Estudar dá trabalho, mas também dá prazer
Aprender traz a alegria de conhecer coisas novas, entender melhor o mundo e a vida. Você já disse a seus alunos?
12/04/2018
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Jornalismo
12/04/2018
Um peso que todo professor carrega é a necessidade de motivar os alunos. Um peso e uma impossibilidade, pois, como diz Mario Sergio Cortella, motivação é um motor interno, indica algo que parte da pessoa. O máximo que podemos fazer é incentivá-la a se engajar. Ocorre que o ensino obrigatório representa um tremendo desafio aos educadores. Mesmo na melhor das escolas, é de se esperar que uma parte dos estudantes não esteja lá por vontade própria, mas porque alguém está mandando. E aí a bomba acaba sobrando para os docentes: como obrigar alguém a fazer o que não quer?
A sugestão tradicional é que as aulas sejam dinâmicas e atraentes. É claro que esse é um objetivo a se buscar, mas há inconvenientes. Primeiro, porque mesmo uma aula-show não é garantia de aprendizagem. Segundo, porque a sala não é um parque de diversões ou um espetáculo pirotécnico. Haverá ocasiões em que será preciso enfiar a cara nos livros, sentir sono ao ler, angustiar-se diante de um exercício, deparar-se com uma questão e não saber por onde começar. É parte do processo. É assim a atividade intelectual.
Os alunos precisam saber que estudar dá trabalho e que, muitas vezes, não vai ser divertido. Vai ser estafante como uma malhação pesada. Outras tantas vai ser frustrante e virá na forma de um texto que não compreendemos plenamente ou de um problema que ainda não conseguimos resolver. E em algumas ocasiões o conteúdo não vai ter aplicação prática imediata. Pior: talvez nem tenha utilidade futura! No entanto, será importante conhecê-lo. Não aprendemos equações do segundo grau porque vamos usá-las na vida profissional. A maioria de nós não vai. Aprendemos porque elas são importantes para nos auxiliar a desenvolver o raciocínio lógico e abstrato e, assim, aprender mais.
Crianças e jovens precisam saber que estudar dá trabalho, mas também dá prazer. A alegria de conhecer coisas novas, de enxergar as questões por um lado que até então não víamos, de pensar com mais clareza porque conseguimos pôr nossas ideias de forma ordenada no papel. Alguma vez você já discutiu isso com seus alunos? Você já contou a eles como se dá a sua própria experiência de estudo? Talvez seja o momento de fazê-lo.
O desejo genuíno de estudar e aprender - e aí estamos falando de motivação - é mais profundo e permanente. Como diz o filósofo francês Bernard Charlot, que há três décadas estuda a relação que as pessoas estabelecem como o saber, aprender nos possibilita produzir sentidos para entender melhor o mundo e a vida.Esse prazer do estudo exige persistência. Mas, no fim das contas, é o que nos mantém motivados. Continue celebrando as boas notas dos seus alunos. Mas não deixe de comemorar quando ele ou ela, maravilhados, captarem alguma coisa que até então não compreendiam.
Rodrigo Ratier é repórter especial de NOVA ESCOLA e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP)
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