Como uma escola resolveu um problema na sala de aula de forma sustentável
Estudo norte-americano aponta que altas temperaturas diminuem as notas de alunos, mas professor aplica ideias para reverter essa realidade
06/06/2018
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Jornalismo
06/06/2018
A sustentabilidade pode ser uma solução barata e pedagógica para questões que envolvem a rotina das escolas, até mesmo quando se trata do clima indesejável. O Brasil é conhecido por suas altas temperaturas e as perspectivas para o futuro são de ainda mais calor nas diversas regiões do país. Em alguns lugares, como aqueles cobertos pela Caatinga, o aumento será de 5,5ºC até o final do século, segundo o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). O impacto é sentido inclusive nas salas de aula, onde alunos sofrem com menor rendimento causado por mal-estar e distração, e professores e funcionários reclamam da infraestrutura escolar que, muitas vezes, não é preparada para abrigar a todos de forma adequada diante dessas temperaturas.
Esses relatos, agora, são comprovados cientificamente. Uma pesquisa publicada este mês pela Universidade de Harvard e da Universidade da Geórgia, chamado de Calor e Aprendizado, mostrou que o calor dificulta o estudo em sala de aula e a concentração para os trabalhos até mesmo dentro de casa. Os acadêmicos americanos acompanharam o desempenho de 10 milhões de alunos ao longo de 13 anos e a relação entre o clima e os resultados acadêmicos foram perceptíveis.
De acordo com o relatório, os efeitos do aumento da temperatura começam a ser sentidos a partir dos 21°C e, então, a cada 0,55 grau de aumento no termômetro há uma queda de 1% das notas médias dos alunos expostos a esse clima nas escolas. Para os pesquisadores, uma das soluções é a instalação de ares-condicionados, mas justamente lugares com menos recursos materiais são aqueles que enfrentam as maiores temperaturas, ainda segundo o estudo.
Muitas escolas brasileiras vivem exatamente essa situação. Ar-condicionado pode parecer um luxo quando a realidade aponta que menos da metade das unidades de ensino possuem rede de esgoto, apenas 41,6% em todo o país, de acordo com os dados do Censo Escolar de 2017. Em alguns municípios brasileiros, as chamadas escolas de lata são verdadeiros condutores de calor. As escolas que funcionam sob árvores e coberturas também entram nessa lista. Nesse contexto, pensar em saídas que envolvem a sustentabilidade e os baixos custos podem resolver o problema do calor, entre muitos outros, e ainda estimular a criatividade e o aprendizado entre os alunos.
Construindo alternativas
Professor de física da escola estadual Alexandre von Humboldt, em São Paulo, Rafael Assenso pensa em projetos nas suas aulas regulares e eletivas que fazem com que os alunos coloquem a mão na massa. Misturando conhecimentos de robótica e até sociologia, os alunos estão desenvolvendo pesquisas que acompanham os resultados e os impactos de suas ideias, experimentando, assim, a iniciação científica. “Um dos pedidos mais recorrentes entre os alunos é para intervir no espaço da escola com seus projetos”, explica.
Rafael conta que o calor é um dos problemas resolvidos com essas ideias de sustentabilidade. Todas as construções são feitas com materiais reaproveitados e, consequentemente, muito baratos ou gratuitos. Nas aulas, o primeiro passo é pesquisar como o calor atua e quais são os objetos que já são confeccionados de forma adequada para sua filtragem ou isolamento.
Depois desse estudo, os alunos começam a desenvolver ideias de projetos que possam ser aplicados no espaço da escola. É o caso da fixação de tiras de pneus nas paredes das salas de aula, que funcionam como isolantes térmicos – baixando a temperatura do ambiente. O professor de Física lembra que os pneus são feitos de borracha, materiais amplamente usados no isolamento do calor, mas que são descartados até mesmo de forma indevida. “Cada aluno envolvido se mobilizou para trazê-los e estamos desenvolvendo essa ideia agora”, afirma.
Outro projeto dos alunos de Rafael propõe colocar placas eletrônicas construídas nas aulas de robótica nas janelas das salas. “O sensor desse pequeno mecanismo identifica as altas temperaturas e diminui a incidência de luz no espaço, fechando uma cortina”, conta o professor. Segundo ele, o aparelho se comunica com a estrutura da escola e foram os próprios alunos os responsáveis por encontrar a saída de fixar um tecido reconhecido pelo mecanismo.
Quando o sensor de temperatura detecta um valor pré-determinado, envia a informação para a placa que, por sua vez, gira os motores desenrolando o filtro de luz em frente a janela, diminuindo o fluxo de calor para o ambiente interno. Projeto: Rafael Assenso
A solução proposta pelos pesquisadores norte-americanos também foi pensada pelo professor de física da E.E Alexandre Von Humboldt. Rafael construiu um protótipo de ar-condicionado com garrafas PET e o colocou na porta de uma das salas da escola. “As garrafas canalizam e filtram o ar quente que entra no ambiente”, afirma. O ar passa primeiro pela parte maior da garrafa e é jogado na sala pela boca da garrafa, que filtra o ar. Graças a esse mecanismo, somente o ar frio chega ao ambiente. O professor ressalta que a diferença de temperatura pode ser de até 10°C. “Tudo está em desenvolvimento até o final do ano com os alunos”, conta o professor, com orgulho.
Ar-condicionado criado na escola por Rafael é feito nos mesmos moldes de ideia aplicada em Bangladesh:
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