Brincar é mais que aprender
A brincadeira é uma experiência essencial, um modo de decidir como percorrer a própria vida com responsabilidade
01/08/2007
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo Cadastre-se
Compartilhe:
Jornalismo
01/08/2007
Lino de Macedo | Brincar é mais que aprender, é uma experiência essencial, um modo de decidir como percorrer a própria vida com responsabilidade. (Crédito: Karine Basilio)
Para as crianças, o brincar e o jogar são modos de aprender e se desenvolver. Não importa que não saibam disso. Ao fazer essas atividades, elas vivem experiências fundamentais. Daí porque se interessam em repeti-las e representá-las até criarem ou aceitarem regras que possibilitem compartilhar com colegas e brincar e jogar em espaços e tempos combinados.
Por que jogar e brincar pede a repetição? Esses desafios encantam pelo prazer funcional de sua realização. Mesmo que se cansem, as crianças querem (esperam) continuar jogando e brincando. Há um afeto perceptivo, ou seja, algo que agrada ao corpo e ao pensamento. Até o medo e a dor ficam suportáveis, interessantes, porque fazem sentido. Por isso, trata-se de uma experiência que pede repetição por tudo aquilo que representa ou mobiliza. Graças a isso, aprendemos a identificar informações ou qualidades nas coisas ou em nós mesmos - para reconhecer coisas agradáveis e desagradáveis e, assim, variar as experiências e combiná-las das mais variadas formas.
Por que jogar e brincar são formas de representação? Uma das conseqüências maravilhosas, nesse contexto de repetir, variar, recombinar e inventar, é poder criar representações. Quando brincam de casinha, as crianças vivem a experiência de reconstruir o cotidiano e simbolizar a vida. Graças a isso, podem suportar ou compreender os tempos que a mãe, por exemplo, fica longe delas. Representar, mesmo num contexto de faz-de-conta, supõe envolvimento. O representado não está fisicamente aqui, mas simbolicamente sim. Envolver-se é relacionar-se com as coisas de muitos modos. E inventar situações mediadas por pensamentos e histórias construídos na brincadeira. É estar entre, fora, longe, perto, acima, abaixo, é construir simbolicamente um modo de imitar, jogar, sonhar, comunicar e falar com o mundo, inventando uma história nos limites das possibilidades e necessidades.
No primeiro ano de vida, a criança aprende a distinguir entre um sugar que alimenta (o seio) e um sugar que não alimenta (no vazio ou aplicado a um objeto). Graças a isso, pode continuar sugando pelo prazer. A partir do segundo ano, ela aprende a representar, a substituir as coisas pelos sons ou gestos que lhes correspondem. Mas, igualmente, aprende a usar as representações para simbolizar, isto é, recriar a seu modo as coisas e pessoas que lhe são caras. Aprende a jogar ou brincar com a realidade, para representá-la. No processo de desenvolvimento, essas transformações separam sua vida em antes e depois.
Por que jogar e brincar pede formas organizadas de expressão? Para repetir e fazer de conta basta uma pessoa. Mas, ao se desenvolver, a criança não quer só brincar de - ela quer brincar com. Jogos sempre foram experiências de troca. Daí a importância de estabelecer contratos, fixar limites de espaço e tempo, definir objetivos. Realizar um percurso é uma das brincadeiras preferidas das crianças. Mesmo que não saibam, elas estão representando e se preparando para repetir outro percurso que nos foi concedido ao nascer. Percorrer a vida é a tarefa, o problema ou o desejo de todos nós. Não escolhemos a vida, mas devemos escolher os modos de vivê-la. O caminho percorrido não volta. O caminho a percorrer deve ser decidido aqui e agora. Nos jogos, é possível repetir e criar regras, errar e começar de novo. Graças a isso, o outro percurso ganha sentido e passa a ser vivido com mais liberdade e responsabilidade.
Lino de Macedo é professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Últimas notícias
Gêneros textuais
Como utilizar gêneros digitais para estudar os clássicos da literatura
Educadora faz reflexão da importância de explorar textos literários na escola e compartilha caminhos para engajar alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental.
Educação Infantil
Como avaliar as vivências e as aprendizagens das crianças
Observação e escuta atentas são pontos-chave para compreender de maneira efetiva o que a turma já sabe
Recomposição de aprendizagens
Novo Ensino Médio favorece a interdisciplinaridade e desenvolvimento de aprendizagens mais significativas
Reportagem em vídeo retrata como as mudanças na etapa já estão presentes no dia a dia de escola em São Bernardo do Campo (SP)
Alfabetização matemática
Matemática: a Geometria da Arte
Veja exemplos de obras que permitem abordar as figuras e padrões geométricos, as posições e a simetria.
Alfabetização
Gênero textuais para usar na alfabetização
Entenda como escolher os textos que serão usados em sala de aula e veja três sugestões para explorar o campo de atuação da vida cotidiana