Marcas individuais
Educadora do Ano propõe que alunos do 2º ao 5º ano descubram como se expressar em auto-retratos
31/01/2008
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Jornalismo
31/01/2008
A criação é fruto de descobertas. Cada um tem seu jeito de fazer um traço, desenhar uma figura e usar o lápis de cor ou o pincel. Por isso, se expressar com arte é deixar uma marca pessoal no mundo. Para que os 500 alunos do 2º ao 5º ano da EE Ludovina Credídio Peixoto, em São Paulo, tivessem consciência da identidade que há nos desenhos e nas pinturas, a professora de Arte Paula Modenesi Ribeiro elaborou um projeto que os levou a fazer auto-retratos. Resultado: depois de três meses, os corredores da escola viraram uma galeria. As pinturas, exibidas com orgulho pelos estudantes, mostravam que cada um descobriu um modo de se revelar. Tanto que, pelos grafismos e jeitos de colorir, a professora conseguia identificar o dono de cada produção. Graças ao bom planejamento e aos objetivos alcançados, Paula conquistou o título de Educadora do Ano no Prêmio Victor Civita de 2007. O projeto, avaliado pela selecionadora Marisa Szpigel, você conhece em detalhes no quadro abaixo.
"Paula encara a arte como uma área de conhecimento e é atualizada", diz a coordenadora pedagógica da escola, Sílvia Helena Loli. Desde que se formou em Artes Plásticas (leia mais sobre ela no quadro abaixo), Paula fez questão de aliar os estudos teóricos ao ensino da disciplina. Como 2007 foi o primeiro de Paula na Ludovina Credídio Peixoto, ela precisava saber como os alunos se relacionavam com a arte. Para isso, ela propôs uma roda de conversa: "Descobri o repertório deles, o que já haviam produzido e anotei tudo em um diário". Aliás, o registro foi uma constante em seu trabalho, o que permitiu que ela avaliasse permanentemente as conquistas e planejasse com cuidado as intervenções necessárias.
Como pretendia trabalhar com autoretratos, ela escolheu uma artista famosa por se representar nas próprias telas (e que a garotada não conhecia): a mexicana Frida Kahlo (1907-1954). Ao mostrar reproduções que estão em livros e projetálas na parede, Paula contou sobre a vida da pintora, deixando claro que a arte foi uma maneira de ela exprimir sentimentos e pensamentos sobre a vida e o mundo. E isso todos podem fazer.
Quem é Paula
Paula Modenesi Ribeiro tem um amplo olhar sobre a sala de aula. Ela se formou em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, e deu aulas no Ensino Fundamental e Médio. No mesmo período em que fazia mestrado em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi dirigente regional de ensino na capital paulista. No ano passado, recém-chegada à EE Ludovina Credídio Peixoto, encarou seu maior desafio: ensinar cerca de 500 alunos do 2º ao 5º ano. Hoje, Paula também leciona na Faculdade de Pedagogia das Faculdades Metropolitanas Unidas, mas confessa: é apaixonada pelas crianças do Ensino Fundamental. Em casa, também está próxima dos pequenos. Casada, 36 anos, ela tem dois filhos preparados para fazer muita arte: Gabriel, 6 anos, e Bernardo, 5.
Símbolos e marcas
Para que compreendessem a relação entre Frida e os signos que ela representava, os estudantes recriaram uma das obras anteriormente mostradas. "Escolhi imagens que traduziam a dor da artista e os dramas pelos quais ela passou", explica.
Estabelecendo um paralelo entre a vida pessoal e a pintura, Paula levou a garotada a perceber os elementos gráficos e as cores utilizadas como marcas pessoais de Frida. A Educadora do Ano fez questão também de ressaltar que todos são capazes de criar figuras em suas produções e imprimir nelas personalidade artística. Além disso, destacou a simbologia presente nos elementos da obra e mostrou que a imagem pode ter vários significados. Numa atividade, as crianças tiveram de contornar uma das mãos e preenchê-la com elementos gráficos. Um garoto desenhou o pai, o irmão, ele mesmo, os bichos de estimação e uma porta. Do lado de fora, a mãe. Outro exercício introduziu a turma na produção de auto-retrato: o primeiro foi feito olhando no espelho. "Foi aí que todos perceberam que o desenho precisa ter expressividade, além dos elementos figurativos", diz Paula.
As turmas apreciaram ainda reproduções de pinturas da brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973) para conhecer características de outro artista. A análise levouas a pensar em como referências sociais, culturais e pessoais são reveladas nas criações. Esse é um dos motivos de, em arte, não existir o certo, pois cada um tem uma visão própria e uma maneira de mostrar essas influências. É comum, por exemplo, a criança querer apagar um traço que saiu "errado" no desenho. Quando isso acontece, Paula diz: "Pense no que você pode criar com base nele".
Palavra da especialista
Marisa Szpigel, selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, afirma que o grande mérito de Paula foi fazer com que os alunos criassem trabalhos que revelam marcas pessoais. "Ela conseguiu conhecer cada um observando seus trabalhos e fez com que eles mergulhassem na própria individualidade ao elaborar um projeto em que as crianças identificavam estratégias pessoais." A Educadora do Ano se destacou por se planejar, reorganizar o espaço com diferentes materiais e agrupamentos e provocar um envolvimento com o processo criador.
Mais expressividade
Como trabalhou o mesmo projeto com classes do 2º ao 5º ano, ela tomou o cuidado de adotar vários encaminhamentos para respeitar as necessidades das diferentes faixas etárias. "No 2º e 3º anos, contei com detalhes o que seria desenvolvido e o material a ser usado para que eles se acostumassem com um trabalho feito em etapas." Paula lembra que, ao observar os elementos das obras, os pequenos prestavam mais atenção nas cores, e os maiores, na expressividade dos olhos e da boca. Todos, porém, se surpreenderam ao folhear os livros de arte pela primeira vez -- e adoraram. A professora explicou que lá estavam as reproduções das telas, não as pinturas originais.
Paula questionou o significado das figuras, dos grafismos, das formas e das sensações para que os estudantes estabelecessem relações entre o que apreciavam e a realidade. Assim, ela ensinou que o auto-retrato não é apenas um rosto pintado na tela, mas o conjunto de figuras, cores e traços que caracteriza o artista, sua produção e o tempo em que viveu.
Com as marcas pessoais dos alunos mais evidentes, a professora registrou o que todos tinham de mais marcante nas produções e o que poderiam desenvolver. Assim, o salto na aprendizagem artística dos estudantes foi visível. A arte, como ela mesma diz, está em todos nós.
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Contatos
EE Ludovina Credídio Peixoto, R. Jesuíno Arruda, 205, 04530-000, São Paulo, SP, tel. (11) 3842-7353 Marisa Szpigel, zaszpigel@uol.com.br
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