Ana Maria Aragão comenta o caso da escola de São Caetano do Sul
A especialista em Educação moral conversa com NOVA ESCOLA sobre o episódio e aponta caminhos para lidar com a violência dentro da escola
23/09/2011
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Jornalismo
23/09/2011
A tarde da quarta-feira, 21 de setembro, parecia normal na sala de 4ª série da EM Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Até que todos foram surpreendidos quando um garoto entrou em sua sala de aula com um revólver nas mãos. O aluno de 10 anos atirou contra a professora e, em seguida, contra si mesmo. O ato extremo choca a sociedade por motivos que ultrapassam os muros da escola. Mas isso não significa que os casos de violência não devam ser discutidos com os estudantes e que os educadores não tenham um papel na formação de valores das crianças. Ana Maria Aragão, pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (GEPEM), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), fala nesta entrevista sobre a relação entre escola e comunidade no debate sobre conflitos. No que diz respeito a essa situação específica, a pesquisadora explica que é preciso conversar com as crianças sobre a fatalidade. ''Ninguém poderia prever o que ocorreu,'' afirma.
Casos de violência do aluno contra o professor estão mais comuns?
ANA MARIA ARAGÃO Não necessariamente. A diferença é que hoje tudo é divulgado muito mais rapidamente pela mídia. Sempre existiram conflitos na relação entre aluno e professor, como a agressão física e o assédio moral. O problema é que, apesar disso, os educadores não costumam fazer nenhum tipo de reflexão nas escolas sobre os valores por trás dos problemas. Quando surge um caso mais complicado, é muito comum que terceirizem a solução, encaminhando para outros setores aquilo que está dentro do ambiente escolar.
É possível estabelecer relações entre esse caso e o que ocorreu na EM Tasso da Silveira, no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro?
ANA MARIA Deve-se considerar o que aprendemos com a experiência na escola do Realengo para que os mesmos erros não sejam cometidos. É preciso ter cuidado para que a gente não generalize em cima das dificuldades que cada caso apresenta, criando estereótipos. Nessa situação de São Caetano do Sul, vale explicar para alunos que não é porque a criança é filha de policial que todos os filhos de policiais podem estar sujeitos a esse comportamento. Foi uma fatalidade e ninguém poderia prever o que ocorreu.
Quais razões podem levar uma criança de 10 anos a atirar contra a professora e contra si mesma?
ANA MARIA O aluno pode ter levado a arma e atirado por mil motivos. Ele pode ter ficado bravo por causa de uma nota ruim, pode ser apaixonado pela professora, pode ter sido desafiado por um colega... Não sabemos! Além disso, um menino de 10 anos é muito pequeno para ser considerado perverso. Podemos questionar o que ele sabia e se ele tinha consciência de seus atos. E também não devemos colocar a culpa na família ou na escola, mas buscar o que cada um pode ter a ver com uma situação dessas.
Que ações as escolas podem promover para prevenir, dentro do possível, situações de conflito?
ANA MARIA As escolas precisam estabelecer boas parcerias com a comunidade. Como instituições, em geral, elas têm deixado de cumprir esse papel. Não que isso possa evitar uma tragédia como essa, mas poderiam ser propostas conversas com alunos, equipe e família sobre os valores. É hora de refletir sobre o papel de cada um para melhorar as relações. Os conflitos precisam ser discutidos com base em um trabalho vinculado ao projeto político-pedagógico, e não como um mero detalhe administrativo.
Tragédia no Realengo
O massacre ocorrido na EM Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, em abril deste ano, comoveu a sociedade em todo o Brasil e no mundo. NOVA ESCOLA acompanhou a retomada de atividades e as medidas tomadas pela escola para ajudar todos - alunos, família e equipe - a superar o trauma. Confira a reportagem.
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