia abertos aos estudantes. Existe até uma rádio que transmite conteúdo produzi do pelos alunos para toda a região. “A partir do momento em que eles começam a atuar, passam a existir na cidade, a se relacionarem de um jeito mais profundo com o lugar onde vivem e com a história que ali se desenrolou”, diz Fabiana.
O exemplo do Memorial do Homem Kariri mostra que inovar em Educação não tem a ver necessariamente com tecnologia de última geração. “O que precisa mudar é o olhar que se tem sobre os currículos, a rotina, a finalidade da escola. Quem disse que aprender é algo que cabe em aulas de 50 minutos dentro da sala? Para que serve o que se ensina?”, provoca o educador, antropólogo e folclorista Tião Rocha, que há mais de 20 anos criou o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPDC), em Minas Gerais.
Olhar para os problemas locais, rever as formas de aprender e compartilhar o conhecimento entre todos é o primeiro passo para inovar de verdade -– com ou sem tecnologia.
Três pontos essenciais para repensar as práticas

Necessidade
A prática deve partir de um problema real que pode ser resolvido com a ajuda da Educação.

Meio ambiente
Precisa levar em conta a preservação socioambiental do entorno da comunidade escolar.

Democracia
As soluções encontradas devem ser pactuadas e compartilhadas entre todos.
Qual é o papel da tecnologia na escola?
Professores e pesquisadores do assunto debatem como as novidades da era digital podem colaborar com a sala de aula
| ![]() Professor da Universidade de Stanford (EUA) |
"Minha experiência tem mostrado que a tecnologia permite criar ambientes flexiveis, capazes de abrir novas possibilidades de comunicação e interação que incluam alunos | "Durante 100 anos se achou que o papel da tecnologia era substituir o professor, mas esse uso da tecnologia, na maioria dos casos, não deu certo. Ela precisa permitir que os alunos aprendam coisas impensáveis e radicalmente novas" |
![]() Professor de Matemática | ![]() Professora e blogueira de Nova Escola |
"A tecnologia não é solução nem garantia de aprendizagem. O principal recurso ainda é a relação humana. Não basta apertar o botão e deixar que a máquina faça tudo para o professor ou para o aluno" | "As novas tecnologias abrem a possibilidade de resgatar uma aprendizagem mais ‘mão na massa’, hoje restrita ao Jardim de Infância. Elas colocam novos objetos de conhecimento, que precisam ser incluídos nos programas de formação docente" |
Uma caixa com muitas possibilidades

A dificuldade dos alunos em aprender sobre relevo motivou Peter Trento, professor de Geografia da EM CIC Eduardo Von Zuben, em Vinhedo (SP), a rever suas estratégias. “É um conteúdo que foge do cotidiano”, conta o docente. Inspirado por projetos internacionais e uma visita ao Museu Catavento, na capital paulista, ele criou a Caixa de Areia Interativa 3D: uma projeção que interage com as ondulações do material. E foram os próprios alunos que ajudaram a construir o equipamento e a programar o software. “Com a caixa, a turma ‘desenhou’ o relevo do continente americano e pôde se apropriar da linguagem cartográfica, não apenas lendo, mas produzindo mapas”, comenta o professor. E não foram só os alunos dele que saíram ganhando. Peter compartilhou o equipamento com outros colegas da escola e disponibilizou, na internet, um tutorial que mostra como construir a caixa. O material é gratuito: bit.ly/caixa-3d.
Do lixo à robótica

Ao andar pela ruas de Viçosa (AL), o professor de Matemática João Paulo Falcão se incomodava com a quantidade de eletrônicos abandonados. Então, ele decidiu levar o problema para seus alunos do 9º ano da EM Pedro Carnaúba, que tiveram uma ideia criativa para reaproveitar esses materiais. Eles recolheram o lixo, selecionaram o que poderia ser aproveitado e criaram o protótipo de uma casa sustentável. Para isso, a turma avançou em conteúdos clássicos, como conversão de unidades e cálculo de áreas, e no trabalho em equipe. “Meninos que não falavam se tornaram líderes”, diz João Paulo. O projeto ainda deixou um legado: foram criados três pontos fixos de coleta de lixo eletrônico na cidade.
Mão na Massa já tem 2.715 laboratórios
O movimento Mão na Massa está ganhando espaço no mundo – literalmente. Segundo os sites Hackerspace e Fablabs.io, plataformas que conectam educadores da área, há 2.715 locais dedicados à prática, entre espaços makers e fab labs. A metodologia privilegia a criação e experimentação de projetos.
Fab labs próximos de você:
bit.ly/fablabs-br
Hackerspaces próximos de você:
bit.ly/hackerspace-br