Criatividade abre as portas para melhor aprendizagem
Guiadas pela curiosidade, as crianças podem ser incentivadas a pesquisar e se tornarem agentes do aprendizado
22/08/2018
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Jornalismo
22/08/2018
Na Escola Municipal Professora Acliméa de Oliveira Nascimento, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, as crianças escolhem pesquisar por seis meses sobre a vida dos coalas e acabam se empolgando para estudar a história da Austrália. A partir dos seis anos, os alunos são estimulados a defender um tema que provoque curiosidade na turma e que sirva de fio condutor para o aprendizado.
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"O professor aqui não é um detentor do conhecimento, ele é um mediador. As crianças pesquisam temas que são importantes para elas e acabam desenvolvendo a imaginação, o gosto pela descoberta”, afirma Luciana Pires, diretora da escola desde 2015. Segundo ela, a instituição já era pioneira no ensino integral no município e aos poucos foi se tornando um território de resistência, um espaço de estímulo às mudanças. “O estímulo à criatividade está no centro desta pequena revolução", diz.
A capacidade de imaginar situações originais ou de criar soluções para problemas concretos é inerente a todo ser humano. Nas crianças, a criatividade é um impulso natural e recorrente, que pode e deve ser estimulado na escola. O pensamento criativo está relacionado às intuições, emoções e habilidades práticas.
A criatividade é parte das competências socioemocionais, propostas na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Essas características propõem o desenvolvimento do aluno como um cidadão completo, emocionalmente preparado para ter sucesso tanto nas relações pessoais quanto, no futuro, nas habilidades profissionais.
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Construção da cidadania
Além disso, estimular a criatividade na sala de aula pode ajudar na construção da cidadania. Um relatório de 2012 da Fundação Botín, da Espanha, aponta que o envolvimento das crianças em atividades criativas aumenta em 8,6% as chances de que elas criem laços de amizade mais sólidos durante a vida e também ajuda a estimular a empatia — a capacidade de se colocar no lugar do outro —, já que elevaria em 15,4% a chance de se engajarem em trabalhos voluntários, no futuro. A pesquisa foi feita pelo professor James Catterall, da Universidade da Califórnia.
"Na formação da cognição humana, mesmo a mais racional das inteligências se constitui fundamentalmente de criatividade, de imaginação", diz a filósofa Viviane Mosé. "A criatividade é uma ousadia, um gesto adiante. Isso é necessário em todo o tipo de inteligência, da mesma maneira que o afeto. A criatividade sempre foi essencial, ainda mais hoje, quando vivemos na sociedade da inovação. É uma sociedade criativa e que investe em inovação de formas múltiplas, e a escola deve ser parte desse processo."
A escritora apresentou recentemente a série "Janelas de Inovação", do Canal Futura, em que documentários produzidos e dirigidos por jovens realizadores mostram experiências educacionais por todo o país em que a criatividade é despertada nas crianças por caminhos diferentes, como em uma escola no norte de Goiás que não tem salas e os temas de estudo também são desenvolvidos a partir das sugestões dos alunos, como na experiência de Teresópolis; ou dos alunos no Espírito Santo que participam de um projeto de robótica que ajudou a remodelar as aulas de ciência — eles criaram, por exemplo, uma "desimpressora", para a reutilização do papel.
Ato criativo
Ainda que o professor, durante a sua formação, possa não ter sido treinado para pensar na criatividade como um conceito a ser trabalhado na sala de aula, ele já possui em sua bagagem pessoal as pistas para desenvolver a imaginação dos alunos, diz Antonio Lovato, coordenador do projeto Escolas Transformadoras no Brasil, da organização Ashoka e do Instituto Alana. O movimento tem 21 escolas no País.
“A vontade de mudar as coisas já é um ato criativo. O estímulo à criatividade passa pela presença de uma equipe transformadora dentro da escola. Só há uma transformação, se tiver uma equipe puxando o processo. E esse grupo deve entender que todas as pessoas na escola são agentes de transformação”, diz ele.
Alguns especialistas em educação creem que esse estímulo também ajuda na construção da autoconfiança da criança, por desenvolver as aptidões pessoais. Se a base do pensamento criativo é natural, a chave, então, é instigar o aluno a exercitar sua capacidade de interagir com o mundo de forma criativa.
As escolas não precisam encarar a criatividade como um fim ou uma competência abstrata, mas como meio para a resolução de uma série de questões das próprias escolas. Passa pela maneira como ela lida com a relação da comunidade, como integra as pessoas ao ambiente escolar, explica Lovato.
“Temos um exemplo de uma escola em Manaus, com dificuldades financeiras, que foi capaz de articular um movimento na comunidade para conseguir instrumentos musicais que estavam fora de uso ou criar instrumentos a partir de outros objetos, para montar um espaço de música, que fica aberto para o uso das crianças. A criatividade pode permear o cotidiano escolar da sala de aula à gestão.”
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