Quem cuida do professor?
Há uma série de iniciativas que podem ser propostas pelo diretor da escola para que haja maior atenção e cuidados com a saúde mental do professor. Conheça algumas delas
30/10/2019
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo Cadastre-se
Compartilhe:
Jornalismo
30/10/2019
Por mais que haja serviços públicos de atenção e promoção de saúde no país, nem sempre sobra tempo para que os professores se cuidem como gostariam. É comum também que as filas de espera para determinados atendimentos sejam bastante longas. Além disso, por passarem a maior parte do tempo no ambiente do trabalho, é importante que existam ações concretas e bem estruturadas para os cuidados específicos desses profissionais na escola.
Some-se a isso o fato de que o Brasil lidera o índice de violência contra professores e onde, de acordo com dados da pesquisa de NOVA ESCOLA sobre a saúde do educador brasileiro, 87% desses profissionais acreditam que seus problemas de saúde são ocasionados ou intensificados pelo trabalho, como diretores podem promover ações em suas escolas para melhorar a saúde mental dos professores? Conheça algumas ações que podem ser incorporadas na escola.
LEIA MAIS Solidão do professor: está na hora de compartilhar
Apoiar o professor deve ser compreendido como algo amplo. Acolher o professor significa ter um olhar atento a esse profissional, ver como ele está e reservar tempo para conversas individuais e coletivas.
O objetivo dessas conversas é propiciar acolhimento para que o professor possa falar sobre o momento que está vivendo e para que o diretor possa entender como oferecer apoio. O diretor pode abrir espaço para que o professor ajude a pensar em projetos e iniciativas que caibam naquele contexto. As discussões coletivas podem ser por meio de rodas de conversa, nas quais um tema central, texto ou questão disparadora dá início a uma troca cujo objetivo é ter a participação de todos os presentes – de modo que todos possam ouvir com atenção e também ter espaço de fala. Momentos assim propiciam maior engajamento entre a equipe, permitem o compartilhamento de boas práticas e são um convite para que novas ideias surjam de forma mais livre e espontânea.
LEIA MAIS Depressão: reconhecer a própria dor é o primeiro passo
Uma das competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) refere-se ao Autoconhecimento e Autocuidado. Implica em conhecer-se, compreender-se na diversidade humana e apreciar-se para cuidar da própria saúde física e emocional, reconhecer as próprias emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. Uma vez que tal competência deverá fazer parte da vida escolar dos estudantes, é importante que seja também desenvolvida nos professores. Quais serão as estratégias da escola para que os professores trabalhem essa competência em si próprios?
LEIA MAIS Burnout entre professores: precisamos falar mais sobre isso
Como nem toda escola possui um psicólogo que possa ajudar a estruturar projetos internos e que esteja disponível para atender alunos, seus familiares e também os professores, é interessante que haja uma parceria com redes de apoio que possuem profissionais de saúde. Psiquiatras, assistentes sociais e psicólogos podem ser acionados quando houver necessidade – tanto para os cuidados com o professor, como para o encaminhamento e acompanhamento de alunos. Além disso, podem auxiliar na estruturação de projetos para a escola relacionados à saúde mental e emocional a partir das demandas específicas daquele ambiente. Podem surgir, por exemplo, projetos relacionados à depressão, à cultura de paz, ao fortalecimento da autoestima e a técnicas de Comunicação Não-Violenta (CNV).
Frequentemente, a preocupação com a saúde surge apenas quando o professor começa a sentir prejuízos pessoais e sociais. Mas essa é uma questão que pode ser trabalhada de forma preventiva, inclusive com resultados mais positivos para todos. O aprendizado contínuo sobre saúde mental e bem-estar também cria a base para uma estrutura que sustenta a importância desse tema na escola. Graças à internet, há muita informação disponível sobre saúde mental. Entretanto, faltam informações confiáveis e indicações de medidas de promoção e prevenção de saúde que possam ser aplicadas à escola. A escola, portanto, pode se apoiar nos profissionais citados para saber como lidar com questões de menor complexidade que, inclusive, se não cuidadas, podem se encaminhar para situações de alta complexidade.
LEIA MAIS A vítima do bullying é o professor. E agora?
Garantir que todo professor da escola tenha um mentor – um professor mais experiente – para orientá-lo e ajudá-lo a refletir sobre o dia a dia da profissão é uma medida eficaz para diminuir a solidão e o estresse, propiciar compartilhamento, trazer valorização profissional, garantir uma forma de desenvolvimento profissional contínuo e maior preparo para a prática.
Saúde mental é o conjunto de habilidades que temos para manter o bem-estar emocional. Tais habilidades são garantidas também pelo contexto social no qual se está inserido, incluindo o ambiente familiar, de trabalho, o círculo social e, é claro, as contingências econômicas e políticas que afetam o professor. É mais que urgente que haja políticas públicas mais sérias voltadas à união entre Educação e Saúde e à valorização do profissional, garantindo o avanço em condições de trabalho e plano de carreira.
As questões relacionadas à saúde mental têm aumentado significativamente no país e no mundo e há peculiaridades na profissão do educador. Ser professor é sinônimo de lidar com o desenvolvimento humano e não há nada mais complexo e desafiador que essa tarefa. Somado a isso, o Brasil possui hoje deficiências em todas as etapas da carreira do professor – atração, currículo, formação – além do profissional lidar com salas de aula superlotadas, falta de tempo, solidão, pressão e culpabilização por diversas questões enfrentadas pelos alunos. Portanto, enquanto país, devemos pensar que ser professor é uma carreira que exige cuidado e se o professor não está bem, como melhoraremos a Edução em nível nacional?
Ana Carolina C D'Agostini é psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP, especialização em psicologia pela Universidade Federal de São Paulo e mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University. Trabalha com projetos em competências socioemocionais e é consultora do projeto de Saúde Emocional da Nova Escola.
Últimas notícias
Coordenação pedagógica
Formação continuada: apoie a equipe para colocar em prática a Aprendizagem Baseada em Projetos
Confira roteiro formativo para preparar os professores e conheça experiências e sugestões de especialistas e de quem já utiliza essa metodologia ativa
Gêneros textuais
Como utilizar gêneros digitais para estudar os clássicos da literatura
Educadora faz reflexão da importância de explorar textos literários na escola e compartilha caminhos para engajar alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental.
Educação Infantil
Como avaliar as vivências e as aprendizagens das crianças
Observação e escuta atentas são pontos-chave para compreender de maneira efetiva o que a turma já sabe
Recomposição de aprendizagens
Áreas do conhecimento: os desafios da interdisciplinaridade no Novo Ensino Médio
Em roda de conversa, especialistas debatem como as equipes pedagógicas podem se organizar para implementar as mudanças
Educação infantil
Brincadeiras musicais e cantadas: possibilidades e sugestões para a Educação Infantil
Propostas que exploram a musicalidade propiciam experiências ricas de aprendizagem para as crianças. Educadoras contam como estruturá-las na rotina escolar