Construir conhecimento é mais que transmitir informações. Investir tempo para refletir sobre a própria prática e reaprender a lecionar é uma iniciativa para realmente fazer a turma se interessar pelas aulas e aprender os conteúdos. “É uma inversão de eixo: o foco passa a ser na construção do conhecimento por meio da investigação. Os alunos são desafiados a levantar hipóteses, construir o conceito. E ao final, o professor faz a sistematização. Assim, eles se tornam protagonistas”, diz Lilian Bacich, assessora pedagógica do Time de Autores NOVA ESCOLA de Ciências.
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Depois de participar da Virada de Autores, Denise Chiconato, professora de Ciências da EE Victor Maida, em Ibitinga (SP), mudou o modo de lecionar. “Aprendi a valorizar a ação dos alunos, deixá-los pesquisar o conteúdo trabalhado”, diz. Em um curso na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Denise também aprendeu a trabalhar com a metodologia STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, que incentiva a interligação dessas áreas em prol da aprendizagem interdisciplinar e com foco na aplicação prática do aprendizado).
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“Logo que voltei ao Brasil já coloquei tudo em prática. Motivei os alunos a trabalhar com protótipos. Fizemos um coletor de água da chuva com materiais descartáveis. Antes, eles pesquisaram na internet informações a respeito”, conta.
Estranhamento
Às vezes, a mudança de postura do docente, que passa a valorizar a aprendizagem ativa, mais mão na massa e colocando os estudantes em destaque, causa certo estranhamento. Eles ficam intrigados: por que precisam levantar hipóteses? Por que o professor simplesmente não explica o conteúdo, dá as respostas corretas e pronto? Esse desconforto é saudável e, na maioria das vezes, passageiro. Fabio Henrique Boreli, professor de Ciências EE Dom Barreto, em Campinas (SP), conta que quando começou a trabalhar com metodologias ativas de ensino, os alunos torceram o nariz, mas ele persistiu. “Ao final da aula, eles falaram ter adorado o novo jeito de aprender, que o conteúdo agora fazia sentido para eles”, diz.
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Um aluno chamou atenção de Fabio. Depois de passar um semestre indiferente, o garoto mudou de postura, começou a participar, ajudar os colegas e a se divertir nas aulas. “A relação dele com a disciplina mudou. E a minha também depois que aprendi, na Virada de Autores, a trabalhar com planos de aula que valorizam o pensar do aluno”, diz.
André Geraldo Cursino, professor do primeiro ciclo do Ensino Fundamental na EM Padre Zezinho, em Pindamonhangaba (SP), também inverteu o eixo das aulas, deixando os alunos ficarem no centro das atenções, trabalhando de modo colaborativo na resolução de problemas e com atividades que têm relação com o cotidiano. “É um desafio repensar a maneira de ensinar e aprender Matemática, uma disciplina tradicionalmente trabalhada de um jeito metódico. Eu me questionava sobre como manter a turma interessada e ao mesmo tempo promover um esforço produtivo por parte das crianças, de modo a transformar informação em conhecimento”.
A mudança nas aulas de André provocou tanto interesse da turma em aprender matemática que os alunos sempre cobram que ele trabalhe com planos de aula da Nova Escola. O professor também foi convidado a compartilhar sua experiência em sala de aula com colegas da rede de Aparecida, apresentando um curso de formação sobre os planos de aula alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
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Tecnologia
Dar espaço à tecnologia em prol da aprendizagem é outro ponto importante para quem está em busca de aperfeiçoar o jeito de ensinar, colocando os alunos em posição protagonista. “Recuperei a atenção e o interesse da classe durante as aulas depois que aprendi a usar o Google de forma mais eficiente durante a Virada de Autores”, conta Tarcísio Nunes Filgueiras Júnior, instrutor do SENAI/SC, em Brusque (SC).
Uma das utilidades que ele cita é o trabalho e compartilhamento de informações e tarefa em tempo real. Segundo Tarcísio, uma atividade interessante que pode ser proposta aos alunos é fazer uma viagem virtual. “A turma escolhe uma cidade destino para viajar por, pelo menos, três dias. Com o Google Maps eles mapeiam o trajeto, medem as distâncias, caminhos, pontos de paradas, com muita riqueza de detalhes”, sugere o professor. Segundo ele, também é interessante que a viagem seja feita em grupo, assim os alunos precisam fazer uma planilha de gastos com alimentação, hospedagem e transporte. “Em um documento compartilhado devem descrever todo o planejamento, colocar prints do Google Maps, mostrando hotéis e restaurantes que vão frequentar e registrar curiosidades das cidades pelo caminho”, explica.
Ao rever a prática e investir em novidades, como o uso do Google, alunos e professores ganham. Lilian explica que essa mudança é um benefício para a formação deles, que têm a oportunidade de olhar criticamente para o que aprenderam na graduação, questionar se a teoria realmente funciona.
Ao transformar o momento do ensino, valorizando o protagonismo da classe, o professor passa a ficar mais alinhado com a BNCC. Lilian ressalta que o documento chama atenção para competências gerais de argumentação, empatia, pensamento crítico e autoconhecimento. “E isso tem tudo a ver com aprendizagem ativa”, diz ela.