Livros para morder, abraçar, brincar e ler!
Organizar momentos de leitura desde os primeiros anos de vida amplia o vocabulário e estimula a imaginação dos bebês
13/04/2018
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Jornalismo
13/04/2018
Ao entrar na sala da turma de 2 anos da Creche Municipal João Eugênio, em Recife, muita gente pode não entender como a professora Mirtes Melo permanece tranquila durante a leitura: mesmo com algumas crianças engatinhando para lá e para cá, outras em busca de brinquedos ou apenas interagindo entre si, ela não deixa o livro de lado e segue fazendo caras e bocas e mostrando as ilustrações. A cena faz parte da rotina diária da turma. A educadora não perde tempo na tentativa de manter todos com os olhos fixos nela nem sentadinhos quietos em roda. Isso porque sabe que a cena clássica, com ouvintes que permanecem em silêncio e prestando atenção, não faz o menor sentido quando se trata de bebês. “Na creche, movimento é pensamento. Durante a leitura, as crianças podem engatinhar, morder o livro e até se desinteressar por ele”, diz Karina Rizek, formadora da Escola de Educadores. A especialista argentina Maria Emília López, que esteve no Brasil para o Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura na Primeira Infância, realizado pelo Itaú Social, completa: “Quando investigamos as condutas leitoras dos pequenos, descobrimos que, ainda que pareçam dispersos, eles têm compreensão da história lida e constroem uma memória de leitura”.
Mas será que mesmo sendo caótico desse jeito, ler para bebês tem alguma serventia? Não só tem, como é fundamental. Vivemos em um mundo letrado e livros são objetos cotidianos. As práticas leitoras e escritoras estão espalhadas por aí e são vistas pelas crianças o tempo todo: em placas de trânsito, anúncios de supermercado, jornais, revistas etc. Desde que nascem, já estão inseridas em narrativas (quando a mãe conversa com elas, anuncia a hora do banho, pergunta se querem mamar, apresenta um acalanto…). Por isso, garantir experiências literárias para os pequenos é uma forma de mediar a relação deles com livros e com as pessoas que os cercam. Além do mais, de acordo com Karina, a leitura desde a infância auxilia no desenvolvimento da oralidade, revela para os bebês como a língua escrita é normalmente mais formal do que a língua falada, amplia o vocabulário e desperta a capacidade de imaginação e o encantamento pelo objeto.
O momento de ler
Preparar-se e organizar o ambiente para o momento da leitura é fundamental. Na Creche Municipal João Eugênio, em Recife, por exemplo, Mirtes não abre mão de se sentar no chão em roda, junto às crianças, e realmente entra na história. “Faço voz de bruxa, de monstro, dou risada, abro e fecho os olhos para imitar os personagens”, ela conta. A proximidade também permite identificar avanços no comportamento dos pequenos: “Noto que todos vão ficando curiosos para saber o que acontece na trama e com o passar do tempo o grupo desenvolve um repertório e sabe quais são seus títulos prediletos”, completa.
Maria Slemenson, gerente de projetos educacionais do Instituto Natura, também inclui na lista de cuidados a importância de diversificar o tipo de livro (apostando não só em prosa como em poesia), eleger obras com textos e ilustrações de qualidade e que apresentem personagens e temáticas que interessem aos bebês (como universo familiar e animais), além de oferecer enredos que não conhecem (leia no quadro abaixo indicações de obras). “O imperativo para fazer parte do acervo da escola é ter qualidade literária e visual e a tarefa do educador é mediar a interação dos pequenos com o objeto, de forma que eles possam brincar, interagir de verdade”, diz Maria. Para incrementar ainda mais a experiência, vale usar fantoches, montar cenários com tecidos, realizar a atividade em um canto escuro da sala, iluminado com uma lanterna, e exibir as páginas no chão ou na parede, com auxílio de um projetor.
Tendo esses cuidados em mente, não basta inserir a leitura na rotina. O educador precisa se conscientizar de seu papel de observador, para analisar os resultados da atividade e corrigir rumos. Entre outros comportamentos, é esperado que, com o tempo, as crianças construam uma relação de amor com os livros, elejam seus prediletos, antecipem o que vai acontecer nas histórias conhecidas que são lidas novamente, peçam para que determinada obra seja eleita em vez de outra, se apropriem do vocabulário dos textos e reconheçam o título só de olhar a ilustração da capa.
Ao cultivar a prática com a turma de 2 anos da creche, Mirtes não só percebe resultados no grupo como afirma ser nítida a transformação na relação entre os familiares e deles com a escola. “Incentivo que os pais leiam para os filhos em casa e já me surpreendi positivamente com famílias que passaram a frequentar bibliotecas e livrarias nos fins de semana e com uma mãe que voltou a estudar para aprender a ler”, conta.
ENGATINHANDO NA LEITURA
1) LER COM O CORPO TODO
Faça variações na voz para diferenciar o narrador e cada um dos personagens. Também invista nas expressões faciais e na postura corporal para demonstrar movimentos e sensações citados na obra.
2) ESPAÇO DA LEITURA
Organize o momento. Ponha almofadas e tapete no chão para que as crianças se sentem perto de você e garanta que todos consigam ver o livro. Tecidos, fantoches e outros objetos despertam a atenção.
3) PARA, COMEÇA E REPETE
Não espere que a leitura seja silenciosa e sem conflito. As crianças vão engatinhar, interagir entre si e, em alguns momentos, a agitação dos pequenos pode ser tanta que você terá de parar a leitura. Sem problema, retome depois.
4) LIVRO DE LER COM A BOCA
Deixe que eles manuseiem e explorem os livros, sobretudo os pensados para promover a interação. Não se desespere se os chacoalharem, dobrarem ou até morderem: é assim mesmo que os pequenos interagem com as obras.
3 LIVROS PARA APRESENTAR AOS BEBÊS
Sonoridade, cores e formas chamam a atenção da turma. Conheça obras com essas características. Cores, ilustrações variadas e possibilidade de interação são fundamentais para que os pequenos demonstrem ainda mais interesse nos primeiros contatos com as obras.
1. UM ABRAÇO PASSO A PASSO
Tino Freitas - 24 páginas - Panda Books - 35,90 reais www.pandabooks.com.br
A capa se abre em um abraço para ser apreciado pelos pequenos. Cores e formas, personagens e a sonoridade do texto chamam a atenção dos bebês.
2. QUERO COLO!
Fernando Vilela e Stela Barbieri - 36 páginas - Edições SM - 38 reais - www.edicoessm.com.br
A obra homenageia o encontro com os braços dos pais e mostra que o desejo de sentir-se amparado e protegido por quem se ama é universal.
3. ERA UMA VEZ OUTRA VEZ
Edith Chacon - 34 páginas - Edições Barbatana - 38 reais - www.edicoesbarbatana.com.br
É livro? É brinquedo? É jogo? Esta obra é um convite à interação. As palavras ganham formas, cores e movimento, saltando entre um verso e outro.
*CONSULTORIA: DENISE GUILHERME, CRIADORA DA TABA, EMPRESA ESPECIALIZADA EM CURADORIA DE LIVROS INFANTIS.
De olho na BNCC
Demonstrar interesse e atenção ao ouvir a leitura de histórias e outros textos, diferenciando escrita de ilustrações, e acompanhando, com orientação do adulto-leitor, a direção da leitura. Objetivo de aprendizagem: EI02EF03
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