Estamos criando um oceano de plástico?
Todo ano, 8 milhões de toneladas de lixo chegam ao mar. Saiba os impactos para a vida marinha
01/08/2018
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Jornalismo
01/08/2018
Pense em como sua turma dos anos inicais reagiria a este dado: até 2050, haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Chocante, não? Descartamos lá cerca de 8 milhões de toneladas de lixo por ano, a maior parte feita de objetos de plástico. Para visualizar melhor, é como se esvaziássemos um caminhão de lixo no mar a cada minuto.
A gravidade do impacto ao meio ambiente preocupa o mundo todo. Recentemente, a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro aprovou o projeto de lei nº 1691/2015, que bane canudos de bares e restaurantes. É a primeira cidade brasileira a adotar tal medida. Na Europa, há a proposta de proibir não só canudos mas também produtos plásticos não reutilizáveis, como cotonetes, pratos e talheres. Que tal convidar os estudantes a olhar para esse problema?
Maíra Proietti, professora do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e coordenadora do Projeto Lixo Marinho, conta quais são os tipos de lixo mais ncontrados nas limpezas que acompanha na Praia do Cassino (RS): “Nos mutirões que fazemos com a comunidade e alunos da região, recolhemos muitos canudinhos, copos e sacolas lásticas”, afirma. Engana-se, no entanto, quem pensa que os plásticos descartados no mar provêm somente de quem mora ou visita o litoral. “As escolas que estão distantes da praia também precisam discutir esse assunto, pois 80% desses resíduos são de origem terrestre, chegando ao mar pelos rios”, explica Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP. Para explorar essa temática com os alunos do Fundamental 2, o professor pode realizar um mutirão de coleta de lixo na região, que pode ser feito até mesmo na própria escola.
MICROPLÁSTICO: Conheça os impactos dos microplásticos, como o glitter
1) O plástico não se decompõe. Em vez disso, quebra-se em pedaços cada vez menores, os chamados microplásticos
2) Ao atingir menos de 5mm, são denominados microplásticos. O glitter, muito popular no Carnaval, é um deles
3) Foram encontradas partículas em 114 espécies aquáticas. Mais da metade é consumida por nós. Os efeitos para a saúde humana ainda não são conhecidos
Crédito: Gary Bell/Getty Images
A temática pode ser introduzida pelo professor com três perguntas: o que é lixo marinho, de onde ele vem e o que fazer para resolver esse problema. “Isso faz com que a criança se veja como parte da solução, uma vez que, provavelmente, na segunda pergunta, ela se identifique como parte do problema. É interessante observar como os alunos internalizam essa discussão nas suas práticas do cotidiano, justamente aonde queremos chegar”, diz Alexander. É importante também que o docente compreenda a dimensão da questão. “O lixo marinho é um problema socioecológico, que envolve pobreza, gestão dos resíduos, comportamento, além do papel das empresas e das autoridades. Todos somos parte do debate”, resume.
Além disso, nem tudo que chamamos de lixo é lixo mesmo, mas, sim, resíduo e rejeito. “Resíduo é aquilo que pode ser reaproveitado ou compostado – ou seja, a maioria do que jogamos fora. Só uma pequena parte é rejeito e deve ser descartada, como chiclete e papel higiênico usado”, reitera Verônica Polzer, doutora em gerenciamento de resíduos. Outra dica é investigar os caminhos percorridos pelos resíduos desde o descarte. “Se a turma descobrir que existe coleta seletiva na região, por exemplo, poderá se mobilizar para manter os resíduos em sacos ransparentes e separá-los por tipos de materiais em casa, pois isso ajuda muito o trabalho das cooperativas”, comenta.
Segundo Verônica, o gerenciamento de resíduos passa primeiro pela redução do consumo, depois pela reciclagem e compostagem (para resíduos orgânicos), incineração de materiais e, por fim, pelo envio de rejeitos ao aterro. Nem sempre, porém, o lixo percorre esse caminho. Em 2015, das 218 mil toneladas diárias de resíduos sólidos geradas pelo Brasil, 20 mil toneladas acabaram em destinos inapropriados, inclusive, a natureza.
“Isso seria inimaginável na Europa. A Alemanha, por exemplo, investiu em infraestrutura, garantindo que os cidadãos separem o lixo e ele tenha destino adequado. O país foi o primeiro a
implantar a logística reversa, responsabilizando o produtor pela reciclagem dos produtos comercializados”, lista Verônica. Com isso em mente, incentive os jovens a fiscalizar se as empresas da região fazem a logística reversa.
Agora que já sabemos quanto lixo o Brasil descarta, quanto será que cada um produz em sua casa? Solicite aos alunos o registro de quanto resíduo é produzido por eles em uma semana ou um mês. Pode ser uma estimativa de volume ou peso, desde que leve em conta a quantidade e o tipo de lixo gerado. “Depois, desafie as crianças a separar o material em recicláveis, orgânicos e misturas. Com base nessa triagem, todos podem se comprometer a reduzir a geração de resíduos, em especial, do plástico. Os estudantes poderão compartilhar soluções interessantíssimas”, diz.
É importante não cultivar uma visão simplista e imaginar que o plástico é só lixo. Inventado há 150 anos, o plástico à base de petróleo passou a ser produzido em escala em 1950. Hoje, é encontrado em válvulas cirúrgicas, aviões e incubadoras, revolucionando da medicina à exploração espacial. Além disso, 40% dos material plástico é usado em embalagens descartáveis. Mesmo esse uso tem dois lados: na economia globalizada, embalagens plásticas reduzem o risco de contaminação e aumentam o tempo de vida dos alimentos. Não se trata, portanto, de demonizar o plástico, mas de repensar com os alunos o consumo e buscar soluções para minimizar o descarte dos resíduos.
LIXO MARINHO
Os efeitos do plástico nos oceanos
E O QUE PODEMOS FAZER?
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Use sua própria sacola reutilizável nas compras e recuse embalagens desnecessárias |
Adote garrafas e canecas reutilizáveis no dia a dia | Evite copos, pratos e talheres descartáveis | Utilize embalagens de vidro para armanezamento em vez de potes plásticos | Adquira brinquedos de madeira |
NA BNCC
Comparar características de diferentes materiais presentes em objetos de uso cotidiano, discutindo sua origem, os modos como são descartados e como podem ser usados de forma mais consciente. Habilidade EF01CI01
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